Viagem da Kika, diário de bordo Nº 7
Viagem da Kika, diário de bordo Nº 7: o site Mar Sem Fim está acompanhando a viagem da Kika, Francisca Przirembel Angeli, amiga que resolveu dar um tempo e navegar pelo mundo. Este é seu sétimo relato.
TRAVESSIA DO PACÍFICO – POLINÉSIA
Deixando para trás a ilha de Pascoa nosso próximo destino foi o arquipélago Gambier, na Polinésia Francesa. Pelo caminho paramos em dois atóis paradisíacos e desabitados, Deuci e Oeno.
Os atóis consistem de uma lagoa rodeada por uma barreira de corais com areia e alguma vegetação, o vulcão de origem afundou totalmente dentro da lagoa. São verdadeiros oásis no meio do oceano, varias espécies de pássaros chocavam seus ovos, diversas tribos de caranguejos coabitavam entre areia e agua, a variedade de corais e peixes fazem da lagoa um aquário de beleza indescritível. Passamos também ao largo da ilha Henderson, com uma formação de corais elevada e abundante vegetação sobre os penhascos.
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Gambier é a capital das perolas negras, atividade que traz bastante riqueza para a população local. O arquipélago é composto por varias ilhas dentro da barreira de corais, sendo Mangareva a principal delas. No domingo a missa católica é concorrida e cantada animadamente. Os altares da igreja construída pela missão francesa são entalhados com madrepérola. Na ilha Aukena ficamos amigos de Bernard, um simpático descendente da família real local. Ele nos ofereceu várias frutas cultivadas em sua propriedade, entre elas enormes e deliciosos grapefruits.
Polinésios são alegres e gentis
Os polinésios são alegres e gentis, suas casas e jardins muito bem cuidados. Navegando com suas canoas pirogas ocuparam um vasto território compreendido no triangulo entre as ilhas de Pascoa, Hawaii e Nova Zelândia. As plantas e animais alcançaram as distantes ilhas levados pelas correntezas marítimas e pelo ar com as tempestades tropicais.
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Navegando numa latitude próxima ao Tropico de Capricórnio
Navegamos através da Polinésia com ventos alísios numa latitude próxima ao Tropico de Capricórnio. Geralmente os veleiros que cruzam o canal do Panamá fazem um percurso mais ao norte, passando pelas ilhas Marquesas e Tahiti, na nossa rota encontramos poucos barcos viajando e turismo.
Seguimos para o conjunto de ilhas chamadas Australes
De Gambier seguimos para o conjunto de ilhas chamadas Australes, as mais ao sul e isoladas da Polinésia Francesa. Paramos em Raivavea e Tubuai, esta última tem escola secundaria para os jovens de toda a região. Além da educação o governo francês banca uma passagem para casa durante as férias. Percorremos as ilhas de bicicleta, uma ótima forma de conhecer pois a ocupação se dá ao longo da costa. As pirogas são onipresentes.
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Estas ilhas são montanhosas de origem vulcânica, circundadas por barreiras de corais formando uma calma lagoa em tons turquesa. Sobre a barreira surgem pequenas ilhotas de areia e alguma vegetação chamadas mutus. Ao seguir viagem contornamos Rurutu, outra ilha do grupo das Australes, grande e montanhosa com penhascos. Parece ser menos ocupada que as anteriores.
A caminho das ilhas Cook
A caminho das ilhas Cook passamos pela ilha Maria, no limite da polinésia francesa, muitos pássaros voando, mutus desertos com coqueiros, swell quebrando na barreira de corais.
As ilhas Cook fazem parte da polinésia mas tiveram colonização inglesa, diferente da administração francesa tudo parece mais ordenado e funcional, no entanto com menos tradição. Passamos ao lado de Mangaia, a primeira ilha Cook do nosso percurso, com costeira de coral elevada e cavernas, coqueiros recuados, nas colinas centrais plantação de pinheiros. As construções que pudemos avistar eram em geral grandes e sem características polinésias.
Paramos em Rarotonga, capital das ilhas Cook
Paramos em Rarotonga, capital das ilhas Cook, com boa infraestrutura de turismo e próxima à Nova Zelândia. Ela tem muitos residentes neozelandeses aposentados. Subimos por uma trilha até a agulha de pedra Te Rua Manga, a vista 360˚ era espetacular, muitas montanhas recortadas cobertas de mata nativa. A água doce é abundante.
Ancoramos em Beveridge Reef
Seguindo viagem ancoramos em Beveridge Reef, uma barreira de corais que forma uma lagoa no meio do oceano, porém sem ilhas nem mutus. Nadamos na lagoa de infinitos azuis delimitada apenas por uma barreira quase invisível, inacreditável.
Atrasando o relógio conforme o fuso horário
Avançando sempre rumo ao poente fomos atrasando o relógio conforme o fuso horário, ao nos aproximarmos da longitude 180˚ passamos pela linha internacional de mudança de dia. Para nós este dia não existiu.
A bordo do Antarctic usamos o sistema de comunicação via satélite chamado Iridium Go, através dele temos acesso à meteorologia permanente. Georges viu que entraria muito vento e decidiu se abrigar em Tonga. Atracamos no porto de Nuku’alofa, ilha principal do arquipélago.
Tonga: uma monarquia constitucional
Tonga é uma monarquia constitucional, aparentemente o último reinado no Pacífico Sul, homens e mulheres usam sarongue, o folheto turístico oficial informa as regras dos bons costumes. No comércio a ocupação chinesa e de Taiwan é predominante. Um enorme porto pesqueiro está sendo construído com recursos japoneses.
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Zarpando rumo à Nova Caledônia
Depois de três dias o vento diminuiu e zarpamos rumo à Nova Caledônia. Passamos por duas ilhas no caminho: a ilha Hunter, com uma formação diferente de basalto na parte superior e sedimentar na inferior, e a ilha Walpole, que parece um enorme iceberg alto e completamente chato. A ilha é formada por corais que emergiram do oceano, com pouquíssima vegetação e uma infinidade de pássaros.
Reservas de níquel
A Nova Caledônia é francesa e muito rica devido às reservas de níquel. A cultura nativa é a melanésia, existem diferentes tribos mas a denominação comum dos nativos é kanak. A divisão politica entre kanaks e franceses é de longa data e já gerou muita violência. O arquipélago consiste de uma grande ilha principal, onde está a capital Nouméa e as minas de níquel, e várias ilhas menores.
Clarão de Nouméa à distância
Na noite anterior pudemos ver o clarão de Nouméa à distância, indicando a aproximação da civilização. De manhã avistamos as primeiras ilhas da Nova Caledônia. Na paisagem se destacam as araucárias Norfolk nativas, quase não se vêm coqueiros. Passamos a barreira de coral e ancoramos na Îlot Brosse para um mergulho. A praia é de areia branquíssima e muito fina, encontramos muitas pedras pome formadas no solo do oceano por lava vulcânica. Elas flutuam se jogadas na água.
Marina Port Moselle
Em Nouméa ficamos na marina Port Moselle no centro da cidade e nos conectamos com todas as facilidades como eletricidade, água e internet. Entre marinas e barcos ancorados existe uma grande quantidade de veleiros de várias bandeiras, mas principalmente francesa e australiana. A cidade tem uma ótima infraestrutura de turismo. Os supermercados parecem ser os da França tal a variedade e sofisticação dos produtos. Visitamos o Centre Culturel Tibajou, um belo projeto politico de afirmação da identidade melanésia desenhado por Renzo Piano.
Estamos agora navegando pelo Coral Sea
Estamos agora navegando pelo Coral Sea, a caminho da Austrália, conforme o previsto chegaremos em Cairns em torno do dia 20 de junho para o casamento de um sobrinho do Georges. Fizemos a travessia do Pacifico em dois meses e meio. É pouco tempo, nossas paradas foram rápidas em cada ilha. Para mim é a realização de um antigo sonho, me sinto afortunada, a oportunidade não poderia ser melhor.
Último vídeo deste trecho da viagem