O mau uso do litoral de Santa Catarina, e de quase todos estados costeiros, provoca grande destruição
As pessoas querem ‘vista para mar’ seja a qual for o custo. Está no imaginário do brasileiro a casa ‘pé na areia’. Coitados não sabem que 90% da cadeia de vida marinha começa justamente onde constróem: praias, dunas, restingas e até costões. Um dia a fatura chega. É sempre assim. Mas ninguém aprende a lição. Continuam edificando onde não pode (por Lei), ou onde não se deve (pelo simples bom senso). Por isso, hoje o tema é o litoral de Santa Catarina e erosão.
Com esse gosto perverso de parte dos ‘ricos’, a especulação imobiliária explode. Ciente disso, as incorporadoras põem seus tratores nas praias. E arrasam a linda paisagem secular para erguer em seu lugar condomínios gigantes, filas de ‘paliteiros de concreto armado’; ‘resorts’, se possível com nome estrangeiro, e em estilo neo-clássico, também. Eles pipocam nas praias nordestinas. Por que? Porque as pessoas compram. Já a paisagem… a vida marinha… e a total falta de infraestrutra (leia-se coleta e tratamento de esgotos)? Ora, que se dane! O que importa é ‘vista por mar.’ Disso, pouca gente abre mão…
Litoral de Santa Catarina e erosão: situação de emergência em seis municípios
“Desde o início do inverno, as águas avançaram com força sobre as praias catarinenses, arrancando estruturas de concreto, contorcendo vergalhões de ferro, derrubando construções de tijolos. Uma destruição implacável que já levou seis municípios do Estado a decretar situação de emergência.” Assim o dc.clicrbs.com.br, de novembro de 2017, abriu sua matéria.
O que aconteceu este ano?
Nada que não tenha acontecido antes, como uma combinação de fenômenos naturais que provocam ressacas das bravas em vários pontos do litoral de Santa Cataria, e consequente erosão, assustando pessoas desavisadas.
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Algumas das mais afetadas foram o Matadeiro, em Florianópolis, o Ervino, São Francisco do Sul, ou o Balneário Cambiju, em Itapoá e praia dos Ingleses, na capital, onde 2/3 da areia foi-se. A praia do Caldeirão também sumiu…
Hoje todas as citadas têm poucos metros de areia. E, mais uma vez, ocupação desordenada não é exclusividade do litoral de Santa Catarina. Até que aconteça uma recomposição natural vai custar de dois a três anos, dizem especialistas.
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Os prejuízos em Florianópolis: R$ 4 milhões, em Navegantes, R$ 1,4 mi
Florianópolis foi uma das cidades dos que decretou estado de emergência, ao lado de Navegantes (prejuízo de R$ 1,4 milhões, segundo G1). Já para o dc.clicrbs.com.br, “os prejuízos causados pela ressaca que atingiu praias de Florianópolis nas últimas semanas foram estimados em R$ 4 milhões. O levantamento feito pela Defesa Civil do município e pela Secretaria de Infraestrutura.” Em Itapoá, a ressaca do mar causou erosão em vários pontos da orla, acumulou lixo e inundou a via pública, disse a defesa civil.
Exemplos de ocupação desordenada em praias no Sul, Sudeste, Nordeste e região Norte
Guarujá, a ex- pérola do Atlântico, em São Paulo.
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O Nordeste não fica de fora, o ‘exemplo’ de Pipa é só mais um.
Assim como o Norte e ‘sua contribuição’, na praia do Atalaia, Salinópolis, PA.
Sabedoria popular
Aliás, nem todos são ignorantes. Os cara-pálidas, sim; nativos, nem tanto. ‘Valdir Mata-fome’, personagem de 61 anos, um dos moradores mais antigos foi ouvido pelo http://dc.clicrbs.com.br. Eis o que disse:
Toda vida essa maré existiu, só que em outros tempos não tinha bar e casa na beira da praia. As pessoas invadiram o mar. É uma revolta da natureza, porque hoje existe muito individualismo e muitos interesses. A Ilha está perdendo a alma, e as bruxas estão revoltadas
Vamos aprender? Mas, antes de saíram entupindo a orla de pedras, ouçam o que diz um especialista.
Sabedoria dos experts
O http://dc.clicrbs.com.br cumpriu bem a sua função e foi atrás de Carlos Eduardo Salles de Araújo, pesquisador da Epagri/Ciram do grupo de monitoramento costeiro, que ensinou:
A gente só não pode fazer mais besteira, como colocar pedra em tudo, porque isso pode contribuir ainda mais para a erosão no longo prazo
Sabedoria da Constituição Estadual da Paraíba
A Constituição do estado teve a sorte de ser feita na época da Rio- 92. Um grupo da sociedade, inclusos arquitetos, ambientalistas e organizações civis como a OAB, se uniram, escreveram e ofereceram o capítulo de meio ambiente ao governador da época que topou a parada.
É o único dos 17 estados costeiros que soube domar a especulação imobiliária, não permitindo a destruição da paisagem costeira por espigões e os ‘resorts’ monstrengos. Na primeira linha da praia só há casas térreas; mais atrás, os sobrados; depois, prédios baixos, e assim por diante. É um exemplo a ser seguido.
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Não culpem as mudanças climáticas e subida do nível do mar: a culpa é de quem faz o que não se deve
…Se o nível do mar estivesse subindo, nós teríamos problemas em todas as praias. E não temos. O efeito é localizado, associado à orientação das praias e à maneira que elas interagem com ondulações e ventos atípicos…
Palavras do físico e oceanógrafo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Felipe Pimenta, também ouvido pelo http://dc.clicrbs.com.br.
Litoral de Santa Catarina e erosão: culpa de quem constrói, ou compra
Assista o vídeo produzido pelo Diário Catarinense. E veja como foi.
Fontes: http://dc.clicrbs.com.br; G1; defesacivil.sc.gov.br.
Foto de abertura: praia do Caldeirão, Litoral de Santa Catarina e erosão, de Marco Favero, DC.