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Rio São Francisco contaminado pelo mexilhão-dourado

Rio São Francisco, e novo problema: suas águas sofrem invasão do mexilhão-dourado e dos rejeitos de Brumadinho

“A extinção inexorável do rio São Francisco”. Este é o título de um dos capítulos do livro “Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação” (Andrea Jakobsson Estúdio),  considerado o mais profundo estudo sobre a Caatinga, único bioma exclusivo do Brasil. Mas o rio da integração nacional tem outros problemas: Rio São Francisco contaminado pelo mexilhão-dourado, agora enfrenta a poluição por metais pesados, oriundos do reservatório de Brumadinho.

Rio São Francisco e o mexilhão- dourado, imagem de canoa do rio São Francisco
Deus é Fiel mas não ajuda o São Francisco

Poluição química da barragem de Brumadinho nas águas do Velho Chico

A SOS Mata Atlântica divulgou no Dia Mundial da Água, 22 de março, que a lama da barragem de Brumadinho já chegou na Bacia do São Francisco.

Através de coletas da água do Paraopeba até o Alto São Francisco, desde a semana do acidente, a ONG mostra que foram detectadas concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre acima dos limites máximos permitidos na legislação.

Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, responsável pelas análises, declarou, “a lama deverá se dispersar ao atravessar o lago ( 3 Marias), mas os metais pesados devem seguir em frente e isso é muito preocupante”. O São Francisco aguentará mais esta agressão? Leia, abaixo, e saiba a condição do rio.

212 expedições ao longo do rio São Francisco

Entre 2008 e 2012 uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor José Alves Siqueira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Pernambuco, promoveu 212 expedições ao longo e no entorno do São Francisco. Era o tempo da divulgação da transposição do rio…

O professor explica:

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Mostro os elementos de fauna e da flora que já foram perdidos. É como uma bicicleta sem corrente, como anda? E se ela estiver sem pneu? E se na roda estiver faltando um raio, e quando a quantidade de raios perdidos é tão grande que inviabiliza a bicicleta? Não sobrou nada no Rio São Francisco. Sinceramente, não sei o que vai acontecer comigo depois do livro, mas precisava dizer isso. Queremos que o livro sirva como um marco teórico para as próximas décadas. Vou provar daqui a dez anos o que está acontecendo.

Rio São Francisco contaminado pelo mexilhão-dourado e sua coleção de problemas

Segundo o trabalho os problemas são inúmeros. Mas, talvez, os mais graves sejam as grandes barragens para a produção de energia. Há cinco delas (em Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó).

Elas geram 15% da energia produzida no país. Depois, a megalômana obra  de Lula, a transposição de suas águas  orçada inicialmente em 4,5 bilhões de reais número que  já supera os 8 bilhões!

Rio São Francisco e o mexilhão-dourado: as barragens assorearam a foz do São Francisco. No passado o Farol do Cabeço ficava em terra firme

O mesmo processo de erosão está acontecendo na foz do Paraíba do Sul, tragando a cidade de Atafona, no litoral norte fluminense.

O rio São Francisco tem outros problemas graves

Entre eles a quantidade imensa de esgotos não tratados jogados no leito do Velho Chico ao longo de seus quase três mil quilômetros da nascente até a foz.

As barragens impedem a piracema. Como os peixes não podem mais subir o rio para se reproduzirem o declínio das espécies e cardumes é evidente.

Para encerrar o professor confirma os problemas gerados pela introdução de espécies exóticas como o tucunaré, o bagre-africano, e a carpa. De acordo com o estudo estes peixes tronaram-se

pragas sem oferecer lucro aos pescadores.

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A descoberta: Rio São Francisco contaminado pelo mexilhão-dourado

A Folha de S. Paulo, que em 3 de dezembro (2016) trouxe a matéria “Molusco Invasor”, explica:

Vindo da Ásia, e já encontrado no centro- sul, o mexilhão-dourado invade agora o rio São Francisco, onde ameaça abastecimento e usinas

A matéria diz que

há um ano e  meio o moluscos de de 5 cm têm se espalhado pelo rio São Francisco onde estão as usinas de Sobradinho (BA), e Luiz Gonzaga (PE).

A situação é alarmante. O jornal destaca:

pesquisadores estimam que na área de Sobradinho a população do mexilhão-dourado esteja em 40% do máximo de 200 mil indivíduos por metro quadrado.

Morte do Rio São Francisco e prejuízos para os cofres públicos

O Centro de Bioengenharia de Espécies Invasoras de Hidrelétricas (CBEIH),  criado a partir do P&D ANEEL GT-343: Controle Do Mexilhão-Dourado já investiu 8,2 milhões no combate ao mexilhão-dourado.

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O Boletim de Alerta Nº 3, de novembro de 2015, confirma a presença do mexilhão-dourado na bacia do Rio São Francisco e no canal de transposição (eixo Norte). O boletim traz sérias advertências:

A presença de populações de mexilhões-dourados pode afetar a cadeia trófica das áreas afetadas, podendo desencadear florações de cianobactérias e o deslocamento de espécies nativas de peixes e outros organismos. As comunidades de pescadores serão impactadas e a captação de água em pequenas comunidades e em pivôs de irrigação podem ser seriamente afetadas devido a presença de incrustações de mexilhões que poderão entupir as tubulações.

Rio São Francisco e o mexilhão- dourado: a mata ciliar foi pro brejo contribuindo para a a erosão e assoreamento do leito

O Mar Sem Fim alertou sobre os problemas

Em nossas séries de documentários estivemos na foz do São Francisco. A situação já era crítica quando fizemos o primeiro documentário, na viagem de 2005 – 2007.

Voltamos a vê-lo sete anos depois, quando situação do rio era crítica. O rejeitos de Brumadinho podem ser a pá de cal que faltava. Devemos dar os parabéns à Vale? Afinal, matar dois grandes rios brasileiros é um feito e tanto!

Fontes: http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/pesquisadores-anunciam-extincao-inexoravel-do-rio-sao-francisco-6188992; http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,custo-da-transposicao-do-sao-francisco-aumenta-71-e-vai-superar-r-8-bilhoes,852078; http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/12/1838079-molusco-asiatico-invade-o-nordeste-e-ameaca-acesso-a-agua-potavel.shtml; http://www.cbeih.org/quem-somos/; http://www.cbeih.org/boletim-de-alerta/.

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