Usinas hidrelétricas, você pode reclamar, mas o Brasil ainda precisa delas
A cada novo projeto de usinas hidrelétricas parece que o mundo vem abaixo. As redes sociais explodem em críticas. Do nada surgem os ‘xerifes da Amazônia’. Eles se aglutinam como um enxame de abelhas em fúria, e ameaçam lançar seu veneno a quem ousa discordar. Reclamam, protestam, ameaçam, xingam os idealizadores. As ONGs, com maior ou menor prestígio, saem de suas tocas e botam lenha na fogueira. A histeria se instala.
Dados da perda de biodiversidade vêm à tona; defensores dos povos da floresta usam seus computadores, acionam suas redes, e saem em sua defesa. Como conseguem, tão rapidamente, organizar seus exércitos? Fazendo uso da energia elétrica…A pergunta que fica, e que geralmente ninguém faz é, como produzir energia em larga escala sem elas?
O professor José Goldenberg, uma das cabeças mais lúcidas do Brasil, responde:
‘A reabilitação das Usinas Hidrelétricas’
Esse é o título do artigo do físico, ex- reitor da USP, ex-professor da Universidade de Paris (Orsay), ex- Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), autor, entre outros, do livro “Energy for a Sustainable World”, José Goldenberg.
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‘A recuperação da atividade econômica vai levar a um aumento do consumo de eletricidade’
Goldenberg ressalta que ‘se não forem tomadas agora medidas adequadas, o seu preço vai aumentar, alimentando a inflação e tornando a vida mais difícil para a população de baixa renda.’
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O professor, que no governo Collor assumiu dois ministérios, o do Meio Ambiente e o da Saúde, e comandou a ECO 92, aconselhou:
O governo federal, que tem introduzido com coragem reformas importantes apesar de impopulares, deveria aproveitar este momento para equacionar os problemas de energia que o país vai enfrentar nos próximos anos…
E destaca que o problema essencial ainda não foi enfrentado:
“Como produzir energia a custos baixos?”
“A resposta é simples”, diz Goldemberg, “ampliar o parque gerador de usinas hidrelétricas com reservatórios suficientes para enfrentar períodos de seca como tem acontecido no passado.”
“Fazer isto tem de fato impactos locais como os que ocorreram em Belo Monte. Sucede que estes custos precisam ser comparados com os benefícios que decorrem dessas usinas para o restante da população brasileira. Pode ser lamentável inundar algumas centenas de quilômetros quadrados de florestas, mas este número deve ser comparado com o desmatamento de de mais de 5 mil quilômetros quadrados que ocorre a cada ano.”
O professor lembra que “nessa área o Brasil tem ampla experiência e engenharia suficiente para realizar grandes obras como Itaipu e ainda há muitas outras usinas hidrelétricas para construir.” E prossegue: “eletricidade barata produzida nestas usinas representa hoje cerca de 70% do consumo brasileiro. São enormes volumes de energia que não podem ser substituídos facilmente por outros métodos como a energia dos ventos ou solar que são intermitentes. Quando não venta, energia não é produzida; à noite, células fotovoltaicas não produzem energia.”
“O problema que ocorreu nos últimos 30 anos”
Depois de lembrar em seu artigo do Valor que ‘o sistema no Brasil é todo integrado de modo que as diversas fontes se complementam’, Goldemberg põe o dedo na ferida:
visões equivocadas de grupos mal informados levaram o governo federal a abandonar praticamente toda a construção de reservatórios para usinas hidrelétricas que inundavam algumas áreas, deslocando os ribeirinhos e alagando áreas florestais. Nos últimos anos as hidrelétricas têm sido construídas a fio d’água isto é, sem reservatórios (ou com reservatórios pequenos) e só geram adequadamente em períodos chuvosos, quando os rios estão cheios.
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E prova, com seu inequívoco conhecimento:
Na década de 80 do século passado, o volume de água nos reservatórios era suficiente para garantir a produção plena por dois anos, mesmo com secas prolongadas. Hoje, o volume nos reservatórios só garante a produção pelo período de seis meses
Queimando combustíveis fósseis, mais caros, que acirram o aquecimento global
É por essa visão equivocada, diz o professor, que é preciso acionar usinas térmicas usando gás ou carvão que produzem eletricidade mais cara quando chove pouco. E ensina: “hidrelétricas não consomem combustível.
O custo da energia se origina da construção das usinas. Nas térmicas, o custo do combustível é dominante, sobretudo no Brasil onde o gás natural é caro.”
Em 2018 as tarifas serão 10% mais caras
O resultado da pressão dos defensores da floresta, e da falta de vontade em enfrentar a situação, é este: energia mais cara, como está previsto para acontecer este ano.
Goldemberg lembra que o processo vem se repetindo há anos e levou às crises de 2001 e 2013. Por quê? Porque elas se originam “na falta de determinação e coragem do governo em esclarecer a população da necessidade de construir hidrelétricas corretamente com reservatórios.”
O professor lembra que…
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…o ruído feito por certos grupos de pressão, incluindo leigos de toda espécie, tem dominado o debate
E o Mar Sem Fim acrescenta, este “ruído dos leigos de toda espécie” é o lado mais nefasto das redes sociais. Nelas, impera o emocional, quase nunca o racional. De que adianta gastar bilhões construindo hidrelétricas sem reservatórios condizentes? Ao menos Belo Monte superou essa picuinha. Quando pronta, será a terceira maior do mundo. Vai geral 11 mil megawatts. Vamos aos dados: Belo Monte foi orçada em R$ 16 bilhões, leiloada para um grupo de empreiteiras, quase todas envolvidas na Lava Jato, por R$ 25,8 bilhões, e financiada por R$ 28 bilhões; o custo final por enquanto (ainda faltam dois anos para o término da construção) está em R$ 33 bi, sendo que R$ 3,2 bi teriam sido superfaturados de acordo com denúncia do TCU. Das 18 turbinas que estarão em operação até 2019, dez funcionam hoje.
Abandonar as hidrelétricas e investir nas renováveis?
Goldemberg aborda a questão. Mas lembra que todas as opções das renováveis, eólica, solar (fotovoltaica), e biomassa “são boas e estão sendo introduzidas, mas há uma questão aritmética: elas são fontes de energia produzidas em pequenas unidades, de modo que são necessárias centenas ou milhares delas para gerar tanta energia como uma hidrelétrica de porte médio.”
Para ele “o Brasil é um país altamente urbanizado e para abastecer as nossas metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro são necessários grandes blocos de energia, como o de Itaipu, que gera 12 mil megawatts.”
E retoma o ponto principal que gerou sua reflexão no jornal: “não vai ser possível abrir mão desta geração em nossas usinas se o consumo de eletricidade aumentar 4% ou 5% ao ano, como se espera que ocorra com a recuperação econômica.”
O Banco Mundial vai manter financiamento às hidrelétricas
Para encerrar, lembra José Goldemberg, “interessante mencionar que o Banco Mundial decidiu não mais financiar projetos de geração de energia que dependem de gás natural e óleo combustível (devido às emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global que decorre da queima destes combustíveis), mas vai manter financiamento às hidrelétricas.”
Recado à esquerda travestida de ambientalista
Há determinados tipos de obras que são inevitáveis. E sim, causam impacto ambiental. Mas fazem o país progredir. Não há como ser contrário a elas. As renováveis não têm a mesma capacidade. E a outra forma de produzir energia, bem, melhor não se alongar sobre ela. A atômica até hoje não resolveu onde colocar seus rejeitos, e ainda produz ameaças como a do gorducho coreano…
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Fontes:
https://www.recantodasletras.com.br/biografias/5948997; http://www.valor.com.br/empresas/4768625/obra-de-belo-monte-custou-r-32-bi-mais; http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,orcado-em-r-16-bilhoes-custo-da-usina-de-belo-monte-ja-supera-os-r-30-bilhoes,153398e; http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2017/01/31/internas_economia,569460/chineses-querem-comprar-a-usina-eletrica-de-belo-monte-no-para.shtml;
Ilustração de abertura: http://www.tocnoticias.com.br
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