Negligência com a baía de Guanabara favoreceu acidente na ponte Rio-Niterói
Segunda-feira, 14 de novembro de 2022, previsão de tempo do Inmet, um órgão do governo. O site alertava sobre Riscos Potenciais para a região desde cedo: ‘INMET publica aviso iniciando em 14/11/2022, 09:20. Chuva entre 30 e 60 mm/h ou 50 e 100 mm/dia, ventos intensos (60-100 km/h), e queda de granizo. Risco de corte de energia elétrica, estragos em plantações, quedas de árvores e de alagamentos.’ Só faltou dizer, ‘e acidente por negligência com a Baía de Guanabara’. Como sempre acontece, tudo que é ruim pode piorar. Assim, na véspera do feriado, às 18h18, mais ou menos, um navio graneleiro abandonado há seis anos na maltratada Baía de Guanabara teve sua amarra de âncora quebrada. Então, empurrado pela forte ventania bateu de encontro à ponte Rio-Niterói. Imediatamente depois, ela foi fechada instaurando o caos no Rio, em Niterói, e outros municípios.
A negligência vem de muito tempo
Diário de bordo da primeira viagem do Mar Sem Fim, junho de 2007: abaixo do subtítulo Pelo vão da ponte Rio-Niterói, escrevi: ‘Passamos em seguida pelo vão da ponte Rio-Niterói e navegamos para a Ilha do Fundão, podendo ver no fundo da baía outra cena sinistra: uma espécie de cemitério de navios. São imensos cascos, alguns ainda com o casario de pé, antigos, abandonados, adernando enferrujados à espera da morte. Como é caro desmontá-los, eles ficam ali com o consentimento da Marinha do Brasil, aguardando não sei qual desastre para se desintegrarem de vez, provocando mais um problema ecológico na maltratada baía de Guanabara.’
Na época de minha primeira viagem eram dezenas de navios no fundão da baía. Hoje, são centenas. O fundo da baía de Guanabara transformou-se num cemitério de navios abandonados devido à falta de ação do poder público. Novos acidentes são apenas questão de tempo.
E todos, os abandonados, e os não abandonados, vomitam seus dejetos dentro da baía na cara das autoridades que nada, rigorosamente, nada fazem. Assim, além da poluição, contribuem para a bioinvasão.
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O texto acima é apenas mais uma prova da negligência do poder público. Felizmente o acidente da véspera do feriado não provocou danos ecológicos. Não desta vez. Mas promoveu o caos entre os moradores do Rio, Niterói, e outros municípios.
Antes de mais nada, esta é a regra do poder público: negligência. Sempre ela. Especialmente no Estado do Rio de Janeiro há anos na mão de quadrilhas de políticos que, em vez e cuidarem da cidade, roubam os cofres públicos sem quase nada dar em troca aos cidadãos.
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Ponte Rio – Niterói, principal ligação entre o Rio e diversos municípios
A ponte Rio-Niterói, com 48 anos de idade, é a principal ligação entre o Rio e diversos municípios. É, igualmente, a saída da cidade para as estradas, em especial a BR 101, a via litorânea que percorre a costa brasileira do Sul até o Nordeste.
À primeira vista, o graneleiro São Luiz estava fundeado, abandonado e apodrecendo, há seis anos! Seis anos esperando o quê? Mais um acidente? Pois foi o que aconteceu. Ao nosso ver, por negligência do poder público, leia-se prefeitos, governadores, o atual e os anteriores; além da Marinha do Brasil.
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Presidente do STF intima Flávia Pascoal, prefeita de UbatubaMunicípio de Ubatuba acusado pelo MP-SP por omissãoVerticalização em Ilha Comprida sofre revés do MP-SPE por que estava fundeado há seis anos? Porque o armador –navegação Mansur- provavelmente achou mais barato do que mandar a sucata rebocada até Alang, na índia, para ser desmantelada no maior cemitério de navios do mundo.
Navegação Mansur S/A, a proprietária do sucatão São Luiz
A empresa Navegação Mansur S/A, é a proprietária do sucatão abandonado. A empresa tem como presidente Jorge Brumana Simao, e como diretores Izahia Simao Mezher, e Farith Mansur.
Numa rápida pesquisa descobrimos inúmeros processos contra a empresa e ou seus proprietários. Por exemplo em 2004, o Ministério Público Federal, através do procurador da República Fábio Aragão, obteve na justiça federal a prisão preventiva dos dois fiscais do INSS, Arnaldo Carvalho da Costa e Paulinéia Pinto de Almeida, de um dos sócios da Empresa Navegação Mansur S/A, Jorge Brumana Simão e do gerente geral da empresa, Amaro de Almeida Rangel.
Segundo o site www.prrj.mpf.mp.br, Também foi pedido o seqüestro de todos os bens dos investigados. Mais adiante, diz o site: Além disso, na residência da fiscal aposentada Paulinéia foi encontrada uma cartilha, produzida por ela, ensinando a empresários como sonegar o INSS. O MPF acredita que ela estaria dando consultoria a empresas.
Como se vê, aparentemente os proprietários são tão pervertidos como o poder público aqui citado, responsáveis pela omissão generalizada que gerou o acidente.
Supomos, igualmente, que o armador deve ter se lembrado que o Brasil é um País corrompido, desleixado, onde as autoridades nada fazem desde que não haja pressão da opinião pública, apesar de estarem carecas de conhecer seus problemas.
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De acordo com o site www.osul.com.br A empresa é parte de dezenas de processos judiciais, tanto na esfera estadual como federal, em disputas trabalhistas e empresariais.
Justiça ordenou em 2021 a remoção do navio
Segundo o www.jornalterceiravia.com.br, O juiz Wilney Magno de Azevedo Silva havia ordenado, em setembro de 2021, a remoção do navio que colidiu na noite de 14/11 com a ponte Rio-Niterói.
Na época, já havia receio de que o navio pudesse se soltar e ficar à deriva. Tanto a Companhia Docas como a Capitania dos Portos, vinculada à Marinha, apontaram no processo a existência de riscos à navegação, de poluição do meio ambiente e à vida humana.
Navios com bandeira de conveniência
O Mar Sem Fim já denunciou inúmeras vezes esse procedimento, os navios com bandeira de conveniência, e o alarmante número de acidentes que acontecem sem que reais motivos os justifiquem.
No caso em questão, o São Luiz tinha bandeira das Bahamas. Muitos armadores inescrupulosos preferem registrá-los em países com regras trabalhistas frouxas, verificação de emissão de poluentes, e da própria verificação das condições de navegabilidade, igualmente ultrapassadas. O sucatão é mais um deles.
Sucatão São Luiz sem equipamentos obrigatórios
Segundo a Companhia Docas, o São Luiz estava “em estado de completo abandono, sem os equipamentos de segurança marítimos (radio VHF, iluminação e transponder desligado).”
“(…) tal embarcação encontra-se em adiantado estágio de deterioração, como comprovam as imagens fotográficas onde se constata que sua corrente de âncora, que, em tese, garantiria o fundeio seguro da embarcação, encontra-se retorcida pelos inúmeros giros de 360° em torno de seu próprio eixo, ocasionado pelo fenômeno natural e diário das correntes e marés. Além disso, seu adiantado estado de oxidação, fragilizando o material de que é feita, podendo se partir, a qualquer momento, e, com isso, deixar a embarcação à deriva, podendo ocasionar acidentes na Bía da Guanabara e, até mesmo, interrupção do canal de navegação, pondo, dessa forma, o tráfego das embarcações em risco”
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Marinha do Brasil diz em nota que o São Luiz ‘não oferecia riscos à navegação’
Apesar dos inúmeros processos contra os proprietários, do abandono do navio desde 2016 e, especialmente, das informações da Companhia Docas e da a Capitania dos Portos (ligada a Marinha do Brasil), terem apontado ‘a existência de riscos à navegação, de poluição do meio ambiente e à vida humana’, a Marinha do Brasil em mais uma patacoada emitiu nota em 14/11 dizendo que “a embarcação permanecia fundeada em local predefinido pela Autoridade Marítima, na Baía de Guanabara, desde fevereiro de 2016, sem oferecer riscos à navegação.”
(As informações no parágrafo acima são do site www.jornalterceiravia.com.br).
Desse modo, o São Luiz foi deixado fundeado no fundo da baía junto a centenas de outros conforme flagramos e denunciamos desde 2007.
Culpa não é exclusiva da Marinha do Brasil
É igualmente dos cidadãos que não protestam como deveriam pelo descaso com o mais emblemático cartão postal do País. Da imprensa, que pouco fala no assunto, do poder público, conforme já mencionamos; e, finalmente, da Marinha do Brasil, responsável por estas sucatas navais estarem se decompondo na baía desde ao menos 2007.
A baía de Guanabara está putrefata, semimorta, como não cansamos de denunciar. Navios lavam seus porões dentro dela, conforme sempre noticiamos, impunemente!
Ainda em novembro deste ano denunciamos a mortandade de peixes por estes motivos: navios vomitando seus dejetos sem que ninguém tome providências.
Por que, afinal, o armador (dono do navio) do São Luiz haveria de gastar dinheiro à toa se as autoridades de Pindorama dormem sono letárgico?
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Ridícula explicação da Marinha do Brasil
Segundo o Estadão, ‘A Marinha do Brasil informou que, devido às condições climáticas do fim de tarde no Rio de Janeiro, a amarra do navio São Luiz se partiu e, por isso, a embarcação se moveu do local onde se encontrava fundeada na direção da Ponte Rio-Niterói.’
Dãããrrr….
Baixarias patrocinadas pela Marinha do Brasil
A Marinha do Brasil tem se aprimorado em patrocinar baixarias, algumas internacionais. Em fevereiro deste ano, dois de seus navios polares, aliás os únicos, sofreram panes na Antártica. Um deles, na Passagem do Drake, teve que ser rebocado, e/ou escoltado, por belonaves de países amigos porque o outro, tão maltratado quanto, sofreu outra pane na mesma comissão.
Em 2012 a Base Comandante Ferraz, na Antártica, pegou fogo e derreteu. No mesmo ano houve outro incidente protagonizado pela força naval que, para piorar, tentou escondê-lo: o naufrágio de uma balsa da MB na ilha Rei George, baía do Almirantado, que levava 10 mil litros de diesel em tambores.
O tempo virou de repente e a balsa, de fundo chato, afundou. A Marinha do Brasil teve papel duvidoso no acidente ao escondê-lo, o que vai de encontro às regras do Tratado da Antártica.
Do mesmo modo, em agosto de 2021 a MB foi repreendida mundialmente por insistir em bombardear, para efeito de mira de seus grumetes, o maior berçário de aves-marinhas do Atlântico Sul, o arquipélago de Alcatrazes, litoral de São Paulo.
Por imperícia, ‘embaixada flutuante’ choca-se com ponte no Equador em 2021
Antes de encerrar, o acidente da Ponte Rio-Niterói lembra o desastre com o navio Cisne Branco, da Marinha do Brasil, Guayaquil, 2021.
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O orgulho da frota brasileira usado como ‘embaixada flutuante’, por imperícia de seu comandante, ignorou as fortes e notórias correntes do rio em que estava e chocou-se contra a ponte de pedestres que liga Guayaquil à ilha Santay, no Equador.
Quando o navio foi finalmente capaz de retornar ao seu curso, o rebocador que o estava puxando adernou pela forte correnteza até emborcar e afundar. Mais um vexame.
Até hoje, passado mais de um ano, não se sabe os resultados do inquérito da MB. Esconder por qual motivo? Contudo, sabe-se que um oficial da Marinha aposentado por invalidez total surfa e esquia na neve.
Por último, em outubro deste ano, a Marinha foi a promotora da patética viagem de um porta-aviões fantasma a vagar em alto-mar que chocou a comunidade mundial.
Só pode ser excesso de cloroquina…Então, perguntamos ao leitor: o Mar Sem Fim exagera ou a Marinha do Brasil pirou desde que o ‘imbroxável’ se instalou no Alvorada?
Ah, faltou reforçar que o acidente na Ponte Rio-Niterói estava anunciado desde cedo pelo site do Inmet. Mas, como o País se corrompeu, ninguém, muito menos a MB, tomou qualquer providência. Desastre mais que anunciado.
Insistência da Marinha do Brasil em negar o óbvio
A ver agora, no inquérito que será necessariamente aberto sobre o acidente, qual será a desculpa da Marinha do Brasil que, a despeito das informações da Companhia Docas, e da capitania dos Portos do Rio de Janeiro, insistiu em dizer em nota que “a embarcação permanecia fundeada em local predefinido pela Autoridade Marítima, na Baía de Guanabara, desde fevereiro de 2016, sem oferecer riscos à navegação.”