São Paulo naufraga por incúria de ex-governadores
O Estado de São Paulo, o mais rico do País, começou a naufragar em 6 de março de 2001 quando Geraldo Alckmin assumiu seu primeiro governo. Do mesmo modo, o PSDB iniciava sua derrocada, cujo final foi a eleição de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Porém, antes tivemos Franco Montoro, entre 1983 e 1987, seguido por um bis de Mário Covas, 1999 e 2003. Em tempos modernos, estes dois últimos foram os melhores governadores. Sérios, engajados e, de certa forma, visionários com a questão ambiental. Montoro tombou a Serra do Mar, um gesto eloquente seguido por José Richa no Paraná. Mário Covas adotou como programa de governo a despoluição do rio Tietê. Depois destes ícones, houve um vácuo até o governo José Serra entre 2007 e 2010. Em seguida, São Paulo entrou numa espiral da qual ainda não saiu.
A questão ambiental e os governos paulistas: Franco Montoro
Franco Montoro comprou uma tremenda briga com o Governo Federal então chefiado pelo General Figueiredo.
De um lado os militares, na outra ponta, idealistas que mais tarde seriam conhecidos como ‘ambientalistas’. Os primeiros, através da NUCLEBRÁS, queriam implantar duas usinas nucleares: Iguape 4 e Iguape 5. A área também estava em disputa pelo setor imobiliário na figura da empresa Gomes de Almeida Fernandes.
A Gomes de Almeida estava de olho na beleza da região, e suas lindas praias ainda virgens, pronta para implantar os famigerados condomínios e loteamentos que tanto estragam nosso litoral. No meio deles, espremidos, os idealistas. A beleza da história é que foram estes os ganhadores da peleja.
Assim, o Governo de Franco Montoro cria em 1986 a Estação Ecológica que englobou a área da Reserva Estadual Itatins (1958). Um ano depois, em 87, foi finalmente implantada a Estação Ecológica Jureia-Itatins através da Lei/Estadual 5.649/87.
É oportuno relembrar o passado num momento dramático como o que vivemos. O aquecimento do planeta, desconsiderado pelo poder público, cobra um preço altíssimo na forma de mortes de centenas de desvalidos todos os anos. Enquanto isso, o prejuízo para a infraestrutura é impagável para um País emergente. Por isso é positivo lembrar que, no passado, não foi sempre assim.
Governo Mário Covas, 1995 -2001
Antes de mais nada, o secretário de Meio Ambiente era um dos mais notáveis ambientalistas do País, Fábio Feldmann. Alguém sabe quem foi o último secretário paulista, ou mesmo o atual? Pois é, sem o oráculo Google, poucos sabem dizer.
Covas assumiu no momento em que a campanha pela despoluição do Tietê mobilizava a população. Um abaixo-assinado pedindo a despoluição do rio rodava por escolas, faculdades, empresas de todos os tipos, e até mesmo no setor público.
Em pouquíssimo tempo chegamos a um milhão e duzentas mil assinaturas, cerca de dez por cento da população à época. Mário Covas, que acabava de assumir o governo do Estado, não teve dúvidas: uma de suas metas seria iniciar o Projeto Tietê. Ele foi tão bem encaminhado que hoje está em sua quarta etapa, e ganhou até mesmo verbete no Wikipedia.
O corajoso Projeto Tietê
Em 1992, inicio do projeto, 70% do esgoto residencial da Região Metropolitana de São Paulo era coletado e apenas 24% (17% do total) passava por tratamento. Em 2017, 87% do esgoto era coletado e 59% do total era tratado na Grande São Paulo, segundo a Sabesp.
Segundo dados da SOS Mata Atlântica, a mancha de poluição (onde a oxigenação da água é de praticamente 0%), diminuiu de 400 quilômetros no início do projeto para 130 km em 2017, entre as cidades de Itaquaquecetuba e Cabreúva. No entanto, em 2014 ela estava contida em 71 km. Em 2015, a Sabesp diminuiu o investimento na despoluição do rio e a mancha mais do que dobrou. Em 2016, o investimento caiu novamente. Quem eram os governadores em 2014 e 2016? O ‘Picolé de Chuchu’.
Não é preciso dizer mais nada. Depois dele, entre 2019 e 2022, assumiu o lustroso João Doria, também conhecido como ‘Coxinha’. Para nós, do Mar Sem Fim, a gestão Doria do ponto de vista ambiental foi mais que fraca, foi ruim. Ainda em 2019 publicamos o post João Doria Jr. e Bruno Covas estão à altura de SP?
Mais adiante, em 2020, publicamos Governo Doria ameaça Fundação Florestal confirmando descaso. Não foram os únicos posts protestando quanto ao descaso com o meio ambiente. No mesmo ano publicamos São Paulo naufragou por omissão do poder público.
Neste post registramos que ‘o problema das enchentes é tão recorrente como a polarização nos dias de hoje, a primeira data de 1929! Há nada menos que 91 anos as enchentes atormentam os paulistanos, e outros.’
Aquecimento global menosprezado pelo poder público
Este é o verdadeiro problema. O poder público no País não leva a sério os sinais do aquecimento global, muito menos os seguidos alertas da academia. Há mais de dez anos este site publica posts repercutindo pesquisas da academia, do Brasil e do exterior, sobre os dramáticos problemas que nossos políticos parecem ignorar: o aquecimento global e seus efeitos sobre cidades. Inclusive e especialmente, os altos custos dos eventos extremos, algo entre R$ 180 bi até R$ 355 bi em apenas 10 anos no Brasil, segundo a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O parágrafo acima foi tirado do post São Paulo naufragou por omissão do poder público, publicado três anos atrás. Mas é atualíssimo até hoje. Encerramos o subtítulo com…’Mas ninguém dá pelota. Ou melhor, os de Brasília demonizam e negam; os ‘progressistas’ de São Paulo menosprezam, e não dão ao fenômeno o peso que merecia. São Paulo naufragou por omissão, a despeito da quantidade de água em 24 horas.
Campanhas do Estado ou do município
Agora perguntamos a você, leitor: Diga, quando foi que você viu alguma campanha do Estado, ou do município, sobre os eventos extremos, respostas da natureza aos maus tratos impostos, e o que os cidadãos devem e podem fazer para mitigar seus incomensuráveis problemas; quando?
Enquanto isso, João Doria assustava pelo incabível açodamento ao afirmar que ‘vai despoluir o Pinheiros até 2022′ e criar uma Cancún brasileira, ops, quer dizer, uma “Puerto Madero’ na Usina da Traição…Em 12 de fevereiro, O Estado de S. Paulo afirmou em manchete: “Estado reduz à metade gasto com limpeza do Tietê”, e no corpo do texto, explicou, “em 2019 as ações de limpeza e desassoreamento do rio Tietê, que transbordou em 16 pontos, caíram à metade.”
Três anos depois, o que aconteceu nesta semana? Mais uma vez, a resposta da natureza aos maus tratos por nós infligidos, em outras palavras, eventos extremos, o novo normal que só nossos gestores políticos não veem. Para não falar na tragédia do carnaval quando, mais uma vez por incúria, 65 pessoas morreram soterradas no litoral norte.
Está na hora de pararmos de brincar com fogo. Oxalá o novo governador, Tarcísio de Freitas, que começou muito bem tomando o comando à frente da tragédia, mude esta lógica perversa. Não há outro caminho que não sejam fortes investimentos para mitigar o aquecimento global e muita informação na forma de campanhas sistemáticas para a população.