Uma ‘nova era’ nas entrelinhas dos incêndios na Califórnia
O New York Times estampou em manchete: “Estamos em uma nova era”, referindo-se aos incêndios na Califórnia. A matéria destacou que, com as temperaturas subindo ao redor do globo — 2024 foi o ano mais quente dos últimos 125 mil anos — e os oceanos excepcionalmente quentes, cientistas alertam sobre uma nova fase perigosa marcada por inundações caóticas, tempestades e incêndios intensificados pela ação humana na mudança climática. No entanto, a expressão “nova era” não foi uma novidade dos jornalistas do Times. No final de 2024, a francesa RFI já havia usado o termo ao citar o cientista climático Friederike Otto, líder da rede World Weather Attribution: “Os impactos do aquecimento causado por combustíveis fósseis nunca foram tão claros ou devastadores como em 2024. Estamos vivendo em uma nova era perigosa.”
A World Weather Attribution, é uma empresa especialista em analisar como o aquecimento global influencia eventos extremos. Segundo ela, quase todos os desastres analisados nos últimos 12 meses foram intensificados pelas mudanças climáticas.
Por que as inundações, secas, ou furacões ficaram mais fortes?
O Brasil também já sofreu as consequências desta ‘nova era’, basta lembrar as inundações no Rio Grande do Sul, o incêndio devastador no Pantanal, ou a seca recorde na Amazônia.
Isso acontece em todo o mundo porque o aquecimento global transforma alguns locais. Por exemplo, certas regiões podem estar mais úmidas à medida que as mudanças climáticas alteram os padrões de chuva, enquanto outras ficam mais secas e mais vulneráveis à seca.
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O calor extremo, às vezes chamado de “assassino silencioso”, também se mostrou mortal na Tailândia, e na Índia. As condições foram tão intensas no México que macacos bugios caíram mortos das árvores, enquanto o Paquistão manteve milhões de crianças em casa enquanto o termômetro ultrapassava os 50ºC.
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Também é simples explicar o motivo das chuvas mais fortes e constantes. Com os oceanos mais quentes há maior evaporação, assim, o ar quente absorve mais umidade, gerando uma receita perfeita para chuvas mais fortes.
O aquecimento das superfícies oceânicas fornece energia abundante aos ciclones tropicais enquanto eles avançam em direção à terra, gerando ventos com alto potencial destrutivo. Na temporada de 2024, marcada por uma atividade de tempestades acima da média, grandes furacões atingiram os Estados Unidos e o Caribe.
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O comportamento extremo dos incêndios na Califórnia
Para o Washington Post, o comportamento extremo dos incêndios na Califórnia até agora tornou o controle quase impossível. E qual o motivo? A seca extrema que aconteceu antes. O jornal ouviu John Abatzoglou, climatologista da Universidade da Califórnia que disse,
“Os combustíveis continuam muito disponíveis para queimar, já que o sul da Califórnia ainda não viu a chegada das chuvas de inverno, deixando a vegetação ressecada após um dos verões mais quentes já registrados.Se a região tivesse tido perto da chuva normal neste outono e inverno, não estaríamos lidando com esses incêndios.”
O New York Times confirmou o que diz seu concorrente: As tempestades de fogo que assolam a segunda maior cidade do país são apenas o mais recente espasmo de clima extremo que está ficando mais furioso e mais imprevisível. Os incêndios florestais são altamente incomuns no sul da Califórnia em janeiro, que deve ser a estação chuvosa.
“Estamos em uma nova era agora”, disse o ex-vice-presidente Al Gore, que alertou sobre as ameaças de aquecimento global por décadas. “Esses eventos extremos relacionados ao clima estão aumentando, tanto em frequência quanto em intensidade, muito rapidamente”.
O custo da ‘nova era’
Os incêndios na Califórnia podem se tornar os mais caros da história dos EUA. Eles mataram pelo menos 24 pessoas e deslocaram milhares de habitantes. O fogo destruiu mais de 12.000 estruturas e empurrou 100 mil pessoas sob ordens de evacuação. A AccuWeather, uma empresa que fornece dados sobre o clima e seu impacto, coloca os danos e perdas econômicas em US$ 250 bilhões a US$ 275 bilhões.
A AP News, ouviu Jonathan Porter, meteorologista-chefe da empresa privada AccuWeather. “Este será o incêndio florestal mais caro da história moderna da Califórnia e também muito provavelmente o incêndio florestal mais caro da história dos EUA. Isso acontece porque os incêndios que ocorrem em áreas densamente povoadas ao redor de Los Angeles, com alguns dos imóveis de maior valor no país.”
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Para nós dois fatores são os mais extraordinários. O primeiro é que mesmo com estas provas os membros do clube da ONU não agem, falam pelos cotovelos, mas não fazem nada de prático. O segundo, é que um dos países que mais sofrem com o aquecimento global elegeu como presidente alguém que não acredita no fenômeno, promete mais uso de petróleo, e ameaça de novo sair do Acordo de Paris.
Isso, sim, é extraordinário, o resto era o esperado.
Assista ao vídeo gravado em 15 de janeiro e saiba mais
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