Aumento do metano na atmosfera preocupa cientistas
A revista Nature publicou em fevereiro de 2022 um aviso sinistro: ‘Cientistas alertam sobre o aumento “perigosamente rápido” do metano atmosférico’. As concentrações de metano na atmosfera ultrapassaram 1.900 partes por bilhão no ano passado, quase o triplo dos níveis pré-industriais, de acordo com dados divulgados em janeiro pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA). Aumento do metano na atmosfera preocupa cientistas.
O gás metano
De acordo com a Nature, o gás metano é cerca de 28 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2) quando o critério é efeito estufa. O composto orgânico Metano tem a fórmula molecular CH4 e se apresenta como um gás incolor, inodoro e muito inflamável.
Cientistas dizem que o marco sombrio ressalta a importância de uma promessa feita na cúpula climática COP26 do ano passado para reduzir as emissões de metano. E, segundo a BBC, ‘o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sugere que entre 30% e 50% do aumento das temperaturas se deve a esse gás poderoso, mas de vida curta’.
Principais fontes de metano
As principais fontes de metano incluem a agricultura, os campos de petróleo e gás e os aterros sanitários. Ocorre que, por décadas, os maiores esforços para enfrentar o aquecimento global têm se concentrado em limitar as emissões de dióxido de carbono (CO2) oriundas de atividades humanas, como geração de energia ou desmatamento.
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Crescimento das emissões de metano
Segundo a Nature, o crescimento das emissões de metano desacelerou por volta da virada do milênio, mas começou um rápido e misterioso aumento por volta de 2007.
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O pico fez com que muitos pesquisadores se preocupassem com o fato de o aquecimento global criar um mecanismo de feedback que fará com que cada vez mais metano seja liberado, tornando-se ainda mais difícil controlar o aumento das temperaturas. Euan Nisbet, cientista da Terra na Royal Holloway, Universidade de Londres, em Egham, declarou à revista:
Os níveis de metano estão crescendo perigosamente rápido. As emissões, que parecem ter acelerado nos últimos anos, são uma grande ameaça à meta mundial de limitar o aquecimento global a 1,5-2°C acima das temperaturas pré-industriais
Motivos do crescimento
Os estudos ainda não são conclusivos, mas a Nature especula sobre alguns: As explicações potenciais vão desde a expansão da exploração de petróleo e gás natural e emissões crescentes de aterros sanitários até rebanhos de gado em crescimento e aumento da atividade de micróbios em zonas úmidas.
“As causas das tendências do metano se mostraram bastante enigmáticas”, diz Alex Turner, químico atmosférico da Universidade de Washington em Seattle. E apesar de uma enxurrada de pesquisas, Turner diz que ainda não viu nenhuma resposta conclusiva surgir.
Entretanto, alguns pesquisadores acreditam que grande parte do aumento nos últimos 15 anos pode ser devido a fontes microbianas, em vez da extração de combustíveis fósseis.
Xin Lan, cientista atmosférico do Laboratório de Monitoramento Global da NOAA, disse à Nature que “(o aumento) é um sinal poderoso”, mas ele não está certo de que as atividades humanas por si só não são responsáveis pelo aumento.
Próximos passos
O próximo passo é tentar identificar as contribuições relativas de micróbios de vários sistemas, como pântanos naturais ou gado criado por humanos e aterros sanitários. Isso pode ajudar a determinar se o aquecimento em si está contribuindo para o aumento, potencialmente por meio de mecanismos como o aumento da produtividade das zonas úmidas tropicais.
Para conseguir respostas, Lan e sua equipe estão executando modelos atmosféricos para rastrear o metano de volta à sua fonte.
O aquecimento global pode estar por trás do aumento
Estamos na época das mudanças irreversíveis, ou muito próximos dela. Isto parece acontecer no Ártico. Em 2019 este site repercutiu um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, cujo título era Greenland’s Melting Ice Nears a ‘Tipping Point,’ Scientists Say, em tradução livre, O derretimento do gelo na Groenlândia se aproxima de um ‘ponto crítico’.
O mesmo acontece na maior floresta tropical do planeta. Para alguns cientistas, a Amazônia está rapidamente se aproximando do ponto de não retorno quando a floresta inexoravelmente se transformará numa savana.
Da mesma forma, a matéria da Nature traz uma enigmática pergunta: “O aquecimento está alimentando o aquecimento? É uma pergunta incrivelmente importante”, diz Nisbet. “Até agora, nenhuma resposta, mas parece muito assim.”
E conclui a Nature: Independentemente de como esse mistério se desenrola, as atividades humanas não podem ser descartadas. Com base em sua última análise das tendências isotópicas, a equipe de Lan estima que fontes antropogênicas, como gado, resíduos agrícolas, aterros sanitários e extração de combustível fóssil, foram responsáveis por cerca de 62% do total de emissões de metano desde 2007 a 2016.
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Aumento do metano na atmosfera e a ênfase na ação
A Nature conclui: Na COP26 em Glasgow, Reino Unido, mais de 100 países assinaram o Global Methane Pledge para reduzir as emissões em 30% em relação aos níveis de 2020 até 2030, e Duren diz que a ênfase agora deve estar na ação, inclusive em países de baixa e média renda em todo o mundo. “Enfrentar o metano é provavelmente a melhor oportunidade que temos para ganhar algum tempo”, diz ele, para resolver o desafio muito maior de reduzir as emissões de CO2 do mundo.
Assista a animação da NASA sobre o metano
Assista a este vídeo no YouTube
Imagem de abertura: Alagados, acervo MSF
Fontes: https://www.nature.com/articles/d41586-022-00312-2#:~:text=08%20February%202022-,Scientists%20raise%20alarm%20over%20’dangerously%20fast’%20growth%20in%20atmospheric%20methane,is%20behind%20the%20rapid%20rise; https://www.bbc.com/portuguese/geral-58386049.