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Austrália consumida pelo fogo: a iminência do inferno

Austrália consumida pelo fogo: ‘a iminência do inferno’

“O dia vira noite, quando a fumaça apaga a luz nos minutos apavorantes, antes que o brilho vermelho anuncie a iminência do inferno. Chamas saltando 200 pés no ar. Tornados de fogo. Crianças aterrorizadas no comando de botes, fugindo das chamas, refugiados em seu próprio país, a Austrália consumida pelo fogo…Cientistas estimam que quase meio bilhão de animais nativos foram mortos. E temem que algumas espécies possam ter sido completamente destruídas. Os animais sobreviventes abandonam seus filhotes no que é descrito como “eventos de fome em massa”. Pelo menos 19 pessoas estão mortas, 21, desaparecidas… Tudo isso, e a alta temporada de incêndios está apenas começando.”

Editorial do New York Times

Os trechos entre aspas fazem parte de editorial do New York Times, escrito por Richard Flanagan, e publicado em 3 de janeiro de 2020. O ano começa mal…

Austrália: mandatários defendem indústria de combustíveis fósseis

Outros destaques do editorial do NYT: “E, no entanto, incrivelmente, a resposta dos líderes da Austrália a essa crise nacional sem precedentes não foi para defender seu país. Mas para defender a indústria de combustíveis fósseis, um grande doador para os dois principais partidos… Enquanto os incêndios explodiam em meados de dezembro, o líder do Partido Trabalhista da oposição fez um tour pelas comunidades de mineração de carvão, expressando seu apoio inequívoco às exportações. O primeiro ministro, o conservador Scott Morrison, saiu de férias para o Havaí…Desde 1996, sucessivos governos conservadores australianos lutam com sucesso para subverter os acordos internacionais sobre mudança climática em defesa das indústrias de combustíveis fósseis do país. Hoje, a Austrália é o maior exportador mundial de carvão e gás.”

Austrália contra mudanças climáticas

“Em grande parte, Morrison deve sua estreita vitória eleitoral no ano passado ao oligarca mineiro de carvão Clive Palmer, que formou um partido fantoche para manter o Partido Trabalhista – que estava comprometido com ações limitadas, mas reais, de mudança climática – fora do governo. O orçamento de publicidade de Palmer para a campanha foi mais do que o dobro dos dois principais partidos juntos. Palmer anunciou posteriormente planos para construir a maior mina de carvão da Austrália.”

Na Austrália também há negacionistas no poder

O poder não está em mãos de negacionistas só no Brasil. Se é que isso pode servir de consolo…E voltamos ao editorial: “Desde que Morrison, um ex-agente de marketing, foi forçado a voltar de férias e pedir desculpas publicamente, ele optou por gastar seu tempo criando imagens de si mesmo, posando com jogadores de críquete ou sua família. Ele é visto com muito menos frequência nas linhas de frente dos incêndios, visitando comunidades devastadas ou com sobreviventes. Morrison tentou apresentar os incêndios como uma catástrofe, como de costume, nada fora do comum.”

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Semelhança com a reação do poder público no Brasil

Qualquer semelhança com a reação do poder público no Brasil, ante as queimadas da Amazônia, ou o derrame de óleo no Nordeste, não é mera coincidência. Infelizmente, o que mais se vê no mundo são líderes incapazes no comando de países importantes. Na América do Norte, Donald Trump retira seu país do Acordo de Paris. Aqui no Sul, Bolsonaro credita o fogo às ONGs, e seu ministro do Meio Ambiente espera 38 dias para por os pés no litoral infestado de óleo. Na Austrália, segundo o NYT, “o vice-primeiro-ministro Michael McCormack atribuiu os incêndios ao estrume de cavalo.”

Não, a tragédia que vivemos não é só ambiental. É de falta de capital humano igualmente.

Mais semelhanças da Austrália com a ‘Pátria Amada’

As semelhanças não param. Segundo o NYT, “Essa postura parece ser um cálculo político assustador: sem oposição efetiva de um Partido Trabalhista devido à perda das eleições e com a mídia dominada por Rupert Murdoch – 58% da circulação diária de jornais – por trás da negação climática, Morrison parece esperar que ele prevalecerá desde que não reconheça a magnitude do desastre que envolve a Austrália.” No Brasil, Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente desfazem conselhos, demonizam ativistas, e desqualificam jornalistas. Do outro lado do mundo…NYT: “…Agora, seu governo tomou uma atitude autoritária perturbadora. Reprime sindicatos, organizações cívicas e jornalistas. De acordo com a legislação pendente na Tasmânia, espera-se que seja copiada em toda a Austrália, ativistas ambientais agora enfrentam até 21 anos de prisão por se manifestarem.”

‘Abririam as portas do inferno’

NYT: “Tais são aqueles que abririam as portas do inferno e levariam uma nação a cometer suicídio climático. Estima-se que mais de um terço dos australianos sejam afetados pelos incêndios. Por uma maioria significativa e crescente, os australianos querem ação sobre as mudanças climáticas. E agora estão fazendo perguntas sobre o crescente fosso entre as fantasias ideológicas do governo Morrison e a realidade de uma Austrália seca, que aquece rapidamente e queima…Hoje, na Austrália, um establishment político, esclerosado e demente com suas próprias fantasias, enfrenta uma realidade monstruosa que não tem capacidade nem vontade de enfrentar.”

‘Colapso da União Soviética: incêndios na Austrália ainda podem ser a Chernobyl da crise climática?’

A conclusão do NYT: “Como Mikhail Gorbachev, o último líder soviético, observou uma vez, o colapso da União Soviética começou com o desastre nuclear de Chernobyl em 1986. Na sequência dessa catástrofe, “o sistema como o conhecíamos se tornou insustentável”, escreveu ele em 2006 Será que a imensa tragédia, ainda em desenvolvimento, dos incêndios na Austrália ainda pode ser a Chernobyl da crise climática?”

Motivos dos incêndios na Austrália: dipolo positivo do Oceano Índico, um fenômeno semelhante ao El Niño

Quem explica é o https://www.cbc.ca/:”Como resultado do enfraquecimento dos ventos de oeste na região equatorial, a água quente do oceano profundo muda para a África a partir do Oceano Índico e a água fria sobe no leste. Para a Austrália, essa diferença de temperatura significa clima mais seco e quente para grande parte do continente.”

Ilustração: https://www.cbc.ca/.

Impressões digitais das mudanças climáticas

“No entanto, esse não é o único fator. O país está passando por condições de seca de longo prazo, mesmo quando não há um dipolo positivo. No leste da Austrália, que inclui Nova Gales do Sul, Queensland e Victoria, onde os incêndios são os piores, as chuvas foram as mais baixas já registradas…Como o resto do mundo, a Austrália está lidando com as consequências de um planeta em aquecimento. Desde 1910, a temperatura média do país aqueceu em 1° C. Dados preliminares do Bureau of Meteorology (BoM) da Austrália sugerem que em 2019 a temperatura anual naquele país estivesse 1,52° C acima da média.”

Austrália: um presságio para outros países

“O renomado climatologista Michael Mann, professor de ciências atmosféricas da Penn State University, esteve na Austrália durante os incêndios. Em um artigo de opinião  no Guardian, ele descreveu que o que está acontecendo na Austrália é um presságio para outros países – uma amostra de como será o nosso futuro se não agirmos agora”, disse Mann à CBC News. De particular preocupação para ele é a mina de carvão Adani planejada em Queensland (também conhecida como a mina Carmichael) que seria uma das maiores do mundo. E essa mina poderia liberar mais de 4,49 gigatoneladas anualmente de CO2 – o principal colaborador da crise climática. As emissões de dióxido de carbono estariam entre as “mais altas do mundo para qualquer projeto individual”, segundo um relatório conjunto de 2011 ao Tribunal de Terras de Queensland.”

A Antártica e os incêndios na Austrália

Prossegue a matéria do https://www.cbc.ca/: “Michael Mann, climatologista explica: A refletividade de um objeto é chamada albedo. No caso do gelo, sua superfície branca reflete a radiação solar e permanece fria. Mas se o gelo escurecer por algum motivo – digamos, se fuligem negra cair sobre ele – isso o aquece. Os incêndios na Austrália já mudaram o albedo das geleiras da Nova Zelândia. Se houver transporte para a Antártica … qualquer deposição de fuligem ou carbono preto no gelo significaria uma mudança no albedo e potencial aceleração do derretimento”.

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E conclui o especialista: “O que o futuro reserva é muito pior na ausência de ações sobre o clima.”

Vivas aos negcionistas, e… aos ‘estrumes de cavalo’ no poder!

Fontes: https://www.nytimes.com/2020/01/03/opinion/australia-fires-climate-change.html?fbclid=IwAR101tKqWbKFLMmMCB_8PNXf_liNLOZohgYfUtEi2xEMSlAg4rgrU8SzS84; https://www.cbc.ca/news/technology/australia-bushfires-1.5414325?__vfz=medium%3Dsharebar&fbclid=IwAR0JNBq0buj6QHBp2Dik8Jk2DE9WLdqUQI_aSymdXPAl3jVZ4-klXwBjqOA.

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