Viagem da Kika, diário de bordo Nº 8
O site Mar Sem Fim está acompanhando a viagem da Viagem da Kika, diário de bordo Nº 8, Francisca Przirembel Angeli, amiga que resolveu dar um tempo e navegar pelo mundo.
AUSTRÁLIA – QUEENSLAND
Partimos de Nouméa, capital da Nova Caledônia, rumo à Austrália, no caminho paramos nas ilhas Chesterfield no Coral Sea. Atravessamos a maior barreira de corais do mundo na altura de Whitsunday, o tráfego de navios era intenso. A rota até o Estreito de Torres, com destino ao Oceano Indico, é mais curta e abrigada entre a barreira de corais e o continente australiano. Fizemos a documentação de entrada em Townsville, um oficial da quarentena revistou minuciosamente o barco procurando comidas frescas e rastro de cupins nas madeiras. A taxa de aud 400 é alta, afugentando velejadores viajando low budget.
Velejando com destino a Cairns
Seguimos velejando rumo norte com destino a Cairns com vento intenso, com direção predominante de sudeste. Os alísios chegam até aqui mas o swell do mar aberto é interrompido pela barreira de corais, no entanto, no verão, ocorrem ciclones nesta região.
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A Austrália é um país pouco menor que o Brasil, com uma população de apenas 24 milhões de habitantes. A costa leste é a que concentra maior densidade demográfica. Uma serra, Division Range, que corre de norte a sul ao longo da costa leste, divide o país geograficamente. Existem 500 parques nacionais ocupando 28 milhões de hectares, área que corresponde a 4% do país, além disso outros 6% são protegidos como florestas estatais, parques naturais e reservas de conservação.
44 Parques Marinhos: governo pede que público se manifeste sobre Plano de Manejo
Existem 44 parques marinhos. No site oficial, o governo convida a opinião pública a se manifestar sobre o plano de manejo para um período de 10 anos. 14 áreas são consideradas patrimônio da humanidade pela UNESCO. Alguns dos parques são gerenciados conjuntamente com as comunidades aborígenes tradicionais. É visível a atual vontade política de reconhecimento e reconciliação com um passado ainda recente de violência e preconceito. A maioria dos Parques Nacionais são administrados pelos estados e territórios, o governo central cuida de 6 Parques terrestres, e 13 marinhos. Todos os Parques Nacionais tem, no mínimo, instalação de banheiros, trilhas bem sinalizadas, mesas para pic-nic e placas informativas sobre a região. O acesso é gratuito, para acampar é preciso pedir permissão e pagar uma pequena taxa, a reserva pode ser feita por internet.
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Chegando em Cairns
Aluguei uma camper van por 3 semanas, minha querida amiga Erika, a Bolota, decidiu vir dos Emirados Árabes para fazermos a road trip juntas.
Na nossa casinha sobre quatro rodas era possível dormir e cozinhar. De noite parávamos em caravan parks com instalações de banheiro, lavanderia, eletricidade e camp kitchen, muitos com direito a wi-fi. Impressionante como os australianos gostam de viajar por seu país, encontramos aposentados, famílias e jovens percorrendo grandes distâncias com seus trailers, veículos 4×4 e camp vans.
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O plantio de cana de açúcar predomina a paisagem. Subindo a serra chegamos na região chamada Tablelands, uma grande área foi desmatada para dar lugar a pastagens e plantio de frutas. No entanto, Parques Nacionais e Reservas, preservam a mata nativa tropical. Na década de 80 a comunidade local lutou contra a derrubada de arvores. Hoje existe um belo projeto de replantio de mudas formando um corredor entre o Lake Barrine e Yungaburra. Visitamos o Crater Lakes National Park, com dois lagos com águas límpidas formados na cratera de extintos vulcões, Lake Barrine e Lake Eacham. A região é muito pitoresca, com belas cachoeiras, relevo ondulado e verdejante mesmo no inverno, época de pouca chuva. No último sábado do mês ha uma feira artesanal em Yungaburra onde pequenos produtores vendem alimentos e cosméticos orgânicos, artesãos elaboram joias com opalas e outras pedras garimpadas na região.
Mt Hypipamee National Park
Caminhando numa trilha no meio da mata no Mt Hypipamee National Park, tive a sorte de encontrar um cassowary, uma ave quase em extinção do tamanho de uma avestruz, com penas pretas, pescoço azul com detalhes em vermelho e uma enorme crista de osso sobre a cabeça. Vimos também os exóticos ornitorrincos numa lagoa, pequenos mamíferos peludos que colocam ovos, tem patas com membranas entre os dedos e bico como de um pato.
No passado a região teve exploração de vários minérios, no Historic Village Herberton mais de 50 construções da época da mineração foram restauradas e transportadas formando uma pequena cidade, com mobiliário e objetos da época, um projeto bem realizado e educativo.
Entramos na vasta região chamada outback
Ultrapassando a Division Range, entramos na vasta região chamada outback, onde o clima é cada vez mais árido e a paisagem desértica. Visitamos o Undara Volcanic National Park, caminhamos dentro de gigantescos túneis de lava formados por erupções vulcânicas 190.000 anos atrás.
Esse foi o único Parque Nacional que tivemos que pagar para uma visita guiada e obrigatória. O antigo proprietário vendeu sua fazenda para o estado com a condição de manter para si o direito de exploração turística dos túneis de lava, conservou uma pequena área onde montou uma boa infraestrutura com alojamento, restaurante, anfiteatro e loja.
Croydon, cidade pioneira da mineração de ouro
Seguimos rumo oeste e pernoitamos em Croydon, cidade pioneira da mineração de ouro que chegou a ser a terceira maior de Queensland. Hoje o clima é de melancolia. Para o escoamento do ouro foi construída uma estrada de ferro, a Gulflander, até o Golf of Carpentaria, mais próximo da Ásia. A população aborígene da região foi deslocada para uma área restrita. Houve uma ocupação chinesa que em muitos casos se misturou com a aborígene.
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Karumba, no Golf of Carpentaria
Chegamos em Karumba, no Golf of Carpentaria. O lugar é uma meca de pescadores, o movimento de barcos na rampa pública é intenso. O pessoal deixa os carros com trailers num espaçoso estacionamento gratuito. O peixe favorito é o barramundi, de lá também zarpam os pesqueiros comerciais de camarão. Assistimos o por do sol de infinitos laranjas no Oceano Índico, comendo camarões fresquinhos no Sunset Tavern. A região é o habitat de enormes crocodilos de água salgada. Em Normanton, há uma réplica do maior exemplar já caçado com 8,60 metros, abatido por uma mulher.
Burk & Will’s Roadhouse
A próxima parada foi em Burk & Will’s Roadhouse. Lugar legendário, a primeira expedição que atravessou a Austrália de sul a norte chegou ao fim nas redondezas do nosso acampamento. Os aventureiros chegaram até Normanton e morreram retornando para Melborne. No caravan camp encontramos um grupo de motoqueiros viajando. Muita gente cultua seguir o roteiro da expedição vitoriana.
Boodjamulla National Park
Avançamos rumo ao poente, até o Boodjamulla National Park, na fronteira de Queensland com Northern Territory. A estrada é de terra, na época de chuva a área é inundável, a paisagem é bela, um capim dourado com poucas arvores. No parque, alugamos uma canoa e subimos o rio Boodjamulla remando. Passeio inesquecível, gargantas de arenito laranja, água verde e palmeiras; terra sagrada dos Waanyi. Nadamos em cachoeiras no meio do percurso, vimos um crocodilo de água doce, bastante inofensivo comparado aos parentes de água salgada. Pernoitamos em Adels Grove, o acampamento dentro do parque exige reserva e estava lotado. O local é muito bem estruturado, tem acomodação para hospedagem, restaurante e organiza passeios.
O caminho de volta
Pegamos o caminho de volta por outra estrada mais ao sul, região com muitas fazendas de gado e carneiros. A cidade de Richmond é bastante prospera. Visitamos o museu de dinossauros marinhos, e aprendemos que o Eromanga Sea passava antes por aqui, no meio do continente. Me surpreendeu que os fosseis do museu foram coletados por fazendeiros da região. Preparamos nosso jantar numa churrasqueira elétrica pública na beira do lago.
Na rota dos dinossauros
Ainda na rota dos dinossauros, passamos por Hughenden, em seguida uma placa informava ausência de postos de abastecimento por 253 km. Paramos no Porcupine Gorge National Park para apreciar a vista espetacular do cânion formado pelo rio nas camadas de arenito. O acampamento estava lotado. Seguimos viagem, na beira da estrada wallaroos, parentes dos cangurus, nos observavam.
Mas a estrada estava em obras. Não havia lugares para pernoitar. A noite caiu e o motor do carro superaqueceu. Não tínhamos sinal nos celulares, passaram dois veículos que não pararam. Verificamos que não faltava óleo no motor, mas o liquido do cooler havia secado.
Uma encruzilhada no meio do nada
Esperamos o motor esfriar, colocamos agua no cooler e seguimos até o Oasis Roadhouse, uma encruzilhada no meio do nada. O auxilio mecânico veio no dia seguinte. A van foi guinchada para Charters Towers, e depois até Cairns. Viajamos na cabine dos caminhões e tivemos tempo de sobra para conversar com os motoristas.
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Richard nos contou que o filme “Passagem para a Índia” retratou a vida de sua avó; Curly dirigia antigamente train trucks levando gado Austrália afora. O caminhão, com 3 carretas e dois andares, leva 130 vacas adultas ou 300 novilhos. Pesa 60 toneladas vazio e tem 72 pneus. A história do aluguel da camper van terminou mal, contratei seguro total mas a empresa cobrou uma fortuna no meu cartão pelos serviços que não constavam no contrato por escrito.
Viagem para o norte
Mais tarde fiz uma viagem para o norte, com o Georges. Fomos de carro e acampamos na beira de rios, praias e bush, em contato mais corpo a corpo com a natureza selvagem. Visitamos o Daintree National Park, considerado patrimônio da humanidade como a rainforest mais antiga do planeta. Na década de 80 ativistas fizeram um bloqueio para impedir a construção de uma estrada na região. O confronto tomou proporções nacionais. Hoje, para chegar até Cooktown pelo litoral, é preciso um veículo 4×4. Chegamos até Cape Tribulation, onde o Capitão James Cook sofreu graves avarias quando seu navio se chocou contra corais. Cook conseguiu salvar a embarcação jogando até os canhões no mar.
A bordo do Antarctic
Estamos agora a bordo do Antarctic. Faremos uma saída até alto mar pois meu visto australiano não permite permanecer no país por um período maior que três meses. Em alguns dias faremos nova entrada para descer a costa leste australiana com destino à Tasmânia.
Assista o vídeo desta etapa, o animal que surge, aparição fugáz, é o famoso ornitorrinco: