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Espécies invasoras agora navegam em plástico

Espécies invasoras, ou exóticas, cruzam oceanos navegando em plástico

No meio acadêmico, todos sabem: a maior causa da perda de biodiversidade é o desaparecimento de habitats. Menos recifes de corais, manguezais ou praias significam menos espécies e menos variedade marinha.

O segundo maior problema, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (The World Conservation Union – IUCN), é a introdução de espécies invasoras, também chamadas de exóticas — plantas, animais ou microrganismos. Elas empobrecem e homogeneízam os ecossistemas. Vamos entender por quê.

Espécies invasoras ou invasivas, e as exóticas: definição

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) define espécie exótica como aquela que vive fora de sua área natural de distribuição. Já a espécie exótica invasora, ou invasiva, é a que ameaça ecossistemas, habitats ou outras espécies.

Simplificando: espécies invasoras são aquelas que chegam a um ambiente diferente de sua origem por ação humana, seja intencional ou acidental.

Algumas formas de invasão acidental

Primeiro, o homem domesticou plantas e animais há milhares de anos. Entre os mais comuns, milho e trigo; entre os animais, o gado, além de cães e gatos. Com comida em abundância, as populações cresceram. E com o crescimento, surgiu a necessidade de buscar novos sítios. Assim começaram as migrações humanas.

Nas migrações, plantas e animais domesticados seguiam junto e ocupavam o lugar das espécies originais. Hoje, com a globalização, as viagens do homem moderno talvez representem a maior forma de bioinvasão — intencional ou não. Já encontraram carrapatos em pinguins na Antártica. Quem os levou, senão o homem, ainda que sem querer?

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Com as caixas do comércio mundial, viajam também baratas, ratos e outros organismos. Às vezes saem da Ásia e chegam às Américas. Outras vezes partem do Velho Mundo e desembarcam na África, ou o contrário. É assim que acontece.

Invasão intencional

Existem casos ainda piores: os chamados “intencionais”. Neles, pessoas inconsequentes ignoram que já somos quase oito bilhões de terráqueos e que, por isso, não podemos agir como quisermos sem agravar o problema. Foi assim com o peixe-leão, espécie nativa da região onde o Pacífico encontra o Índico e que hoje já aparece em todo o mar brasileiro.

O “belo” peixinho de apenas 50 cm virou o grande terror dos oceanos Atlântico Norte e Sul. Hoje, é a espécie marinha invasora mais numerosa do planeta.

Cientistas que estudaram a praga no hemisfério Norte descobriram que a invasão começou no aquarismo e terminou no mar. Um norte-americano comprou o peixe-leão para enfeitar seu aquário. Quando a novidade perdeu a graça, soltou-o no mar. Esse gesto bastou para liberar a praga.

Problemas gerados pela bioinvasão

Na maioria das vezes, o problema começa porque as espécies exóticas não encontram inimigos naturais. Sem predadores, elas se multiplicam rapidamente, ocupam o lugar da fauna nativa, empobrecem a biodiversidade local e ainda criam prejuízos econômicos.

Foi o que aconteceu com um simples molusco: o mexilhão-dourado, originário da Ásia. Ele chegou ao sul do Brasil misturado à água de lastro de algum navio e, em pouco tempo, dominou o Lago Guaíba e o rio da Prata.

O mexilhão- dourado é um flagelo das bacias hidrográficas brasileiras.

O mexilhão-dourado entope as turbinas de Itaipu, que precisa parar a operação para fazer a limpeza. A infestação já avançou até o Pantanal e, no caminho, contaminou o rio São Francisco. Hoje, os pesquisadores brasileiros afirmam que a chegada à bacia Amazônica é apenas uma questão de tempo.

Prejuízo de 1,4 trilhões de dólares a cada ano, ou 5% da economia mundial

As espécies invasoras causam prejuízos globais de até 1,4 trilhão de dólares por ano, o que equivale a 5% da economia mundial. Esse valor inclui perdas em colheitas, pastagens, florestas e gastos em combate. Mas não contempla o declínio da biodiversidade, as extinções, os danos culturais e a perda de serviços ambientais, impactos incalculáveis que afetam a natureza, a sociedade e até a estabilidade econômica e política das nações.

Espécies exóticas agora navegam em plástico

Segundo a National Geographic, pouco depois do terremoto e do tsunami de 20111 que devastaram a costa leste do Japão, uma onda de lixo flutuante começou a atravessar o Pacífico. Gaiolas de moluscos, pedaços de píeres e até embarcações de pesca inteiras seguiram em direção à costa oeste da América do Norte e ao Havaí. O tsunami havia arrastado para o mar a infraestrutura de plástico do Japão, que acabou levada pelas correntes até o outro lado do oceano.

A saga dos mexilhões, cracas e algas: seis anos em uma jornada pelo Oceano Pacífico

Os cientistas não imaginavam que mexilhões japoneses, cracas e algas marinhas conseguiriam sobreviver por seis anos atravessando o Pacífico — e ainda chegar vivos, prontos para se reproduzir.

Uma saga de seis anos à deriva até arribar no litoral dos USA. Foto: nationalgeographic.com

A nova fronteira

Esses montes de lixo costeiro abriram uma nova fronteira para os cientistas que estudam espécies exóticas. Antes, criaturas costeiras viajavam em troncos que se decompunham no mar. Agora, com a proliferação de plásticos nas costas do mundo, conseguem percorrer distâncias muito maiores.

Questões a serem respondidas

Como essas espécies conseguem viver em plástico e poliestireno? Grandes pedaços de detritos funcionam como microcosmos de ecossistemas costeiros, verdadeiros hotéis flutuantes com alimento disponível?

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Os cientistas já sabiam que o plástico é tão abundante no oceano aberto quanto em nossas vidas diárias. Mas, até pouco tempo, não imaginavam que esses detritos pudessem transportar uma nova onda de espécies exóticas até as costas dos Estados Unidos e de outros lugares do mundo. Agora sabem que isso já acontece — e suspeitam que algumas dessas espécies ainda irão prosperar.

A ‘contribuição’ do plástico

Os cientistas se mostram cada vez mais perplexos. Em apenas 65 anos, a humanidade produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico, e só 9% foi reciclado. Por isso, previsões indicam que até 2050 haverá mais plástico do que peixes, em peso, nos oceanos. O material não desaparece: apenas se fragmenta em micropartículas que já entraram em nossa cadeia alimentar.

A novidade, segundo a National Geographic, é que o plástico também facilita a proliferação de espécies exóticas. É urgente agir: cabe ao poder público criar políticas eficazes e aos cidadãos reciclar. Ninguém fará isso por nós.

Fontes: http://www.mma.gov.br/biodiversidade/conven%C3%A7%C3%A3o-da-diversidade-biol%C3%B3gica; https://www.iucn.org/content/100-worlds-worst-invasive-alien-species-a-selection-global-invasive-species-database; https://www.google.com.br/search?ei=BoaJW9y8M4Wg5wLioZr4Dw&q=inconsequ%C3%AAntes&oq=inconsequ%C3%AAntes&gs_l=psy-ab.12…15513.17262.0.19093.2.2.0.0.0.0.203.384.0j1j1.2.0….0…1c.1.64.psy-ab..0.0.0….0.KQcD3agoQQA; http://www.mma.gov.br/biodiversidade/especies-ameacadas-de-extincao/especies-exoticas-invasoras.html; https://www.nationalgeographic.com/environment/2018/08/news-invasive-species-ride-plastic-across-ocean/.

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