Até Punta del Este

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    Chegamos em Punta esta tarde. Navegada tranquila, gostosa.

    Fora da cabine faz um pouco de frio, mesmo com vento fraco, como tivemos. O céu anda nublado por aqui.

    Mas pudemos navegar rente a linha da costa, para gravar imagens para os documentários.

    O litoral do Uruguai tem cerca de 600 quilômetros. Conhecemos um terço dele. O trecho mais inóspito da costa deste pequeno país é justamente o que percorremos desde o Chuí. Quase não há pontos notáveis. É praticamente uma só linha de praia até Cabo Polônio. A partir deste ponto, o litoral inflete para Oeste, e começa outra linha de praia que só termina em Punta Del Este. Esta região é de ventos fortes, o que contribuíu para a formação de dunas em todo o percurso.

    Raras vezes se vê alguma casa. Mas quando aparecem, estão atrás da linha da praia.

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    O destaque é a colônia de lobos marinhos em Cabo Polônio. Ela já chegou a abrigar cerca de 300 mil animais.

    Cabo Polonio- no canto inferior direito, um lobo marinho.
    Cabo Polonio- no canto inferior direito, um lobo marinho.

    La Paloma, onde dormimos esta noite, poucas milhas mais abaixo, é um pequeno porto pesqueiro, e base naval da marinha uruguaia. O povoado tem em torno de cinco mil habitantes. Mas, como no Brasil, a ocupação privilegiou o modelo de segunda residência. Nas férias, nos disse um motorista de taxi durante um rápido giro, a população mais que triplica.

    Durante estas 400 milhas cruzamos com poucos barcos de pesca e, mesmo assim, brasileiros, próximos à Rio Grande. Desde que entramos no litoral uruguaio não vimos sequer um deles. Que bom. Parece que, ao menos, este pedacinho de mar não está sendo superexplorado.

    A boa impressão acaba ao nos aproximarmos de Punta del Este.

    O Mar Sem Fim chegando em Punta del Este
    O Mar Sem Fim chegando em Punta del Este

    Espigões até onde a vista alcança. De longe dá a impressão dum paliteiro. A muralha de concreto vai de um extremo ao outro da praia. E o que já teve uma fisionomia original, provavelmente interessante, e possivelmente bonita, se tornou banal. Uma Miami qualquer.

    Guarujá, Miami, ou Punta del Este, qual a diferença?
    Guarujá, Miami, ou Punta del Este, qual a diferença?

    Será que a gente não aprende nunca? Só os paraíbanos têm a capacidade de preservar sua paisagem marinha? Custo a acreditar (leia o diário de bordo da viagem pela costa brasileira, capítulo Paraíba). A paisagem é um bem coletivo que recebemos das gerações passadas. De certa forma é nossa obrigação preservá-la para que, as que vierem no futuro, também as conheçam, e se emocionem com elas. Afinal, não somos “donos” do planeta, mas inquilinos. Viemos de passagem. Não temos o direito, na nossa vez, de estragar definitivamente o que a natureza custou eras para formar. Mas é isto que está acontecendo: estamos deixando pegadas duras, pesadas e irreversíveis, em quase todos os cantos em que colocamos os pés. Infelizmente neste caso, não me orgulho nem um pouco delas.