Degradação ambiental e novo vírus, correlação pra fazer pensar
Sob o título ‘A Coroa do novo vírus’, o jornalista Flávio Tavares publicou um interessante artigo em O Estado de S. Paulo de 6 de março de 2020. Flávio lembrou que ‘agora, quando a ciência avançou e superou atrasadas crendices, passamos a dar mais importância às consequências do que às causas concretas que produziram a tragédia do coronavírus.’
Foi certeiro. Semanas depois do comentário Flávio havia sido, salvo engano, o único jornalista da grande imprensa tupiniquim a chamar a atenção para o fato. Ele alertou: ‘imprensa, rádio e televisão analisam mais do que tudo as consequências econômico-financeiras provocadas pelo pânico do vírus.’ A degradação ambiental e novo vírus, é nosso comentário de hoje.
Degradação ambiental e novo vírus, COVID- 19, correlação pra fazer pensar
‘Não se fala em localizar as origens do novo horror epidêmico. E, assim, alertar para que o fenômeno não se repita em ciclos’. Mais uma vez, uma frase certeira. E como nada vem do simples acaso, Tavares provocou: ‘Nada surge das nuvens, como chuva. Não por acaso, o coronavírus só podia ter nascido na China, que desprezou a natureza para se industrializar e alimentar uma população que, antes, padecia fome.’
Em nome do “conforto”, a degradação ambiental e novo vírus
Flávio explica o sub-título: ‘Na moderna sociedade de consumo, em nome do “conforto”, a degradação está no ar, nas águas ou terras e nos assalta no lar. Mas agimos e atuamos como quem não se banhe e use perfume francês para iludir o fedor.’
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‘Cientistas sugerem que habitats degradados incentivam a diversificação de doenças’
A frase acima foi extraída de matéria da ONU, publicada em seu Environement Programme. Título: ‘Coronavirus outbreak highlights need to address threats to ecosystems and wildlife’. Traduzindo, ‘Destaques do surto de coronavírus precisam abordar ameaças a ecossistemas e vida selvagem’ No corpo do texto, a explicação: ‘As doenças transmitidas de animais para humanos estão em ascensão, à medida que o mundo continua a ver uma destruição sem precedentes de habitats selvagens pela atividade humana.’
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Em seguida, a necessária explicação: ‘ Os cientistas sugerem que habitats degradados podem incentivar processos evolutivos mais rápidos. E diversificação de doenças, já que os patógenos se espalham facilmente para o gado e os seres humanos.’
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Environement Programme, ‘Segundo a Organização Mundial da Saúde, os morcegos são os portadores mais prováveis do COVID-19. Mas, acrescentou a OMS, é possível que o vírus tenha sido transmitido aos seres humanos a partir de outro hospedeiro intermediário, seja um animal doméstico ou um animal selvagem.’
‘Coronavírus são zoonóticos’
Environement Programme, ‘Os coronavírus são zoonóticos, o que significa que são transmitidos entre animais e pessoas. Investigações anteriores descobriram que a Síndrome Respiratória Aguda Grave foi transmitida de gatos da cidade para humanos, enquanto a Síndrome Respiratória do Oriente Médio passou de camelos dromedários para humanos.’ Segundo a ONU, a declaração da OMS chegou poucos dias antes da China tomar medidas para coibir o comercio e consumo de animais selvagens.
Zoonoses ameaçam o desenvolvimento econômico e a integridade do ecossistema
Doreen Robinson, chefe de vida selvagem do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), declarou: ‘Os seres humanos e a natureza fazem parte de um sistema conectado. A natureza fornece comida, remédios, água e ar limpo. E muitos outros benefícios que permitiram que as pessoas prosperassem.’
O Environement Programme informa que ‘O relatório Frontiers 2016 do PNUMA sobre questões emergentes de preocupação ambiental mostra que as zoonoses ameaçam o desenvolvimento econômico, o bem-estar animal e humano e a integridade do ecossistema. Nos últimos anos, várias doenças zoonóticas emergentes foram manchetes do mundo por causarem ou ameaçarem provocar grandes pandemias. Estes incluem Ebola, gripe aviária, febre do Vale do Rift, vírus do Nilo Ocidental e doença do vírus Zika.’
Degradação ambiental e novo vírus: ‘ameaças múltiplas aos ecossistemas’
O alerta do Environement Programme prossegue: ‘Do ponto de vista da comunidade ambiental, é importante abordar as ameaças múltiplas e frequentemente interativas aos ecossistemas e à vida selvagem para impedir o surgimento de zoonoses. Incluindo perda e fragmentação de habitat, comércio ilegal de animais silvestres, poluição, espécies invasivas e, cada vez mais, mudanças climáticas.’
BBC repercute a degradação ambiental e os novos vírus
Apesar de ser evidente a relação entre degradação ambiental e os novos vírus, foram poucos os veículos de língua inglesa que também destacaram o mesmo fator causador dos novos vírus, como fez Flávio Tavares.
Um deles, foi a BBC. Matéria, ‘Coronavírus: Por que estamos pegando mais doenças de animais?’ Depois de destacar que ‘A crise do HIV / Aids dos anos 80 se originou de grandes símios, a pandemia de gripe aviária de 2004-07 veio de aves e os porcos nos deram a pandemia de gripe suína em 2009’, diz a rede inglesa: ‘As mudanças ambientais e climáticas estão removendo e alterando o habitat dos animais, mudando a maneira como eles vivem, onde vivem e quem come quem.’
E arrematou: ‘Quanto mais mudamos o ambiente, maior a probabilidade de perturbar os ecossistemas e oferecer oportunidades para o surgimento de doenças.’
Mudanças na China
Antes de encerrar, mais um destaque para o artigo de Flávio Tavares. Antes, lembremos que a China já foi citada muitas vezes por este site, por suas ações ambientais predatórias ao redor do mundo. Foi por isso que escrevemos o post China e a expansão predadora dos mares do planeta. E denunciamos o absurdo aterramento de corais para criar ilhas artificiais.
Mas, assim como Tavares reconhece que ‘nos últimos anos a China percebeu o erro e buscou energias limpas. Primeiro, evitou explorar o carvão mineral, que cobrira de cinzas campos e cidades…’, nós também escrevemos sobre a China ter prometido proteger mais de 1/4 de seu território ‘depois de perceber que seu crescimento dramático provocou uma incrível poluição do ar e da água’.
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Mudanças no litoral
Mas há outras coincidências entre o texto de Flávio Tavares e as matérias deste site. No final, Tavares lembra outras consequências das dramáticas mudanças provocadas pelo aquecimento global, e a falta de políticas públicas para mitigar o problema: ‘A desatenção à essência do que sejam as causas vai além do novo vírus. Está, também, noutros dramas diários. Neste verão, por exemplo, vem diminuindo a areia das praias de Guarujá, Ilhabela e outras, com o mar avançando sobre o que antes era o descanso dos banhistas. No Nordeste, “resolveram” o problema com diques de areia, que em poucos anos o mar vai tragar, de novo.’
Não faz muito tempo que publicamos o post Litoral engolido por eventos extremos, e sem políticas. E, ainda antes deste, lembramos que São Paulo naufragou recentemente pelos mesmos motivos.
Até quando?
Imagem de abertura: Environement Programme
Fontes: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,a-coroa-do-novo-virus,70003221728; https://www.unenvironment.org/news-and-stories/story/coronavirus-outbreak-highlights-need-address-threats-ecosystems-and-wildlife; https://www.bbc.com/news/health-51237225.