New York Times pede fim da mineração submarina
Pode parecer um paradoxo pedir o fim de algo que não começou. Contudo, é melhor ser contundente agora que depois. Esta ‘terra de ninguém’ é a responsável por gerar a vida na Terra. Vamos lembrar que até hoje não encontraram um planeta com a quantidade de água em forma líquida como a existente no nosso. Contudo, a despeito dos inúmeros benefícios que os oceanos nos proporcionam, cismamos em maltratá-lo com requintes de perversidade: poluição brutal, acidificação, sobrepesca, águas mais quentes, consequentemente, 25% das espécies marinhas em risco de extinção. Agora, novo desafio para o qual o maior jornal do mundo abriu suas páginas em, A Rush to Mine the Deep Sea Is Underway. It Must Be Stopped (Uma corrida para minerar o mar profundo está em andamento. Deve ser interrompido), um ensaio de opinião assinado por Diva Amon, uma notável bióloga marinha. New York Times pede fim da mineração submarina.
‘O fundo do mar é um tesouro de biodiversidade’
Em primeiro lugar, até pouco tempo atrás pensava-se que o fundo abissal dos oceanos fosse um deserto de vida inanimada. Como é possível que a vida floresça num local que sofre pressão descomunal, e onde a luz não chega? Do mesmo modo supunha-se, antigamente, que a vida marinha era infinita.
São mitos que a ciência desmoralizou. Diva Amon, que tem como trabalho mergulhar em grandes profundidades, afirma que ‘O fundo do mar é um tesouro de biodiversidade, rico em recursos vivos usados em medicamentos, crítico na regulação do clima, e fornecendo áreas de desova e alimentação para os peixes. O planeta não seria o mesmo sem ele.’
‘O oceano pode ser a próxima fronteira para a mineração’
Amon alerta que ‘Uma organização obscura, mas importante, formada sob o tratado da Lei do Mar das Nações Unidas está finalizando os regulamentos para atividades de mineração em mais de 40% da superfície do planeta.’
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O papel de Nauru
Nauru é um minúsculo país insular do Pacífico Sul. O microestado tem uma área total de apenas 21 km² e uma linha costeira total de 30 km. Desse modo, é o sétimo menor país do mundo com uma população de pouco mais de 12 mil habitantes.
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Segundo o haikai magazine, ‘Os nauruanos sofreram um legado de extração destrutiva. Assim, como muitas outras pequenas nações do Pacífico, Nauru foi devastada pelas potências coloniais. Com o tempo, Alemanha, Grã-Bretanha, Austrália, Nova Zelândia e Japão despojaram o país de ouro branco (Guano, formado por excrementos de aves usado como fertilizante), ou fosfatos, deixando grandes extensões de terra inabitáveis com paisagens lunares de pináculos brancos.’
‘Além disso, os cerca de 12.000 habitantes aglomeram-se ao longo da costa, a única terra fértil que resta, e ameaçada pela erosão e pelas mudanças climáticas. Por mais de um milênio, aves marinhas nidificantes buscaram refúgio em Nauru e garantiram a riqueza de fosfato, entretanto agora elas não vêm com tanta frequência.’
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Assim, dois anos atrás o minúsculo país acionou a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, ou ISA, com um prazo curto para finalizar as regras para a mineração no mar profundo. É sobre este perigo que fala Diva Amon.
Nauru, subsidiária de uma empresa canadense, a Metals Company
‘Nauru, uma das menores nações do mundo, é patrocinadora da Nauru Ocean Resources Inc, uma subsidiária de uma empresa canadense, a Metals Company. Essa empresa quer explorar partes de uma região conhecida como Clarion-Clipperton Zone, entre o Havaí e o México, em busca de nódulos polimetálicos.’
‘Esses nódulos, explica Amon, contêm muitos dos metais básicos agora necessários para fabricar baterias, e a Metals Company diz que eles oferecem “o caminho mais limpo para os veículos elétricos”.
‘Assim, a ação de Nauru poderia abrir grande parte do alto mar para a mineração, alterando permanentemente vastas e quase intocadas áreas do oceano.’
A articulista demonstra que o lobby das mineradoras é forte: ‘Algumas empresas de mineração de águas profundas argumentam que extrair minerais como cobre, níquel e cobalto do fundo do oceano é mais sustentável do que extraí-los de minas terrestres. Mas a pouca ciência independente que existe para apoiar suas reivindicações é contestada.’
‘Liderei uma equipe de 30 outros cientistas de todo o mundo em um estudo abrangente publicado na revista Marine Policy no ano passado, que descobriu que “existem poucas categorias de conhecimento científico publicamente disponíveis abrangentes o suficiente para permitir a tomada de decisões baseadas em evidências em relação à gestão ambiental” da mineração em alto mar.’
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Os riscos da mineração
‘Há igualmente um crescente corpo de evidências de que a mineração de centenas de milhares de quilômetros quadrados do fundo do oceano pode causar danos irreversíveis à saúde dos oceanos.’
‘Assim, enormes máquinas seriam enviadas para o fundo do oceano para raspar minerais – e tudo em seu caminho – criando plumas de sedimentos que se espalhariam por muitos quilômetros nas águas circundantes e emitindo ruído e luz que perturbam os ecossistemas escuros e silenciosos nas profundezas, em outras palavras, mares que levaram eras para se desenvolver.’
Adiamento da mineração submarina
Depois de elencar outros problemas, a autora diz que ‘Mais de 700 especialistas oceânicos assinaram uma declaração pedindo o adiamento da mineração em alto mar. Algumas grandes empresas e bancos prometeram apoio semelhante ou criaram políticas que excluem o financiamento da mineração em alto mar. E 12 países pediram uma moratória na mineração, com a França indo além e pressionando por uma proibição total.
Diva Amon encerra com um chamamento: ‘Felizmente, não é tarde demais para os governos interromperem essa corrida antes que ela comece. Mais países devem intensificar e dizer que não aprovarão a mineração em alto mar, a menos e até que haja pesquisa científica suficiente sobre os riscos potenciais e regulamentos fortes possam ser implementados para proteger esses ecossistemas ocultos, mas de vital importância. Uma vez que uma moratória está em vigor, os países podem levar algum tempo para avaliar se realmente precisamos explorar o oceano profundo.’
Em tempo: O Brasil participa deste debate e já pediu direito de estudar e, possivelmente, explorar a Elevação do Rio Grande.