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Processo contra Vale, STJ confirma: só negros e pobres vão pra cadeia

Processo contra Vale volta à estaca zero, mesmo com 270 mortes, mil dias depois da tragédia

É inacreditável como conseguimos nos superar. O Brasil está atolado na merda. A fedentina exala dos três poderes; podres, corporativos, obscenos.  Mil dias depois da tragédia que matou 270 pessoas, decretou a morte de um rio, o Paraopeba, e destruiu  Brumadinho em 25 de janeiro de 2019, ninguém foi punido! Pior: por decisão  do STJ, que retirou o caso da Justiça de Minas Gerais, o processo contra a Vale volta à estaca zero.

Imagem de estoura da barragem da Vale
O momento do estouro da barragem. Segundos depois 270 pessoas estavam soterradas pela lama. E nada aconteceu!

Tragédia em Brumadinho: devastadora e pré-anunciada

A tragédia em Brumadinho é o maior  acidente do mundo entre mineradoras, em número de mortes. Comoveu o País. Mas, rigorosamente nada aconteceu aos responsáveis.

Vamos recordar que antes de matar quase três centenas de pessoas de uma só vez, em 5 de novembro de 2015 a Vale soterrou outras 19 pessoas, destruiu distritos mineiros, e exterminou outro curso d’água, o rio Doce, quando veio abaixo a barragem do Fundão, em Mariana.

Só? Antes fosse! Há um terceiro e desleixado acidente na ‘carreira’ da Vale.  Como aconteceu no mar, e ninguém morreu, pouca gente se lembra. Mas foi o terceiro acidente ecológico em que a mineradora esteve envolvida num curto espaço de tempo.

O terceiro acidente envolvendo a Vale

Em fevereiro de 2020, o navio Stellar Banner, fretado pela Vale, havia saído do terminal de Ponta da Madeira, porto de Itaqui, Maranhão, e pretendia tomar o rumo da China onde entregaria sua carga de 294,8 mil toneladas de minério de ferro (da Vale…).

Até hoje não se sabe como ou por que, mas o fato é que o navio saiu da rota demarcada de entrada e saída do porto, encalhou, e acabou sendo afundado com toda a carga em mais um episódio poluidor no maltratado litoral do País.

A Vale sequer se desculpou, ou deu qualquer explicação à opinião pública!

Ex-presidente da Vale, e seus comparsas, deviam estar na cadeia

Agora, com a imoral decisão do STJ, o ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman e mais 15 funcionários da mineradora e da empresa de consultoria fajuta TÜV SÜD, que deveriam estar na cadeia, deixaram de ser réus por obra de nossa inacreditável justiça (com minúscula porque não merece mais que isso).

A extinção do processo contra a Vale

Em 19 de outubro de 2021, o STJ decidiu pela extinção do processo criminal que corria no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O Tribunal de Minas tinha aceitado denúncia do MP do Estado em 2020 e tornado 16 pessoas em réus.

Indignação! Vergonha do STJ. Imagem Reprodução

Todo o caso volta à estaca zero, numa afronta à opinião pública, parentes e amigos dos quase 300 mortos pela negligência irresponsável da mineradora.

O caso agora passa para a 9ª Vara Federal de Belo Horizonte, depois que o STJ aceitou argumento da defesa do ex-presidente da empresa porque, veja a canalhice, ‘a tragédia afetou sítios arqueológicos que são de responsabilidade da União’ (logo, não poderiam ser julgados pela justiça do Estado…).

Além deste detalhe infame perante as mortes e a destruição provocadas pela empresa, os advogados do ex-presidente da companhia alegam que ‘a acusação do MP de irregularidades em documentos enviados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) também é de âmbito federal’.

O Ministério Público de Minas Gerais vai recorrer contra este escárnio.

No Brasil só negros e pobres vão pra cadeia

Esta é uma verdade nojenta mas, mais uma vez, confirmada pelo STJ. Não há palavras fortes o suficiente para qualificar a Justiça brasileira. O massacre de 270 inocentes, a destruição de uma cidade, sua economia,  parte de seus habitantes e seus sonhos, não merece punição!

Pior que isso é o comodismo nacional. Houve muito pouca cobertura da grande imprensa sobre esta decisão que nos humilha e envergonha, e quase nenhuma reação do público com exceção de parte dos mineiros.

Para nós, o comodismo é ainda pior que a decisão do  STJ. Não é possível aceitar tanta acomodação!

Repúdio contra a aberração do STJ

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina do Feijão, de Brumadinho (Avabrum), repudiam com veemência a anulação da denúncia oferecida pelo MP de Minas Gerais.

Joceli Andrioli, da coordenação do MAB, falou ao site redebrasilatual: “Fomos surpreendidos por uma decisão do STJ que retira a decisão do julgamento daqui de Minas Gerais e leva para a esfera federal. Estamos muito preocupados porque sabemos que é uma estratégia da Vale para ficar impune. A Vale tenta se safar do crime que causou a morte de 272 pessoas e destruiu a bacia do rio Paraopeba.”

Júri Popular em Brumadinho

Joseli, com toda a razão, foi além:  “Queremos o júri popular aqui em Brumadinho, que é o lugar correto para fazer o julgamento. E pela primeira vez, talvez, prender esses criminosos, para que crimes como esses não voltem a acontecer nem em Minas Gerais nem no Brasil.”

Felizmente, como assinala a mesma fonte, ‘apesar da anulação do recebimento da denúncia, a decisão do STJ não invalida a investigação que foi conduzida pelo Ministério Público mineiro, que poderá, aliás, ser inteiramente aproveitada’.

Em momentos assim, este escriba sente-se profundamente envergonhado de ser brasileiro. Lamentável decisão que confirma que aqui só negros e pobres pegam cadeia.

Ricos pagam advogados caríssimos e, mesmo trucidando  centenas de inocentes por pura indolência, gozam a vida livres, leves e soltos.

A Justiça brasileira, como Auschwitz, é a mais eficiente fábrica de extermínio de esperança: depreda a expectativa de um País mais digno e melhor.


Imagem de abertura: Reprodução

Fontes: https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2021/10/brumadinho-vitimas-exigem-retorno-do-processo-da-vale-a-justica-de-mg/; https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/19/brumadinho-ex-presidente-da-vale-e-outras-15-pessoas-indiciadas-por-homicidio-doloso-deixam-de-ser-reus.ghtml.

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