Estados brasileiros e mudanças do clima: só cinco têm metas de redução

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Estados brasileiros e mudanças do clima: só cinco têm metas de redução de emissões

‘Muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, senão centenas de milhares de anos. E algumas das mudanças já postas em movimento – como o aumento contínuo do nível do mar – são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de anos’. Este é o segundo parágrafo do já famoso relatório do IPCC divulgado em agosto de 2021, Mudanças Climáticas 2021: a Base das Ciências Físicas. Mais adiante, o relatório alerta sobre o que pode acontecer nas cidades: ‘Para as cidades, alguns aspectos da mudança climática podem ser amplificados, incluindo o calor (já que as áreas urbanas são geralmente mais quentes do que seus arredores), enchentes devido a eventos de forte precipitação e aumento do nível do mar nas cidades costeiras’. Hoje vamos discutir Estados brasileiros e mudanças do clima: só cinco têm metas de redução de emissões.

Imagem de alagamento em cidade grande
E, aí, pronto para o novo normal? Cobre o governador de seu Estado! Imagem, www.maiorseguros.com.br.

Estados brasileiros e mudanças do clima: só cinco têm metas de redução de emissões

Ninguém pode alegar desconhecimento. Há pelo dez anos não se fala em outra coisa quando o assunto  são as ameaças ao nosso futuro. Mesmo assim, a reação dos Estados brasileiros é tímida e desarticulada.

Relatório do CDP Latin America, organização internacional que trabalha com empresas e governos para monitorar suas ações ambientais, mostra que nossos gestores políticos ainda não levam a sério o aquecimento do planeta ao fazerem planos e orçamentos.

A situação do País, que tem 17 estados costeiros e profundas divisões regionais socioeconômicas, mostra que ’18 estados adotaram políticas sobre mudanças do clima; 19 têm fóruns para tratar do tema com representantes da sociedade; 14 estados responderam positivamente à pergunta sobre possuir inventário de emissões de gases de efeito estufa regional e 13 forneceram detalhes sobre seus inventários’.

‘Mas apenas cinco têm metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, sendo que um deles não forneceu detalhes sobre a meta’.

Infográfico mostra os instrumentos de gestão climática por estado brasileiro
E destaque negativo para Estados como Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, e Mato Grosso do Sul que estão ainda zerados, ou devendo informações.

Apenas cinco, entre os 26 Estados mais o Distrito Federal, têm metas de redução às portas da mais importante reunião do clima: a COP 26, planejada para novembro, na Escócia.

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Vamos chegar à COP na ‘categoria devedores’, a categoria dos países sem credibilidade e, portanto, sem força para impor seus pontos de vista. Não importa o fato de termos pouca influência sobre o aquecimento se comparado aos países ricos. O que importa é demonstrar que estamos juntos nesta luta mundial.

E, especialmente, aproveitar o momento para conseguir investimentos para a descarbonização, e o financiamento para ações que ponham fim nas ilegalidades em nossos biomas terrestres. Dinheiro é o que não falta. Faltam, entretanto, planos e projetos.

Estados brasileiros: os riscos e vulnerabilidade

Este subtítulo também consta do relatório do CDP Latin America, e mostra o que os governos já fizeram para identificar os maiores riscos nos respectivos Estados.

Imagem de seca extrema
Alagamentos, secas extremas, erosão no litoral, pessoas desalojadas, o ‘novo normal’. Imagem, Divulgação.

‘A análise de vulnerabilidade visa identificar os riscos futuros e assim permitir o desenvolvimento de um plano de adaptação’.

Sem esta análise, acrescentamos, é impossível mitigar os eventos extremos em cada região. Por exemplo, para os Estados costeiros um dos grandes impactos será a subida do nível do mar, e o aumento da erosão já presente em 60% de nosso litoral.

Para outros, como o Mato Grosso do Sul, cuja economia depende do agronegócio, os maiores impactos serão as secas prolongadas, como a atual, geadas, etc. Mas nossos gestores parecem pouco interessados, como informa o relatório.

‘Apenas 7 estados possuem um estudo de vulnerabilidade, 12 estados responderam estar em processo de elaboração ou com intenção de adotar nos próximos dois anos. Além disso, 7 estados reportaram possuir um plano de adaptação’.

Apenas sete Estados fizeram a lição de casa. Além de ser muito pouco para um País como o Brasil, isso demonstra que, se nem todos os governadores endossam a polícia ambiental suicida de Bolsonaro, a maioria está no mínimo se lixando para o assunto.

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Imagem de evento extremo no Espírito Santo
Resultado de um evento extremo no Espírito Santo em agosto de 2021. Imagem , Reprodução/TV Gazeta.

No quesito riscos e vulnerabilidade o único Estado com destaque positivo é Alagoas. Segundo o relatório, ‘um exemplo é o estado de Alagoas, onde o monitoramento é feito mensalmente através da ferramenta denominada Monitor de Secas do Nordeste’.

‘Os resultados consolidados são divulgados mensalmente por meio do Mapa do Monitor de Secas, com indicadores que refletem o curto prazo (últimos 3, 4 e 6 meses) e o longo prazo (últimos 12, 18 e 24 meses), indicando a evolução da seca na região’.

Gestores políticos imediatistas

A nosso ver um dos  problemas que enfrentamos vem do fato de que a maioria de nossos gestores políticos são incapazes de planejar.

A grande maioria é de imediatistas, gente que quer o resultado de suas obras em dois ou três anos no máximo, para assim garantir a reeleição ou bons índices de popularidade.

E tudo que diz respeito ao aquecimento global exige grandes investimentos, e os resultados são de médio a longo prazo. É mais fácil deixar para o próximo…

Imagem de incêndio descontrolado
Nem com imagens dramáticas como estas todo dia em ‘horário nobre’ nossos políticos não se tocam. Imagem, público.pt.

Outros itens do relatório

Emissões e mitigação é outro dos subtítulos do relatório sobre os Estados brasileiros. ‘O desenvolvimento de inventários estaduais de emissões de gases de efeito estufa é uma das etapas iniciais para melhor entendimento das possibilidades de atuação dos estados na temática de clima’.

’14 estados reportaram ter inventário. É importante ressaltar também que alguns estados utilizaram a estimativa do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG)’.

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‘Para mitigar as emissões, 10 estados reportaram que possuem um plano de mitigação, e 4 estados têm planos em fase de elaboração. Já para metas de redução de emissões, esses números ficam restritos a 5 estados’.

Andreia Banhe, gerente sênior de cidades, estados e regiões do CDP Latin America, falou ao site um só planeta. Ela disse ‘que os dados do levantamento podem estar incompletos, pois alguns estados tiveram pouco tempo para reportá-los, além da dificuldade causada pelo impacto da pandemia e do trabalho à distância nas secretarias e órgãos estaduais’.

‘Por isso, espera-se que os dados sejam mais positivos, ela afirma. Rio Grande do Norte foi o único que não respondeu nenhum ponto do questionário do CDP’.

Ficam aí os dados mais importantes para que você possa se situar, e cobrar o governo de seu Estado se for  o caso. O relatório completo do CDP Latin America pode ser lido neste link.

Imagem de abertura: www.publico.pt

Fontes: https://6fefcbb86e61af1b2fc4-c70d8ead6ced550b4d987d7c03fcdd1d.ssl.cf3.rackcdn.com/cms/reports/documents/000/005/845/original/CDP-relatorio-governoseclima-FINAL_.pdf?1628892687; https://umsoplaneta.globo.com/clima/noticia/2021/08/31/dezoito-estados-adotam-politicas-sobre-mudancas-climaticas-mas-apenas-cinco-tem-metas-de-reducao-de-emissoes.ghtml.

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