Aplicação de ozônio no reto da população brasileira surpreende o mundo
Outro dia estava no escritório de casa, internet aberta a partir das 9 da manhã, sondando o humor da opinião pública. Todo dia procuro nas redes inspiração para escrever sobre o mais importante e ignorado bioma do planeta, sem o qual não haveria vida na Terra. Não pense que é fácil. A mídia tupiniquim enfraquecida pela desleal concorrência, sofre para manter qualidade e originalidade, e mal cobre Brasília. Resta a do exterior. Para saber dos problemas ambientais comuns da humanidade é fácil, dos locais, nem tanto. Mas armei uma rede com ‘amigos’ em quem acredito, além de dezenas de instituições de pesquisa, ciência, e afins. No meio das postagens aparece de tudo, até quem defenda Aplicação de ozônio no reto da população brasileira (post de opinião).
Quando li pela primeira vez, nem levei a sério. Avaliei como piada de algum ‘influenciador’.
Influenciador?
Isso! ‘Influenciador’ é uma das novas profissões saídas do bojo do sistema que deu voz à legião de imbecis de que falava Umberto Eco. E me dei conta sobre o quanto a lucidez faz falta!
Aplicação de ozônio no reto da população brasileira
Apesar do Nino, meu shih tzu com complexo de são bernardo sempre rosnando e latindo para cães com o triplo do tamanho, sugerir que não perdesse tempo com bobagens, me vi pasmo diante da manchete ‘Pazuello recebe defensores de aplicação retal de ozônio para tratar covid-19’.
Será que o general se perfilou e bateu continência?
Sem entender o que significava, ainda sonolento, não dei bola até dar de cara com Pesquisa com aplicação retal de ozônio em pacientes de Covid-19 terá 150 voluntários.
Foi uma confusão dos diabos. Lembrei que no início da praga que já matou 100 mil brasileiros, quando era pouco conhecida, os estoques de papel higiênico sumiram dos supermercados. Algum gaiato perguntou nas redes sociais se era vírus de gripe ou diarréia, disso lembro bem, e o Nino confirma. Depois do choque refleti.
Primeiro falta papel higiênico, depois sugerem aplicação retal afinal, a pandemia é de quê, demência?
Depois dos impostos escorchantes, agora querem nosso reto?
A coisa é séria. Mesmo 150 pessoas sendo minoria ínfima em meio a 210 milhões, são 150 que decidem ceder seu reto de bom grado para um aloprado enfiar cloroquina… como?
Que foi, Nino?
Pare de latir, cacilda!
Sorry…
Nino, ao meu lado, percebeu o erro e se manifestou. “Não é cloroquina,” latiu, “este remédio, pelo que diz o Jair, é bom pra tigrada e as emas do palácio seu burro. O ozônio é que vai no seu reto, dãããrrrm!”
‘Ah, bom’…respondi sem graça pro cachorrinho que abanou o rabo.
Tá calor, não? No mesmo dia dia perguntei ao Ricardo Galvão se está relacionado ao aquecimento global. Nino dormia enquanto rolava a entrevista, Galvão explicou tranquilamente.
Por 40 minutos meu reto foi poupado. Mas eu sabia que era questão de tempo. Acabou a entrevista, voltei às redes para encarar a dura realidade, Médico lamenta piadas e destaca importância da aplicação de ozônio pelo ânus para tratamento da COVID-19.
Pronto! Lá se vai meu reto de novo.
E e fosse o seu Nino, você gostaria de tomar ozônio no ânus?, disparei pro quadrúpede.
Esperto, ele fez que não era com ele e foi latir no jardim. Voltei às redes sociais para refugar perante Prefeito de Itajaí sugere aplicação retal de ozônio para tratar covid-19.
O que vai no vosso reto? Melhor se preparar
Assustado com o tratamento, tratei de me informar. Seria algo….de qual calibre?, tomei coragem e perguntei ao oráculo Google. Ufa, é coisa leve. O prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni (MDB), que pretende que a população brasileira ceda o reto tranquilizou a todos.
Garantiu que a penetração seria ‘tranquila’, ainda bem sô! E disse que “nós vamos ser autorizados a ter um laboratório de ozônio. Já estamos definindo o local e providenciando os aparelhos.”
Aparelhos? Peraí, to fora. Aparelhos não! Prefiro fazer sauna e tomar uma piscina de vodka. Dá no mesmo e ninguém tem que dar o reto.
Enquanto o devaneio povoava minha mente, sentia um calor danado…
Uma papa gelada ao redor de meu corpo
Acordei suando. A cama molhada. Uma papa gelada ao redor de meu corpo, enquanto minha mulher ao lado perguntava incisiva: “que aparelhos, João? Acorde, que aparelhos são estes?
Seria pesadelo ou realidade? De pronto percebi uma realidade trágica.
Ana, não é só ozônio…O cara quer enfiar um coquetel diabólico em nosso reto! (além da ivermectina, da azitromicina, da cânfora, nós também vamos oferecer o ozônio. É uma aplicação simples, rápida, de dois minutos, com um cateter fininho e isso dá um resultado excelente).
Se fosse só ozônio…
Assim não dá…olha, se fosse só ozônio com cateter fininho, vá lá. Mas cânfora, não. E o cara ainda promete enfiar ivermectina e azitromicina! Só se for no reto dele. No meu não entra nem a cânfora!
E com a maior cara-de-pau, escondida pela máscara salvadora que o piloto de jet sky diz ser ‘coisa de viado’, o prefeito afirma que ‘são só dez seções’. De mais ou menos, ‘dois minutos cada uma’.
Ignorante em matemática desde que me disseram na escola que ‘x + y é igual a z’, nem ousei calcular o que isso representa para mais de 200 milhões de pessoas.
Mas falei: ou ele não preza o próprio reto, ou sou eu um ‘ecoterrorista’ ao recusar ceder o meu?
Ao ouvir isso, Nino latiu freneticamente, satisfeito e orgulhoso pela decisão do macho alfa.
Atordoado, mas feliz pela decisão irrevogável, voltei a dormir. Sonhei com os tristes trópicos chacoalhados por uma família que se trata por números. Bom… é melhor que ‘elemento’, tentei me consolar.
E acordei no Brasil do ministro Paulo Guedes, o melhor que temos, que afirma semanalmente: ‘O Brasil vai surpreender o mundo’.
Pudera. Enfiando cânfora, ozônio, ivermectina e azitromicina (seja lá o que sejam) no reto da população, como não surpreender o mundo?
P.S
100 mil mortes não é momento para troça. Publicamos este post porque não se trata de troça, mas a dramática realidade descoberta por um País perplexo pelo mau exemplo diário do primeiro mandatário e família.
Aquele que diz ‘não ser coveiro’ ao ser inquirido sobre a pandemia. Seu mau exemplo faz brotar pelos rincões nem sempre tão ‘rincões’ assim de Pindorama, ideias estapafúrdias como a do prefeito Volnei Morastoni do MDB.
A intenção é lembrar a importância da escolha na hora da eleição que mais uma vez se aproxima. Mire-se nestes exemplos e faça sua parte.
Já basta o último pleito. Recuse tomar no reto outra vez. Eleição é coisa séria.
Cerca de 57 milhões de pessoas escolheram na boa fé um cidadão que, soube-se depois, estava enrolado com rachadinhas, milícias e que tais, mas que também tinha no currículo 26 anos de ociosidade no Congresso.
Era uma pista evidente da mediocridade desconsiderada pela maioria. Uma pena. Resignados, aceitamos o resultado das urnas, mas não abrimos mão do direito da crítica. O surreal mito que nos envergonha também é passível delas pelos 60% a 70% dos brasileiros que se recusam a tomar no reto calados.
O médico (!?) Volnei Morastoni do MDB
E o prefeito médico (!?), formado na Universidade Federal do Paraná, a despeito da ousadia de demonstrar sua estupidez publicamente, foi eleito com 38.613 votos, ou 36,62% do eleitorado de Itajaí, sexto município mais populoso do Estado de Santa Catarina.
No início e julho, segundo o portal UOL, o celerado jogou fora algo em torno de R$ 4 milhões de reais dos cofres públicos, leia-se nossos impostos, para combater a covid-19 comprando 3 milhões de doses de ivermectina, fármaco usado no tratamento de vários tipos de infestações por parasitas. Entre elas a infestação por piolhos, sarna, oncocercose, etc.
Duas semanas depois, segundo o UOL, ‘o número de óbitos em decorrência do novo coronavírus aumentou cerca de 58%, saltando de 45 para 71 mortes entre 7 e 21 de julho’ (Até 4 de agosto, segundo a mesma fonte, ‘ Itajaí somava 105 óbitos e 3.648 diagnósticos da doença’).
Pense bem sobre isso. Agora o desequilibrado propõe aplicação de ozônio no reto. Deveria ser enxotado da vida pública.
Graças ao despreparo de parte significativa de nossos políticos, o Brasil está se tornando um circo de horrores.
Dê o troco nas próxmas eleições!
Assista ao vídeo e qualifique como puder
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Imagem de abertura:https://pt.iliveok.com/
Fontes: https://oglobo.globo.com/sociedade/pesquisa-com-aplicacao-retal-de-ozonio-em-pacientes-de-covid-19-tera-150-voluntarios-24573951;https://www.cartacapital.com.br/saude/ministro-da-saude-se-reune-com-defensores-do-uso-de-ozonio-no-reto-contra-a-covid-19/; https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/08/06/interna_gerais,1173643/medico-lamenta-piadas-importancia-aplicacao-de-ozonio-reto-coronavirus.shtml; https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/08/2020/prefeito-de-itajai-sugere-aplicacao-retal-de-ozonio-para-tratar-covid-19; https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/07/08/cidade-de-sc-inicia-distribuicao-de-doses-de-ivermectina-para-moradores.htm.
Desmatamento, queimadas, aquecimento global, com Ricardo Galvão
Seria muito ozônio ou pouco ozônio?
muito bom! Diria que foi papo reto.
Parabéns pelo texto e pelo humor afiado. Um bálsamo de lucidez em meio à pandemia da alienação, da fraude e do divisionismo. Infelizmente, assim como em boa parte do mundo, a começar pelos Estados Unidos, vivemos uma distopia, uma utopia às avessas. É preciso manter mínima lucidez e persistir. Parabéns novamente.
Sempre admirei o Millôr Fernandes como o maior FILÓSOFO brasileiro – isso mesmo, FILÓSOFO – mas agora lendo seus textos, João Lara Mesquita, vejo-o como o mais brilhante aluno e digno sucessor dele.
Onde está a democracia? O Estadão censura os comentários que não lhe convém, ainda que respeitosos. A liberdade de imprensa para o Estadão é uma via de mão única!
Todos os comentários que nada acrescentam ao tema, se não opiniões pessoais não embasadas, não entram. Zelo pelo público que me privilegia com sua preferência. E tem mais: qualquer palavra imprópria, de ‘baixo calão’, não entra também. Este site é frequentado por centenas de jovens em idade escolar para pesquisas.
Por fim, também são vetados todos e quaisquer comentários que acirrem a divisão social manipulada, primeiro por Lula do PT e seus asseclas, posteriormente anabolizada por Bolsonaro e seguidores.
E antes que me esqueça, o Estadão é uma empresa da qual sou um dos quinze acionistas. Não tenho cargo na empresa desde 2003. Já este site é de mina inteira responsabilidade, e de mais ninguém. E aqui fake news não tem chance.
muito bom João, como vc disse o assunto é muito sério e urgente, porém há uma certa classe de pessoas que ainda não entenderam a gravidade ……o mundo está em alerta mas para alguns , aqui no Brasil (liderados por um capitão de araque) continuam com idéias CRETINAS!!!!!!!
Sensacional este texto, como é bom ler algo tão bem escrito, tenho inveja de quem é tão culto e leve como este autor
E se o reto não for tão reto assim?
Excelente!, simplesmente assim. Parabéns pela crítica pertinente, pela escrita, pelo humor. Mar Sem Fim na luta além dos “limites” a que seu título pode conotar.
Que texto!
Texto de mau gosto. E preconceituoso
O artigo é sério, mas é hilário! bem escrito, uma crítica sempre bem inteligente!
João:você se superou! Seria mesmo cômico…Um afago na cabecinha do Nino
Pimenta no reto dos outros é refresco !!
Texto muito bem escrito, com português afiado. Parabéns! Como faz falta ler algo bem escrito no jornalismo de hoje em dia. #partiulivros
E isso que sobra para o provão sempre. Tomar no “C”
Esse médico é filhote e rebrote do bolsonarismo. Não poderia dar em outra coisa a não ser o reto.
Seria comico se não fosse trágico.
discordo que o imbecil do ano seja o prefeito de Itajaí, o imbecil do ano é aquele que quer que o povo tome cloroquina e se não tomar ele vai dar para as emas do palácio da Alvorada.
Pior do que 100 mil mortos é viver este momento com uma nação ultrajada por um sociopata liberticida, incapaz de demonstrar empatia pelo povo que deveria liderar e que ainda encontra apoio em cerca de 30% dessa mesma população, atestando o tamanho da devastação que a ignorância é capaz de produzir.
Nardelli 100%