Ushuaia, o Mar Sem Fim chega ao final da América do Sul
“Só por chegar em Ushuaia, a viagem valeu a pena. Era tarde quando atracamos no Iate Clube. Não deu pra fazer muita coisa. Jantamos e fomos dormir.”
Diário de bordo da primeira Viagem do Mar Sem Fim à Antártica (2010- 2011): Ushuaia
No dia seguinte rodamos bastante. A cidade é charmosa. Bonita, cercada por mostanhas com picos nevados, cheia de vida neste verão. Cosmopolita. Andando na rua ouve-se francês, alemão, inglês, italiano, além do castelhano. Ushuaia se tornou uma esquina do mundo para o turismo de aventura.
Ushuaia do ponto de vista náutico
Do ponto de vista náutico não tem o que se compare. Estamos atracados no emblemático Iate Clube de Afacyn, ao lado do famoso L’esprit d’équipe, veleiro vencedor de uma Witbread sensacional (regata de volta ao mundo que precedeu a Volvo Ocean Race).
Do outro lado está o Saudades III, de um dos maiores experts na região dos canais da Patagônia, autor do guia Patagonia & Tierra del Fuego- Nautical Guide, Giorogio Ardrizzi.
Também por aqui o Pelagic, do veterano Skip Novak, e até um clássico, o Nordwind, um veleiro construído em 1939, com dois mastros de madeira. Uma beleza.
Na terça, dia 15, chegou o Kotic, de Oleg Bely. Barco e capitão mitológicos. O clima não poderia ser mais inspirador. E sabe do melhor? O Mar Sem Fim faz bonito, é único barco brasileiro nesta temporada.
Oleg Bely a bordo do Mar Sem Fim
No dia seguinte Oleg veio a bordo. É incrível, faz 20 anos que eu e ele nos falamos, sem conseguir nos encontrar. Nos anos 80 comprei um lugar, a bordo do Kotic, para conhecer a Antártica. Estava tudo certo para a partida quando a primeira Guerra do Golfo atrapalhou meus planos. Fiquei em São Paulo para acompanhar a cobertura da Eldorado. No meu lugar embarcou uma reporter do Estadão. Este foi o primeiro desencontro com Oleg.
Desde então, de tempos em tempos trocamos e mails, ou nos falamos, tentando afinar as agendas.
No ano passado quase conseguimos nos ver. O Mar Sem Fim estava em Salvador, na mesma época que o Kotic. Oleg aproveitava o fim da temporada austral para fazer uns reparos em seu veleiro. Mas houve novo desencontro.
Tinha mesmo que ser aqui, em Ushuaia…
O roteiro antártico
O velho Lobo do Mar, ele merece o título, é muito simpático. Relembramos todos estes casos. Depois sentamos na mesa, com as cartas abertas, e começamos a estudar o roteiro antártico. Ele nos deu diversas dicas sobre lugares especiais. Passamos a manhã batendo-papo.
Fiquei feliz ao autografar meus dois livros, O Brasil Visto do Mar Sem Fim, e Embarcacões Típicas da Costa Brasileira. Os franceses amam os barcos típicos…
Quando a reunião acabou, senti um grande cansaço. Pedrão e Cardozo, que está com a mulher, Cris, ela veio visitá-lo, saíram para passear e me convidaram. Recusei. Não aguentava ficar de pé. Deitei na sala e dormi profundamente.
Adrenalina de finalmente estar aqui…no fim do mundo
Acho que foi a adrenalina de finalmente estar aqui, e começar a preparação para o ponto crítico da viagem: a travessia do Drake. O papo com o Oleg desencadeou minha reação, não tenho dúvidas.
Esta parada em Ushuaia, depois de um mes embarcados, fez bem à toda tripulação. Arejou o ambiente.
Os dias foram aproveitados para acertar pequenos detalhes a bordo, rever equipamentos, e fazer a manutenção de motores e geradores.
Adriano, enfurnado na cabine, trabalha sem parar nos programas
Enquanto isto, o editor, Adriano, enfurnado na cabine, trabalha sem parar nos programas. Hoje, finalmente coloquei a voz no primeiro. Gostei do resultado final. Cardozo e Adriano são excelentes profissionais. O que me falta em experiência na TV, sobra pra eles. Juntando as forças, o resultado cresce.
Reabastecemos o barco
Com tudo pronto, reabastecemos o barco para esta longa etapa: mais um mês de viagem, desta vez quase sem escalas em cidades. A única, prevista na rota, é a pequena Puerto Willians, que fica a 30 milhas de distância. De lá vamos para Puerto Toro, que nem chega a ser uma cidade, mas uma pequena comunidade.
Em seguida esperamos uma janela de tempo, fundamental para atravessar o Drake, em alguma baía atrás do Cabo Horn. O Mar Sem Fim precisa 50 horas de tempo bom para cobrir as 450 milhas que separam o extremo sul, da América do Sul, da Antártica.
Já estamos recebendo previsões do meteorologista Rubens Villela, um dos primeiros brasileiros a ir para a Antártica. É bem provavel que a gente passe o Natal navegando.
Já pedi nosso presente: tempo bom na travessia.
Boas festas.
Saiba como foi o resgate do Mar Sem Fim dois anos depois dessa viagem