Pesca da tainha, tradição centenária se renova a cada ano
A prática da pesca da tainha no Brasil é do tempo em que aqui ainda não havia chegado nenhum europeu. Uma tradição indígena que se renova ano após ano. A primeira descrição deste tipo de pesca data do século 16.
Hans Staden, em 1557, descreve a pesca da tainha
“Além disso têm pequenas redes (referindo-se aos Tupinambás). O fio com que a emalham obtêm-nos de folhas longas e pontudas que chamam tucum. Quando querem pescar com estas redes, juntam-se alguns deles e colocam-se em círculos na água rasa, de modo que a cada um cabe determinado pedaço da rede. Vão então uns poucos no centro da roda e batem nágua. Se algum peixe quer fugir para o fundo, fica preso na rede. Aquele que apanha muito peixe reparte com os outros que pescam pouco.”
Eis a primeira descrição da pesca da tainha por Hans Staden, mítico personagem histórico de nosso litoral. O alemão viera ao Brasil e trabalhava com artilheiro no forte de Bertioga quando foi preso pelos Tupinambás, cujo chefe Cunhabebe morava na região de Ilha Grande (RJ). Staden passou alguns anos preso. E descreveu suas atividades cotidianas. Até hoje a pesca é feita nesta base.
Conheça a tainha
O site oceana Brasil explica o ciclo de vida. “A tainha (Mugil liza) tem um ciclo de vida que a torna particularmente frágil à pesca intensa. Depois de viver seu primeiro ano no mar, ela entra nos estuários e lagoas costeiras, onde cresce até 4 a 6 anos, quando atinge a idade adulta.”
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De onde vêm as tainhas pescadas no Brasil
Segundo a Oceana, “O estoque sul desta espécie migra anualmente de estuários na Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul, no Brasil, podendo chegar até o Espírito Santo, dependendo das condições climáticas.”
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Mas os estoques no País estão sobrexplorados. Todos os anos temos uma batalha jurídica. Pode-se ou não, pescar a tainha? Em 2019 não foi diferente. O site www.nsctotal.com.br explica. “Em 2017, a ONG Oceana apresentou um levantamento do estoque de tainhas e a proposta do sistema de cotas, usado em boa parte do mundo para controlar as capturas.”
“O governo federal adotou o sistema pela primeira vez na safra de 2018. Mas houve problemas no controle de capturas da pesca industrial porque a pescaria foi muito intensa e rápida. Os próprios armadores suspenderam a safra, antes do governo, ao perceberem que haviam extrapolado a cota. Pescaram 114% além do que poderiam.”
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A explicação é do gazetadopovo.com.br. “Um dos motivos que explicam o grandeza da tainha para os catarinenses é a forma como o peixe é capturado. Em Florianópolis, as comunidades tradicionais pesqueiras se unem nos meses do outono e inverno. A pesca da tainha exige trabalho coletivo. Em maio começou a montagem dos ranchos nas praias, autorizados pela prefeitura.”
“Em um ponto alto, um integrante dos grupos de pescadores, conhecido como vigia, fica responsável por monitorar a aproximação dos cardumes. Ao avistar a chegada das tainhas, ele avisa seus companheiros por rádio. Estes, se apressam em colocar as canoas na água e jogar a enorme rede de arrasto. A última etapa envolve duas equipes, que precisam puxar a rede em pontos diferentes até a areia.”
Laguna dos Patos, local de criação das Tainhas
Cerca de 80% da pesca da tainha é realizada em Santa Catarina onde ela é considerada Patrimônio Cultural. Os cardumes saem da Laguna dos Patos, no Rio Grande do Sul, especialmente quando venta de sul. Uma curiosidade da tainha é que ela nada sempre a favor das correntes, daí a importância do vento sul que faz com que os cardumes subam a costa brasileira, rentes à ela, onde procuram estuários com águas mais quentes para entrar.
Ali desovam e voltam ao mar. A safra de 2019 teve início em 1º de maio (pescadores artesanais). E cerco e traineiras, a partir de 1º de junho. Só em Santa Catarina há 13 mil pescadores de tainha.
Pesca da tainha em números no Brasil
A Oceana é quem explica: “O Brasil tem uma das maiores pescarias de tainha do mundo. Ela é responsável pela mobilização de uma frota industrial de traineiras e frotas de média escala como o emalhe anilhado, além de milhares de pescadores artesanais em todas as regiões das lagoas e estuários da planície costeira dos estados das regiões Sul e Sudeste. Do ano 2000 até 2015, os desembarques totais registrados de tainha desde São Paulo até o Rio Grande do Sul variaram de 2 a 13 mil toneladas/ano de peixe fresco para consumo interno.”
“De 2007 a 2013, essa pescaria produziu entre 170 e 600 toneladas/ano de ovas (botarga) e moelas de tainha processadas para exportação, sendo responsável pela movimentação de algo entre 3,5 e 10 milhões de dólares, anualmente.”
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A Folha de S. Paulo, em matéria de junho de 2018, diz que “há relatos de até 25 mil tainhas pescadas em apenas uma ação em anos anteriores.”
Safra 2019
A temporada foi fraca. Segundo o www.nsctotal.com.br, “pescadores do Litoral catarinense estão apreensivos. Até o momento foram capturadas 9,5 toneladas do peixe, segundo a Federação de Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesc).”
“Isso é pouco perto da expectativa de pesca para este ano, que é de 2 mil toneladas. No mesmo período do ano passado, havia sido capturadas 520 toneladas de tainha. Segundo os pescadores, ainda não esfriou o suficiente, nem ventou sul forte, para que as tainhas subam a costa.”
‘Vão então uns poucos no centro da roda e batem nágua’
Desde a descrição de Hans Staden no século16, até hoje é assim. Veja as fotos que fiz em Arraial do Cabo (2015), em mais uma viagem pela costa brasileira.
O pescador usa o remo como porrete.
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E bate com força n’água. “Se algum peixe quer fugir para o fundo, fica preso na rede”. E uma última curiosidade sobre este tipo de pesca. Em Cananéia, litoral sul de São Paulo, flagrei um pescador de tainha ajudado por um golfinho, uma incrível interação entre o homem e os mamíferos marinhos.
Safra da tainha 2020
A Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesc), informou que, ao fim do mês de maio, 557 toneladas de tainhas formam capturadas. A a expectativa é capturar entre 1,8 mil e 2 mil toneladas em 2020.
E, convenhamos, tainha assada é uma das coisas deliciosas que o mar nos dá.
Assista ao vídeo da pesca da tainha e saiba mais.
Fontes – Livro: Hans Staden, Duas Viagens ao Brasil, Ed. Universidade de São paulo. Virtuais: https://brasil.oceana.org/pt-br/protegendo-tainha/tainha-caracteristicas-biologicas-e-vulnerabilidades; https://www.nsctotal.com.br/noticias/safra-da-tainha-comeca-nesta-quarta-feira-com-a-pesca-artesanal-no-litoral-catarinense; https://brasil.oceana.org/pt-br/pesca-da-tainha-informacoes-que-voce-precisa-saber; https://www1.folha.uol.com.br/turismo/2018/06/regras-e-crendices-protegem-pesca-da-tainha-em-bombinhas-sc.shtml; https://www.nsctotal.com.br/noticias/pesca-artesanal-da-tainha-continua-fraca-apos-mais-de-um-mes-do-inicio-da-safra-em-sc; https://www.nsctotal.com.br/noticias/pesca-da-tainha-em-santa-catarina-ultrapassa-500-toneladas-em-maio?fbclid=IwAR3ML4HUNT6OzU18S6R8w4abs-Ufx35X6MtY5nIncz8WEAKD5MCnuRWM05w.