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Velejadores na travessia da Passagem do Noroeste

Velejadores na travessia da Passagem do Noroeste

A procura pela Passagem do Noroeste começou ainda no século 15. Aos poucos, tornou-se uma rota polar mítica. No passado sua importância econômica, ao diminuir a distância entre a Europa e a Ásia, foi a chave que a fez almejada. Assim, dezenas de notáveis marinheiros morreram à sua procura no Ártico. Finalmente, o caminho foi desvendado no início do século 20 por Roald Amundsen, experiente explorador norueguês. Contudo, até hoje a passagem não está aberta comercialmente. Apenas em ocasiões especiais, e em razão do aquecimento global que diminui o gelo da calota polar. Entretanto, dois velejadores esportivos estão lá neste exato momento experimentando as dificuldades da navegação na região. A expedição Rota Polar, de Beto Pandiane e Igor Bely. O Mar Sem Fim conversou com a dupla. Velejadores na travessia da Passagem do Noroeste.

velejadores na travessia da passagem do noroeste
O igloo na rota polar. Imagem, Rota Polar.

Uma entrevista a partir da Passagem do Noroeste

Para começar, Beto Pandiane é paulista, tem 64 anos e sua profissão é velejar. Em 1989 sagrou-se campeão norte-americano de Hobiecat 16.

Tuktoyaktuk, norte do Canadá, acima do Círculo Polar, de onde Betão e Igor partiram para a travessia. O destino final é a Groenlândia.

Desde então, fez outras seis vitoriosas expedições sempre em pequenos catamarãs. Entre elas uma travessia do Pacífico; assim como a Travessia do Drake em 2003, de Ushuaia, até a Antártica, já com Igor Bely como companheiro.

Igor, 38 anos é francês,  formado em engenharia mecânica e matemática. Apesar disso, decidiu-se pela náutica. Filho de um notável casal de velejadores, Sophie e Oleg Bely, participou de mais de 40 expedições a regiões polares no Norte e no Sul. Como resultado, tem cerca de 300 mil milhas navegadas. Por último, é capitão do  veleiro Kotic que igualmente é sua casa.

Expedição Rota Polar – Explorando a Passagem do Noroeste

Eles pretendem concluir a rota polar com cerca de 2.500 milhas em 100 dias. A passagem é uma área de estreitos, por séculos congelada. Finalmente, nos últimos 25 anos o degelo começou a abri-la. Alguns pesquisadores preveem que, a partir da metade do século 21, o Ártico corre o risco de não ter mais gelo durante os verões.

Beto Pandiane e Igor Bely. Imagem, Rota Polar.

Logo, Beto e Igor querem entender em que medida essa transformação é causada pelo homem ou, da mesma forma, uma ação da natureza. Entre os objetivos da travessia está a produção de um documentário.

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A entrevista com os velejadores Beto Pandiane e Igor Bely

O Mar Sem fim conversou com ambos desde a Passagem do Noroeste. As perguntas foram enviadas via WhatsApp e respondidas em 3 de agosto, ‘em meio a uma calmaria quando o Igloo navegava a 2,4 nós’ mas não à força do vento, e sim com a tripulação pedalando.

Enquanto Igor descansa na cabine Betão comanda o Igloo.

A ideia original era sair de Nome, Alasca, à beira do Atlântico Norte, e concluir a travessia na Groenlândia. Por uma série de motivos acabaram partindo em 19 de julho da cidade canadense de Tuktoyaktuk, norte do Canadá, onde tiveram que esperar três semanas para o gelo se abrir.

Desde então navegam rumo leste. Até o momento percorreram 700 milhas, cerca de um terço da travessia até a Groenlândia. Entretanto, nada é muito fácil nesta região. Entre as dificuldades, muita neblina, chuva, frio, até mesmo o inesperado calor, além de problemas técnicos que sempre ocorrem em viagens do tipo. Felizmente, todos superados até mesmo a queda do mastro do Igloo.

O ponto vermelho assinala Cambridge Bay onde devem chegar em 5 de agosto.

No dia em que chegaram as respostas, Betão e Igor estavam a dois dias de distância de Cambridge Bay, onde farão reparos no barco para poderem enfrentar com mais segurança o que consideram a ‘etapa mais delicada’ da travessia. Betão e Igor esperam encontrar mais gelo no caminho, ao mesmo tempo em que não terão mais claridade 24 horas por dia como até agora.

Mudanças climáticas

Segundo Igor, ‘tema está na boca de todos por aqui’. Não é para menos. O Ártico esquenta ao dobro da taxa média do resto do planeta de acordo com cientistas. Igor diz que a situação é claramente percebida pelos inuits com quem têm se encontrado. E completa: ‘em alguns casos percebemos que para eles é uma situação desesperante’.

Em Tuktoyaktuk, onde tiveram que esperar o gelo se abrir, ‘pegamos temperaturas de 25ºC e vimos como o permafrost  está derretendo. Permafrost são solos permanentemente congelados com grandes depósitos de metano. Isto assusta os cientistas, sobretudo porque é um gás ainda mais poderoso que o CO2.

O Igloo debaixo de vento forte.

Enquanto isso, diz, ‘tudo está mudando’. Os Inuits dizem que a situação alterou o comportamento dos animais e até mesmo a frequência e intensidade das tempestades’.

‘A cidade está afundando. Já existe um plano para mudá-la para local mais alto no máximo dentro de 30 anos’.

Navios de turismo

Em razão da diminuição do gelo da calota polar, a dupla tem cruzado com navios de turismo que também navegam a mesma rota. Além deles, apenas lanchas rápidas usadas pelos Inuits na pesca, passeios ou para a caça da beluga’. Enquanto velejam pelos canais, diz Igor, é possível ver nas margens antigos veleiros de madeira que hoje apodrecem abandonados’.

Hora do descanso.

Betão conta que estudou profundamente a região e a rota, ‘mas sempre a realidade é muito diferente’. Passou anos estudando a passagem através do Google, livros, e filmes. No momento da entrevista o pequeno Igloo estava com um tripulante a mais, o cinegrafista Alexandre Socci, especializado em esportes de aventura e documentarista.

‘Um aperto danado com um labirinto de gelo à nossa proa’

‘De um modo geral’, diz Betão, ‘pegamos tudo que era possível desde a saída’. Entre outros, ventos fortes, ondas curtas, calmarias, vento médio, além  de muito frio’.

E, agora, pra que lado navegar? Imagem, Rota Polar.

Para ele o segundo dia da viagem ‘foi um aperto danado com um labirinto de gelo à nossa proa’.

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A partir de Cambridge Bay

Betão se preocupa com o que terá pela frente a partir de Cambridge Bay, ‘com muito mais gelo pela frente’. Nos primeiros dias o clima estava tão quente que viram inuits nadando e até mesmo esquiando. ‘Pensei ter chegado em lugar errado, com nuvens de mosquitos infestando a atmosfera’. E completa: ‘Foi um choque, estava muito quente’.

Betão estudou a expedição de John Franklin no século 19, organizada pala Marinha Britânica  que resultou no maior desastre da história das viagens ao Ártico. Ninguém sobreviveu, 129 pessoas mortas por pneumonia, fome, frio, além de escorbuto.

Mas, como a dupla tinha ido para o Sul, por que não para o Norte? ‘De um modo geral eu sabia que neste primeiro trecho a paisagem seria mais monótona, com terras baixas e sem grandes contrastes. Porém, depois dos primeiros dias o cenário  começou a surpreender.

Do mesmo modo, diz, ‘os inuits são extremamente carinhosos, sempre sorridentes e amáveis’. ‘Imagine você que na latitude de 68º Norte há muito verde!’

Inuits dão as boas vindas a Betão Pandiane.

Contudo, ‘jovens e adultos têm problemas com álcool. Assim, ‘há uma certa delinquência entre os jovens que, entretanto, não chega a nos preocupar’.

Acompanhe a viagem pelo site rotapolar.com.br

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