Exterminar eucaliptos e pínus do litoral é dever de todos
Adorei quando li no Estadão (31/05/2024) Exterminadores de pinheiros? Quem são os derrubadores de árvores em um parque de Florianópolis, de Martina Medina. O primeiro parágrafo deixa claro de que se trata. ‘Quem vê um grupo de 12 pessoas derrubando árvores no Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, pode até estranhar. Mas, apesar de usarem serras manuais e motosserra, eles estão longe de representar ameaça ao meio ambiente. O objetivo é proteger a vegetação local de uma espécie exótica invasora: o pínus ou pinheiro-americano’. Eu tive a mesma vontade quando fiz a primeira viagem pela costa brasileira (2005-2007). Fiquei horrorizado com a quantidade de eucaliptos e pínus plantados no litoral, no lugar de espécies da esplêndida Mata Atlântica. Lembro que falava para amigos que, ‘na próxima viagem levaria uma motoserra’. Exterminar eucaliptos e pínus do litoral é dever de todos.
O extermínio em Florianópolis
A matéria de Martina Medina explica que a iniciativa “Restaurando paisagens e ecossistemas”, que envolve o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e centenas de voluntários, já retirou mais de 420 mil pínus da Unidade de Conservação (UC) desde 2010.
Note a imensa quantidade, 420 mil árvores! Mas, voltemos ao texto de Medina. Em 2018, o grupo finalmente eliminou os impactos da invasão de pínus do parque. Porém, a espécie segue em outras regiões e, devido à dispersão das sementes pelo vento por até 60 quilômetros, acaba voltando à Unidade de Conservação.
Em outras palavras, estas árvores plantadas por cavalgaduras no litoral são uma praga! A autora da matéria ainda explica mais: O pínus, originário do Hemisfério Norte, chegou ao Brasil na década de 1960 como planta ornamental e para a produção de papel e madeira. O gênero, com cerca de 20 espécies registradas no Hemisfério Sul, é um dos mais invasores do mundo (grifo nosso). A Pinus elliottii, principal espécie no Parque das Dunas da Lagoa da Conceição, ameaça a restinga, vegetação nativa da região.
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Finalmente, Martina Medina conta o que fazem os ‘exterminadores’, além de derrubarem as árvores exóticas. ‘Para acelerar a restauração, a iniciativa também faz mutirões de plantio de mudas nativas. Até o momento, foram restaurados 200 hectares de restinga no parque, um terço da área total da reserva’.
A matéria de Medina é interessante, se estende um pouco mais, e pode ser lida na íntegra no link acima.
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O custo das espécies invasivas nos EUA
Se por acaso você pensa que ‘isto é coisa de ecochatos’ saiba que, segundo a insuspeita revista do Smithsonian, ‘o custo das espécies invasivas, apenas nos Estados Unidos, chegam a “US$ 40 bilhões anuais’. Eu disse 40 BILHÕES de dólares por ano!
O Smithsonian comenta um estudo feito em 2016, e publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, segundo o qual ‘os países em desenvolvimento (como o Brasil) experimentam os piores impactos, enquanto grandes produtores agrícolas como a China e os EUA representam o maior risco como fontes de espécies invasoras’.
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O custo das espécies invasivas no Brasil
Segundo o Relatório sobre Espécies Exóticas Invasoras, produzido por especialistas de 49 países, estes intrusos têm sido um fator importante em 60 por cento de todas as extinções e que custam à economia global mais de 423 bilhões de dólares anualmente. O relatório classificou as espécies exóticas invasoras como uma ameaça ao desenvolvimento sustentável e ao bem-estar humano.”
Brasil tem 476 espécies exóticas invasoras
O estudo mostra que o Brasil tem 476 espécies exóticas invasoras. Dessas, 268 são animais e 208 são plantas e algas. A maioria vem da África, Europa e sudeste asiático.
Como as questões ambientais nunca foram levadas a sério no País de Macunaíma, em janeiro de 2024 cientistas brasileiros do Centro Brasileiro de Conhecimento em Biodiversidade publicaram uma carta-alerta na Science: Aim for heterogeneous biodiversity restoration (Visando uma restauração heterogênea da biodiversidade), onde criticam o ‘modelo’ brasileiro (quando) muitas vezes se usam superespécies invasoras.
Parece, ou não, uma piada (de extremo mau gosto)? Vamos repetir, o Brasil muitas vezes usa superespécies invasoras para restaurar áreas degradadas!
O CBCB diz que ‘o comércio de animais de estimação e de plantas (grifo nosso) é a principal via de introdução de espécies exóticas invasoras no território nacional. E você sabe qual o custo para nossa economia segundo esta fonte? ‘Invasões biológicas geram um prejuízo anual de USD 2 a 3 bilhões à economia do país’.
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Finalmente, ainda segundo a mesma fonte, ‘ao longo de 35 anos (1984 a 2019) o prejuízo mínimo estimado em razão dos impactos ocasionados por apenas 16 espécies exóticas invasoras variou de USD 77 a 105 bilhões de dólares – uma média anual de USD 2 a 3 bilhões. Dentre elas estão principalmente pragas agrícolas e silviculturais (USD 28 bilhões) e vetores de doenças (USD 11 bilhões) e os custos são atrelados a perdas de produção e horas de trabalho, internações hospitalares e interferência na indústria de turismo’.
A viagem do Mar Sem Fim: Amapá, pobreza, poluição e espécies invasivas
Encontrei os primeiros exemplares de eucaliptos em alguns rios do Amapá que explorei, entre eles o Cassiporé e o Calçoene. Três coisas me impressionaram no Amapá. A brutal e quase generalizada pobreza, a poluição dos rios por metais pesados, especialmente mercúrio, usado no garimpo de ouro, e a quantidade de espécies invasivas.
E, além disso, fiquei boquiaberto com a quantidade de árvores de eucalipto em suas margens. Ou seja, em meio à floresta Amazônica, havia esta espécie exótica tirando o brilho, banalizando a floresta úmida e, consequentemente, engolindo parte da biodiversidade nativa.
O caso é tão escandaloso que até o jornal inglês, The Guardian, publicou uma matéria onde alertava que ‘imensas extensões de terra têm sido comercializadas ilegalmente para produtores de soja e eucalipto. As áreas, que até o final do ano passado eram posse do governo federal, teriam sido cedidas para a administração estadual em troca de apoio político. Ainda segundo a denúncia, pequenos agricultores estão sendo expulsos de suas fazendas para que grandes empresas tomem posse das propriedades’.
No trajeto entre o município do Oiapoque, e a capital, Macapá, eu contei 70 quilômetros contínuos de reflorestamento. Onde havia Cerrado, hoje tem eucalipto. A mata nativa perde para esta praga estéril e sem graça. Mais uma floresta prístina, repleta de vida, é trocada pela monotonia.
Nordeste: especulação desenfreada e pínus nas praias
Quando entramos em águas do Nordeste, além da especulação imobiliária desenfreada, percebi outro desatino, a plantação de pínus por donos de casas nas belíssimas praias do Ceará. Isso ficou cristalino porque muitas das árvores formavam ‘cercas vivas’ próximas às casas de segunda residência dos ignorantes que as plantaram. É chocante observar as lindas praias cercadas por tufos destas árvores. Tive o mesmo sentimento no Rio Grande do Norte.
Paraíba, à época da viagem, um belo exemplo
O Estado aparece aqui porque sempre há uma exceção. E a Paraíba, na época da viagem, era a grande exceção. Dos 17 Estados costeiros foi o único a ‘domar’ a especulação. Quando conheci a Constituição da Paraíba, entendi o motivo.
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Faz tempo que não visito o Estado, porém, continuo acompanhando o que se passa no litoral. Infelizmente a situação mudou. Os gestores políticos, leia-se prefeitos e governador, são totalmente incapazes, não entendem que vivemos a época do aquecimento global desenfreado, e não preparam o litoral para seus deletérios efeitos.
Além disso, a poluição aumentou muito, e obras estúpidas de prefeitos boçais estão colocando em risco o litoral de João Pessoa.
“Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”
Nos cerca de mil e duzentos quilômetros da costa baiana, vi tantos disparates que fui obrigado a usar a frase que imortalizou o governador Otávio Mangabeira (1947 a 1951): “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”.
Vi e fotografei imensas áreas de reflorestamento no litoral norte e sul do Estado, com eucaliptos e pínus ocupando o lugar da mais exuberante Mata Atlântica. A porção mais espetacular era a que havia, e o que sobrou, na Bahia.
Reflorestamento com pínus e eucalipto no litoral baiano
Vejamos o que diz o Instituto Brasileiro de Florestas. ‘É fácil entender, portanto, porque a Mata Atlântica apresenta estruturas e composições florísticas tão diferenciadas. Uma das florestas mais ricas em biodiversidade no planeta, a Mata Atlântica detém o recorde de plantas lenhosas (angiospermas) por hectare (450 espécies no Sul da Bahia), cerca de 20 mil espécies vegetais, sendo 8 mil delas endêmicas, além de recordes de quantidade de espécies e endemismo em vários outros grupos de plantas‘.
A Mata Atlântica acompanha o litoral brasileiro do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, englobando áreas de dezessete estados. Como ela está presente em diferentes regiões do Brasil, apresenta diferentes ecossistemas, com variações em relação à fauna, vegetação, solo, relevo e características climáticas, ensina o InVivo da Fiocruz.
E estes reflorestamentos são recentes, portanto, já havia informação suficiente para brecar a estupidez. Para se ter uma ideia, conforme explica o site InVivo da Fiocruz, na Mata Atlântica já foram encontradas cerca de 260 espécies de mamíferos, 620 de aves, e 260 de anfíbios, além de muitos répteis e insetos. Foi na Bahia que me veio a ideia de levar uma motosserra na próxima viagem.
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SUDESTE: eucaliptos em todo o litoral do Espírito Santo, e pínus no litoral sul de São Paulo
O litoral do Sudeste tem os mesmos problemas do Nordeste, exceção à carcinicultura. Mas o que aconteceu com a Mata Atlântica do litoral do Espírito Santo deveria ser estudado nas escolas e universidades. Em quase qualquer praia que você esteja, se olhar para o interior verá imensas áreas de reflorestamento com eucaliptos.
Na época de nossa viagem, o Espírito Santo tinha cerca de 250 mil hectares de florestas plantadas. Grande parte da Aracruz Celulose. Os eucaliptos ocupavam cerca de 50 mil hectares, só no extremo norte do Estado, em pleno tabuleiro onde antes havia Mata Atlântica.
Sul de São Paulo, repleto de pínus
Antes de mais nada, ressaltamos mais uma vez que nada temos contra o reflorestamento com pínus ou eucaliptos, desde que seja em áreas degradadas, não no litoral. Para você saber, a EMBRAPA informa que o Brasil é o maior exportador mundial de resina de pínus, colocando no mercado externo 70% da sua produção anual de 200 mil toneladas. O Paraná é o terceiro estado maior produtor (12 mil t), sendo superado por São Paulo (110 mil t) e pelo Rio Grande do Sul (45 mil t).
É ótimo saber que o Brasil se destaca na exportação de resina. Mas que o pínus não esteja no litoral, é isto que defendemos e que propomos exterminar seguindo o exemplo do pessoal de Floripa.
O sul de São Paulo está repleto de pínus
O sul de São Paulo, a partir de Peruíbe, e até Cananéia, fronteira com o Paraná, está repleto de pínus. O destaque é a cidade de Peruíbe onde algum prefeito despreparado, como a grande maioria dos alcaides de municípios costeiros, mandou plantar a árvore invasiva em ruas e avenidas!
Ilha Comprida, que é uma unidade de conservação estadual, está infestada com pínus. Parte deles, plantados pelo poder público, outra parte, por donos de casas de segunda residência. Não me conformo com tamanha burrice, como é possível trocar as lindas e frondosas árvores da Mata Atlântica, por esta árvore sem graça, feia, e oriunda do hemisfério norte?
Região Sul, Pínus em toda a planície costeira do Rio Grande do Sul
Finalmente, na região Sul, o destaque são os reflorestamentos com pínus em toda a maravilhosa e biodiversa planície costeira gaúcha. Ao entrevistarmos os especialistas da FURG, ficamos sabendo que o reflorestamento começou na década de 70 com os incentivos dados pelos militares.
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Porém, no caso do Rio Grande do Sul o reflorestamento da planície costeira teve consequências dramáticas. O litoral sul, do Rio Grande do Sul, por ter áreas inóspitas e de difícil acesso, até agora ainda conserva parte de sua paisagem original. Mas ao norte a conurbação é um fato. Ela começa em Torres e vai até Tramandaí.
Ambas as áreas não estão livres da poluição humana, muito menos do reflorestamento com pínus e eucaliptos (promovidos com incentivos desde 1970 até 1980) na planície costeira.
De Torres até o final da restinga que separa a Lagoa dos Patos do mar, os reflorestamentos foram feitos em áreas de dunas. Para tanto os alagados, atrás, foram drenados!
Esta ação desastrada trouxe duas sérias implicações. A vegetação que fixava as dunas frontais na costa do Estado morreu sem a água. Agora quando entra o nordestão suas areias voam para o interior. Ao mesmo tempo, um sem-número de animais, especialmente mamíferos, anfíbios e répteis que habitavam as áreas úmidas, diminuíram drasticamente.
E, então, vamos exterminar estas árvores no litoral?