Ondas gigantes devastam a costa norte do Peru
A Marinha do Peru havia alertado sobre as ondas gigantes, que atingiram até 4 metros, na costa norte do país até a fronteira com o Equador, na sexta-feira, 27 de dezembro. No entanto, a magnitude surpreendeu. De acordo com o Página 12, o fenômeno incomum afetou as regiões de Piura e Tumbes, levando ao fechamento de 91 dos 121 portos (de pesca) da costa norte e central, até 1º de janeiro. Dezenas de vídeos chocantes circularam nas redes sociais, e pelo menos uma pessoa morreu no Equador. O chefe de hidrografia e navegação da Marinha do Peru, Enrique Varea, atribuiu o fenômeno a ‘ventos persistentes na superfície do mar na costa dos Estados Unidos’.
Em partes do Peru, molhes e praças públicas foram submersos, levando os moradores a fugir para terrenos mais altos.
Praias fechadas e barcos pesqueiros destruídos
Autoridades decidiram fechar muitas praias nos trechos centrais e do norte do país para proteger vidas humanas. As perigosas condições também danificaram dezenas de barcos de pesca. Os que escaparam continuam impossibilitados de operar. A France 24 relatou que a Marinha resgatou 31 pescadores presos no swell no sábado à tarde, enquanto um deles afirmou à rádio local que cerca de 180 ainda permaneciam no mar.
‘Não há mais suprimentos, não há água. Nossos irmãos e irmãs estão praticamente à deriva’.
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Enormes ondas também foram vistas colidindo com a costa central do Chile em Vina del Mar, provocando alertas das autoridades. Callao, que fica ao lado da capital Lima e abriga o maior porto do Peru, fechou várias praias e proibiu os turistas e os barcos de pesca de se aventurar. O prefeito do distrito de La Cruz, Roberto Carrillo Zavala, disse à AFP:
‘Há um grande problema, os mais afetados foram os pescadores. Esperamos que nada mais aconteça, pois isso afetaria significativamente a economia’.
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O Instituto Peruano de Economia informa que a indústria de extração e pesca gera 1,5% do PIB do Peru. Quando se considera o efeito indireto, por meio das cadeias interindustriais, o impacto alcança 2,5% do PIB.
O Peru se destaca como um dos maiores exportadores de farinha e óleo de peixe. Em 2024, segundo o World Population Review, o país produziu um total de 6,7 milhões de toneladas (de pescado), com apenas 150 mil toneladas provenientes da aquicultura.
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A Zona Econômica Exclusiva do Chile é favorecida pelo fenômeno da ressurgência, um dos maiores do mundo, que traz água fria das profundidades, e ricas em nutrientes, para a superfície. Segundo a National Geographic, ‘uma região de 25.900 quilômetros quadrados na costa oeste do Peru é afetada pela ressurgência. Desse modo, está entre as áreas de pesca mais ricas do mundo. No geral, as regiões de alta produtividade cobrem apenas 1% da área total dos oceanos, mas fornecem cerca de 50% da colheita de peixes do mundo’.
Motivos do fenômeno
Procurei explicações para a formação das ondas gigantes. Contudo, não encontrei nada além do lacônico ‘ventos persistentes na superfície do mar na costa dos Estados Unidos’.
Sem a opinião de um especialista, arrisco afirmar que a formação das ondas pode estar ligada não apenas aos “ventos persistentes na superfície do mar na costa dos Estados Unidos”, mas também ao fato de esses ventos terem gerado ondas em direção oposta à Corrente de Humboldt, que percorre o Pacífico ao longo da América do Sul no sentido sul-norte.
A Corrente de Humboldt é uma corrente de água fria que sai da Antártida e sobe através da costa oeste da América do Sul, fornecendo água rica em nutrientes. Sua riqueza faz dela um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, apoiando a maior pesca do mundo e permitindo que certas espécies de pinguins prosperem no equador.
O mapa abaixo, publicado no Journal of Marine Science, mostra ainda que durante o período de La Niña, que mais uma vez vivemos, acirra as condições ‘provocando ventos de Sueste mais fortes e frequentes’.
Tudo que é ruim pode piorar
Por fim, como tudo que é ruim pode piorar, o governo peruano decretou estado de emergência após um vazamento de petróleo atingir o mar em Cabo Blanco. A medida busca recuperar a área afetada e garantir a segurança da população. De acordo com a Petroperú, grande parte da limpeza já foi concluída, restando ações para mitigar os impactos na fauna e no comércio local. O acidente ocorreu durante o carregamento de petróleo em um navio, mas a causa do vazamento ainda não foi esclarecida.
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