Marlim azul com pneu no bico, um retrato da nossa ação
No início de novembro, um marlim-azul (Makaira nigricans) apareceu morto na praia de Piçarras, em Santa Catarina, com um pneu atravessado no bico. Esse predador gigante dos oceanos pode chegar a 4 metros e mais de 600 quilos. Trata-se de um peixe impressionante, com corpo em forma de torpedo e barbatanas que se recolhem em ranhuras, o que reduz o arrasto e permite que nade a 60 milhas por hora, um colosso que só perde em velocidade para o sailfish, ou peixe vela. Desta vez ele não morreu pela pesca, mas por um pneu velho, tornando-se um ícone deste período em que nos arvoramos o direito de entupir o planeta com nossa marca registrada: o lixo.

Marlim-Azul com cerca de 400 quilos
Segundo o site O Tempo, o fotógrafo documentarista Maurício Guartelá registrava o amanhecer com um drone quando encontrou a carcaça. Ele conta que agiu na hora. “Liguei para o Museu Oceanográfico”, disse. Ex-estagiário da instituição, ele conhecia a importância científica de um caso assim.

A equipe técnica confirmou que o objeto perfurante provocou a morte. O marlim pesava mais de 400 quilos. A instituição investiga os detalhes do caso e pretende incluir o animal em uma futura exposição educativa sobre os impactos da poluição nos oceanos.

O Museu Oceanográfico da Univali acompanha o caso de perto. A instituição anunciou que o marlim fará parte de uma nova ala sobre os efeitos da poluição nos oceanos. A ideia é usar ocorrências reais como ferramenta de educação ambiental e mostrar ao público os impactos do descarte incorreto de resíduos no mar.
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Nosso modo insustentável de viver já produziu algumas imagens chocantes, como a da tartaruga com o casco deformado por uma embalagem de plástico.
A tartaruga, batizada Peanut, foi encontrada em 1993 no Missouri e levada para um zoológico em St. Louis, onde os veterinários a libertaram do anel plástico. Ela ainda está sob os cuidados do Departamento de Conservação do Missouri e a boa notícia é que ela está livre do anel e vagando por aí. Mas entrou no Hall da Fama de nosso estilo de vida.
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Antes de mais nada, são fotos que refletem com precisão a época em que vivemos, a tão falada, e ainda não adotada pelos cientistas, Era do Antropoceno. Isso significa, entre outras problemas, lixo por todos os cantos do planeta. Do pico do Everest até o fundo das Fossas das Marianas.
Outra imagem icônica mostra o estômago de uma ave marinha repleta de plástico, em foto feita no Atol de Midway que fica a cerca de 2.000 Km do continente.
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Todas estas cenas chocantes escancaram como nossa ação transforma lindos animais selvagens em vítimas da insensatez e da arrogância humanas. São imagens que ficarão para sempre como parte de nosso legado para as futuras gerações.

Infelizmente, é nossa obrigação dar toda a visibilidade possível a estas chagas que produzimos em profusão. Não à toa, hoje existem até mesmo concursos internacionais de fotografias que ‘premiam’ as melhores imagens numa patética tentativa de fazer com que pensemos mais antes de agir. Em 2024, já mostramos, por aqui, a imagem vencedora: a de uma bola de futebol que, jogada no mar, tornou-se habitat de cracas marinhas.
Quem sabe um dia a gente aprende?
Assista para saber mais









