Erosão no litoral de Florianópolis preocupa
A erosão é um processo natural na linha da costa. Esta parte sensível dos continentes, de transição entre o mar e a terra firme, é assolada constantemente por forças naturais como ventos, ressacas, correntes marinhas, e marés. Com o descontrole do aquecimento global o processo ganhou outro aliado de peso, os eventos extremos que estão fora de escala e aumentam de intensidade e frequência, além da subida do nível do mar. Estes fenômenos, de mãos dadas ao mau uso da terra, acirram a erosão que já atinge perigosos 60% do litoral do País de acordo com o geógrafo Dieter Mueher. O post de opinião é sobre a erosão no litoral de Florianópolis.
Erosão no litoral de Florianópolis preocupa
A erosão costeira é natural no litoral. E muitas vezes agravada por construções irregulares, fruto da especulação imobiliária que detona a beleza paisagística do litoral catarinense e brasileiro. Ainda em 2017 publicamos um post onde mostrávamos que até aquele momento seis municípios, incluindo Florianópolis, já tinham decretado situação de emergência em razão da erosão costeira.
Morro das Pedras, sul de Florianópolis
Desta vez a maré alta devastou a beira da praia do Morro das Pedras, no sul de Florianópolis, e chegou até a porta de casas que ficam em frente ao mar, informou o jornal O Tempo.
Alexandre Vieira, gerente da Defesa Civil do município foi ouvido pelo jornal: “Dois postes de luz estão submersos. Embaixo d’água há pedaços dos muros. Árvores, deck e uma piscina também foram levados. São 12 casas que estão em risco. Um dos imóveis está a 70 centímetros da escarpa erosiva.”
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Entretanto, afirmamos categoricamente que o poder público, mesmo quando ciente das irregularidades não age ou age pouco nos municípios do litoral. Porquê? Normalmente porque a maioria dos prefeitos é quem comanda a especulação, financiados pela indústria da construção civil.
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Quer um exemplo? Veja o que acontece em Itajaí , um descalabro que reflete a omissão da opinião pública que não reage à destruição da zona costeira. É incrível esta omissão.
Cai uma grande árvore na Amazônia e o mundo vem abaixo. No entanto, os prefeitos que comandam a especulação no litoral, e consequentemente a destruição da beleza cênica da região, poucas vezes são sequer cobrados.
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O jornal O Tempo explica que a região atingida pela erosão tem cerca de 200 metros e é circundada por um ponto de elevação, onde fica uma rodovia e, no outro lado, uma área de vegetação.
Em desespero, os moradores fazem vigílias nas madrugadas. Durante o dia, em mutirão, enchem sacos de areia para montar defesas. Uma inútil tentativa de brecar um processo que, quando começa com tamanha força, não acaba tão fácil.
E, apesar do risco, informa O Tempo, os moradores permanecem nas casas. Algumas são casas de veraneio, mas a maioria mora no local há mais de 40 anos.
A angústia é tamanha que os moradores já fizeram dois protestos com bloqueio da rodovia SC-406, que fica na lateral da área atingida, e recorreram à Justiça para forçar o poder público a tomar uma medida emergencial.
Tadeu Lins, diretor da Associação Comunitária do Morro das Pedras, disse ao jornal O Tempo: “Se nada for feito essas casas vão vir abaixo. Queremos uma medida paliativa. Que montem a paliçada ali com os troncos de madeira e mais sacos de areia. Os proprietários que têm dinheiro compraram uns e doaram outros para os mais humildes, mas não é suficiente. Não adianta fazer só de uma parte. Tem que montar uma barreira ali.”
Moradores querem enrocamento
Para O Tempo, a prefeitura não confirmou se uma barreira será construída. Já os moradores querem a construção de um muro de pedras, um enrocamento, para conter as ondas.
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Segundo o jornal, a prefeitura já construiu duas destas barreiras próximas do local atingido. Uma delas, erguida numa área em que a rodovia SC-406 podia ser invadida pela água. A outra barreira foi colocada próxima à Lagoa do Peri para evitar que a água do mar a invadisse.
Para Tadeu Lins, “nos dois casos o argumento para autorizar as obras foi a abrangência pública. Aqui, eles alegam que o interesse é de particulares, não é público, e por isso barram.”
A Folha de S. Paulo ouviu o oceanólogo Carlos Eduardo Salles de Araújo, que tem monitorado o local. Segundo ele, ‘a subida da maré na região é provocada por fatores diversos que têm influência da lua, do vento, e da incidência de ciclones’.
O jornal também ouviu o professor do Departamento de Oceanografia da Univali, Mauro Michelena, que foi certeiro: “Uma coisa que a gente consegue dizer com bastante certeza, já que temos estudos sobre isso, é que eventos de grande energia como esse tendem a se repetir’.
É o óbvio. O problema da erosão costeira é mundial, e agravado pelo aquecimento. Acontece que no Brasil o poder público não leva a sério o aquecimento global. Nossos gestores são totalmente despreparados para a difícil tarefa de ordenar o crescimento de qualquer cidade, mais ainda quando ela sofre diretamente os problemas climáticos.
A falta de políticas públicas e ação por parte do Ministério do Meio Ambiente
O Brasil tinha o Programa Nacional para Conservação da Linha de Costa – Procosta, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente desde 2018, ‘visando o mapeamento de riscos em razão das mudanças do clima e dos eventos extremos’. Mas o ‘ministro’ o engavetou sem nada colocar no lugar.
Outro dos planos engavetados por Ricardo Salles, que teve a petulância de questionar o aquecimento, foi o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA). Criado em 2016, tinha como objetivo promover a redução da vulnerabilidade nacional à mudança do clima.
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Ainda que a esfera federal seja omissa, com uma política suicida em relação ao meio ambiente, a erosão costeira em Santa Catarina é por demais conhecida de moradores e autoridades locais.
Ricos e boçais
Nem assim pouparam as dunas da famosa praia do Campeche. As casas de veraneio, portanto de gente rica com poder para se informar, foram construídas em cima das dunas que têm como uma das funções atuar como repositório de areia das praias que são ‘comidas’ a cada ressaca.
Resultado? Diversas casas estão ameaçadas. É uma questão de tempo para que venham abaixo.
Balneário do Camboriú e Atafona, exemplos gritantes
O litoral se degrada a uma velocidade vertiginosa. A erosão corrói as bases do Balneário do Hermenegildo no Rio Grande do Sul, ou as do insustentável Balneário de Camboriú em Santa Catarina, vergonhosa catedral da especulação com seus prédios gigantescos e infraestrutura anã.
A erosão também demole Atafona, no norte fluminense, provocando milhares de desabrigados; repete a dose na foz do São Francisco, entre Alagoas e Sergipe; ou em Estados ricos como Santa Catarina cujo litoral é dos mais maltratados do País.
Mas o pior é termos um ministro de Meio Ambiente que, em pelo século 21, questiona o aquecimento O desvairado não toma nenhuma providência a não ser ‘caçar comunistas’, ou desfazer as poucas políticas públicas que haviam. E chega ao absurdo de tirar a proteção do nosso carbono azul.
O caso foi judicializado e o ‘desministro’ perdeu. Graças ao STF mangues e restingas continuam protegidos no País, ao menos no papel.
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Salles já se inviabilizou no exterior onde é recebido com repulsa nos fóruns internacionais por ter quase detonado a COP 25, de Madri, por arrogância, burrice e teimosia. E, de tanto insistir no lado errado das questões ambientais, acabou inviabilizado também internamente onde enfrenta duas investigações em tramitação no STF.
Até quando teremo esta desatinada política ambiental?
Imagem de abertura: Carlos Bortolotti/Divulgação/ND.
Fontes: https://www.otempo.com.br/brasil/ondas-engolem-muros-de-casas-em-praias-de-florianopolis-1.2493602; https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/06/ondas-engolem-muros-de-casas-em-praias-de-florianopolis.shtml#:~:text=A%20mar%C3%A9%20alta%20devastou%20a,uma%20piscina%20tamb%C3%A9m%20foram%20levados.