Aliança verde europeia, saída para a crise do coronavírus
Alguns estão chamando de Aliança Europeia para uma Recuperação Verde. Outros chamam de Green Deal (Acordo Verde) Europeu de crescimento sustentável. O nome é o que menos importa. A iniciativa recém-criada é relevante e importante. Mesmo em um momento em que quase todas as nações do planeta, incluindo as europeias, batalham contra um inimigo invisível chamado novo coronavírus. A ideia da Aliança verde europeia é não deixar que o mundo se esqueça de uma guerra ainda maior que também precisa ser vencida: a crise climática. O que é melhor nessa iniciativa é que ela busca articular estratégias para que a saída dos países europeus da crise econômica causada pela covid-19 seja por meio de investimentos em projetos sustentáveis. E com proteção da biodiversidade.
O movimento é muito bem-vindo, especialmente agora em que os negacionistas do clima estão mais a postos. E já se utilizam da pandemia para tentar afrouxar ainda mais as poucas medidas existentes de combate ao aquecimento global. Além de tentar frear os poucos avanços conquistados nos últimos anos. Também porque poucos ousam citar que pandemias como a do novo coronavírus podem ser resultados da degradação ambiental causada pela própria humanidade.
A Aliança Europeia para uma Recuperação Verde é formada por nomes de peso do cenário europeu. O grupo está propondo que a saída para a crise econômica no velho continente seja pautada no investimento maciço em princípios ambientais. Investimentos em projetos sustentáveis que tornem a Europa o primeiro continente neutro em carbono até a metade deste século.
Aliança verde europeia: investimento de meio trilhão de euros
O manifesto, lançado em 14 de abril de 2020, se soma a uma carta assinada por líderes europeus em março deste ano. No documento, eles se comprometem a adotar um foco verde como estratégia para encontrar soluções de reaquecimento econômico. Segundo a agência de notícias Bloomberg, os líderes do bloco devem se reunir até o final de abril para discutir “medidas no valor de mais de meio trilhão de euros (US$ 550 bilhões) para ajudar a mitigar o impacto econômico da pandemia”.
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O jornal espanhol e a Bloomberg afirmam que, entre os nomes, estão diretores-executivos de empresas como L’Oréal, Volvo, Danone, Ikea, Enel, EON, Unilever e Iberdrola. Além de representantes de ONGs ambientais como WWF, Birdlife e Rede de Ação Climática (conhecida pela sigla em inglês CAN).
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Aliança verde europeia, resposta econômica coordenada
O movimento assume que o principal problema agora é o combate à covid-19. É prioridade. E “deve ser feito tudo o que for necessário para deter e erradicar o vírus”. “Mas, olhando para as consequências econômicas da covid-19, explicam que a Europa deve dar ‘uma forte resposta econômica coordenada’ para superar um golpe mais duro que o da crise de 2008. A forma de dar essa resposta, segundo o documento, é realizar ‘investimentos maciços’ que deverão ‘desencadear um novo modelo econômico europeu’ que gire em torno de ‘princípios ecológicos’”, disse o El País.
Aliança verde europeia: redução de gases de efeito estufa
O objetivo de carbono zero ou neutro considera, obviamente, a redução drástica de emissões de gases de efeito estufa, ao menos como estima o Acordo de Paris. Eles são os principais responsáveis pelo aquecimento global, que causa a crise climática. E a transição para uma economia verde na Europa, e que preserve a biodiversidade, deverá envolver redução das emissões em variados e importantes setores produtivos. A começar pela agricultura, passando pelos transportes até a produção de energia. De longe, os principais emissores.
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Tundra do Ártico emite mais carbono do que absorveVanuatu leva falha global em emissões à HaiaO plâncton ‘não sobreviverá às mudanças do clima’“Embora países europeus ainda precisem se unir no combate à pandemia, a recuperação futura oferecerá à região a chance de desenvolver um novo modelo de prosperidade”, disse a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze, à Bloomberg. Ela está entre os signatários da iniciativa.
Medidas devem gerar empregos e crescimento
Os signatários acreditam que, quando implementadas, as medidas podem “gerar rapidamente emprego e crescimento”. Além, claro, de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. A Aliança Europeia para uma Recuperação Verde “lembra (ainda) que a transformação rumo a uma economia verde não é um caminho que tenha de ser iniciado do zero agora, porque na última década ocorreram importantes avanços: ‘Dez anos atrás, os veículos sem emissão de poluentes eram apenas protótipos. A energia eólica era três vezes mais cara do que é hoje e a energia solar, sete vezes mais’”.
“‘A vontade política está aqui’, disseram os signatários, no comunicado. ‘Já temos os planos e a estratégia. Projetos como o Green Deal Europeu e outros planos nacionais de desenvolvimento de carbono zero têm enorme potencial para recuperar nossa economia e contribuir para um novo modelo de prosperidade.”
Crise climática tem solução e é lucrativa
Se há vontade política, como afirmam os signatários, o movimento da Aliança verde europeia tem muito mais chances de prosperar. Mar Sem Fim já mostrou que existem dezenas de soluções para a crise climática. E todas são mais lucrativas do que manter o setor produtivo com os atuais meios e métodos de produção. Um exemplo são as soluções propostas pelo Projeto Drawdown e publicadas em um livro, de 2017. Mais vendido na lista do The New York Times naquele ano, a publicação oferece 100 soluções, entre as mais substanciais, para o aquecimento global. E foi revisada e atualizada em 2020.
Denominado Drawdown Review, a revisão mostra que seriam necessários gastos entre US$ 23 trilhões e US$ 26 trilhões em todo o mundo. Dinheiro a ser investido em soluções para se cumprir as metas do Acordo de Paris. No entanto, esse investimento pode gerar economias e ganhos até cinco vezes maiores.
Economias de até US$ 143,5 trilhões
“Argumentos infundados sobre a inviabilidade econômica de ações contra a crise climática persistem, mas são evidentemente falsos. O Projeto Drawdown analisa as implicações financeiras das soluções: quanto dinheiro uma determinada solução custará, ou economizará, quando comparada com a tecnologia ou prática do status quo que ela substitui? Essa análise financeira considera a implementação inicial de uma solução, bem como o uso ou operação dessa solução ao longo do tempo”, explica a publicação.
“No geral, as economias operacionais líquidas excedem os custos líquidos de implementação quatro a cinco vezes: um custo inicial de US$ 23,4-26,2 trilhões versus US$ 96,4-143,5 trilhões economizados. Se considerarmos o valor monetário dos cobenefícios (por exemplo, menos gastos com assistência médica por causa da redução da poluição do ar) e danos climáticos evitados (por exemplo, perdas agrícolas), o caso financeiro se torna ainda mais forte”, enfatiza. E assegura que não existe uma justificativa econômica para não se implantar planos de redução de emissões.
Cenários para as metas do Acordo de Paris
Com destaque no site Yale Climate Connections, iniciativa da Escola de Estudos Florestais e Ambientais da Universidade de Yale (EUA), a revisão aponta dois panoramas possíveis para a redução das emissões. No primeiro cenário, prevê soluções para atender à meta do Acordo de Paris de temperatura abaixo de 2°C, quando comparada à da época pré-industrial. Nesse cenário, a meta de redução é alcançada na década de 2060. Já no segundo panorama, as temperaturas globais devem ficar abaixo de 1,5°C, também como pede o Acordo de Paris. Com esse cenário mais ambicioso, a redução de carbono seria alcançada na década de 2040.
O Drawdown Review considera investimentos, economias e lucros com a implantação de soluções que incluem desde a troca de lâmpadas menos eficientes por LEDs. Passando por equipamentos e edifícios mais eficientes em consumo de energia. Até a redução sistemática do uso de energia gerada por usinas termoelétricas e outras fontes mais poluidoras. Trocadas por fontes mais limpas, como eólica e fotovoltaica.
“Esse cenário (o segundo) prevê que a parcela da eletricidade global proveniente do vento cresça seis vezes, passando de 4,4% hoje para 27% até 2050. E fazendas solares explodindo de pouco mais de 1% hoje para 25% em 2050. No primeiro cenário, cada um forneceria cerca de 20% de eletricidade global até 2050.”
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Desperdício de alimentos custa US$ 1 trilhão
O levantamento, realizado por cientistas de várias partes do mundo, ainda prevê economias com a implantação de soluções para a redução no desperdício de alimentos. Ele custa hoje à economia global cerca de US$ 1 trilhão. Além de responder por 10% das emissões globais. Sugere ainda uma mudança na dieta. “Cerca de um quinto das emissões globais de gases de efeito estufa provém dos alimentos que ingerimos. Como Drawdown afirmou, “se o gado fosse sua própria nação, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa do mundo” (Saiba mais sobre o consumo de carne de gado e o aquecimento). Mudar para dietas vegetais pode, assim, reduzir significativamente as emissões e, ao mesmo tempo, melhorar a saúde pública.”
Como soluções para reduzir as emissões, a publicação destaca ainda a substituição dos gases refrigerantes de aparelhos de ar-condicionado e geladeiras. A restauração de florestas degradadas, além do cessar dos desmatamentos. O uso cada vez maior de veículos elétricos também está entre as 100 soluções. E destaca que a economia estimada não inclui os gastos menores com saúde pública, entre outros, que a redução das emissões pode proporcionar.
Imagem de abertura: https://medium.com/
Fontes: https://brasil.elpais.com/internacional/2020-04-15/nasce-alianca-europeia-para-defender-uma-saida-verde-para-a-crise-economica-do-coronavirus.html; https://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2020/04/14/ceos-europeus-e-ministros-lancam-campanha-para-recuperacao-verde.htm; https://www.yaleclimateconnections.org/2020/03/aggressive-action-to-address-climate-change-could-save-the-world-145-trillion/; https://drawdown.org/; https://drawdown.org/sites/default/files/pdfs/Drawdown_Review_2020_march10.pdf
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