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Ricardo Salles, chegou a hora de demiti-lo

Ricardo Salles, chegou a hora de demiti-lo

Depois da demissão do ministro da Educação, e do vexame do substituto que não assumiu, é preciso aproveitar a nova fase do presidente que procura aumentar o cacife de seu governo: é chegada a hora de demitir outro que jamais esteve à altura da cadeira de Paulo Nogueira Neto, figura emblemática que introduziu a moderna legislação ambiental no Brasil. Ricardo Salles perdeu as condições para continuar.

O Mar Sem Fim sente-se à vontade ao comentar. Fomos dos primeiros a elogiá-lo antes mesmo de ter assumido o ministério. Em dezembro de 2018, ao ser anunciada a equipe do MMA, publicamos o post Ministério do Meio Ambiente escolhe equipe dos sonhos!.

Mas, depois do anuncio, foi quase igual ao vexame do substituto da Educação. Alguns sequer assumiram. Outros pediram demissão. Ricardo Salles, o fenômeno, ‘Midas ao contrário’, onde põe a mão pega fogo, é nosso post de opinião de hoje.

Imagem, Marcos Corrêa/PR.

Ricardo Salles, chegou a hora de demiti-lo

O governo não deveria perder mais tempo. O mundo clama por mudanças. Salles conseguiu o impossível: uniu contra si toda comunidade internacional, ao mesmo tempo em que coleciona desafetos Brasil afora. Ele nunca teve gabarito para sentar na cadeira que lhe foi oferecida. Não conhece os biomas brasileiros, nunca quis conhecê-los em suas peculiaridades e complexidades.

Tudo que fez foi desfazer o que até então estava feito. E sem nada oferecer no lugar. Como dissemos inúmeras vezes nestas páginas, há muito o que se fazer no Ministério do Meio Ambiente. Mas nem mesmo diminuir a colossal burocracia ele se mostrou capaz.

Demonstrou, neste ano e meio, ser um péssimo gestor. Passou meses demonizando a própria equipe em público, prova olímpica de sua arrogância e falta de preparo. Por causa desta característica, perdeu o único especialista de sua equipe, Adalberto Eberhard então presidente do ICMBio, no quarto mês à frente do MMA.

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O início do fim de Ricardo Salles

Logo depois, seguindo sua frenética disposição para a cizânia, indispôs o País contra dois parceiros longevos, Alemanha e Noruega, ao detonar de forma grosseira o Fundo Amazônia. Não que ele não pudesse ou não devesse ser aprimorado, ao contrário, mas nunca de forma arrogante e unilateral. O Brasil perdeu. Ninguém ganhou.

Ainda no primeiro ano de gestão, deixou por um fio a COP 25, de Madri, desta vez indispondo o Brasil  com toda a comunidade internacional. Foi duramente criticado mas não mudou, ao contrário, radicalizou ainda mais.

Economistas, diplomatas e ex-ministros alertaram

O Mar Sem Fim já perdeu a conta de quantos economistas alertaram que esta política nos levaria a um beco sem saída, ou melhor, sem investimentos externos. Armínio Fraga e Juliano Assunção, Cândido Bracher (Itaú), o próprio colega de ministério, Paulo Guedes, que pediu a cabeça de Salles ao voltar de Davos, e uma lista de outros se manifestaram. Assim como diplomatas e ex-ministros do meio Ambiente.

Reduzir o desmatamento e levar a sério a crise climática

Se a horrível pandemia do coronavírus teve algum aspecto positivo, foi demonstrar que o mundo a partir dela terá de ser diferente. Este é um consenso de norte a sul. E as questões do meio ambiente, que como ela afetam todo o globo, deverão ser revistas pelo concerto das nações.

O alerta mais recente é do embaixador alemão Georg Witschel, que retorna a Berlim nos próximos dias. Em declaração ao jornal Valor Econômico de 24 de junho, Witschel disse:

O meu apelo ao Brasil é reduzir o desmatamento de maneira rápida, drástica, sustentável e de longo prazo e fortalecer o reflorestamento

E sobre a ratificação do acordo UE – Mercosul, que precisa ser aprovado por todos os países da União Europeia, disse o embaixador:

A situação se complica a cada quilômetro quadrado de desmatamento a mais, com cada queimada a mais. Temos um desafio maior de conseguir maioria no parlamento alemão

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Ricardo Salles deu munição aos protecionistas europeus que temem a força do agronegócio brasileiro. O imbróglio está às nossas portas quando o País mais precisa de ajuda externa para sair do buraco econômico gerado pela pandemia.

A gota d’água que faltava

Aconteceu na malfadada reunião ministerial. Salles escandalizou o mundo ao demonstrar sua frieza perante a maior crise de saúde mundial dos tempos modernos. Sua ação provou rachas até mesmo dentro do seio do grupo que pretende proteger, o setor do agronegócio.

Um de seus líderes, Pedro de Camargo Neto, pediu demissão do cargo de vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira durante a já famosa guerra de anúncios entre ruralistas e ambientalistas.

Pedro não foi o único. Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) que não assinou o anúncio, fez duras críticas.

Depois disso, mais uma vez, o ministro da Economia reconhece que…

‘Nossa imagem está muito ruim lá fora’

Em matéria de 30 de junho o Estadão escolheu a manchete reproduzida acima para reportagem com Paulo Guedes. “Nossa imagem está muito ruim lá fora, até mesmo uma parte de nós falamos muito mal do País. Lá fora há muito oportunista protecionista, como a França, que é uma parceira, investe aqui, mas não quer que exportemos produtos agrícolas para lá. Os Estados Unidos querem entrar com etanol no Brasil e não aceitam açúcar brasileiro lá”.

Mas o ministro fiel a Jair Bolsonaro declarou a seguir: “Esses países jogam uma ‘pecha’ (de destruição do meio ambiente) no Brasil, independentemente de dados embasados. Vamos proteger meio ambiente sem cair na armadilha de outros países em falar mal do Brasil”.

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Os ‘dados embasados’ não mentem, ministro. “O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fechou os números definitivos do desmatamento na Amazônia entre agosto de 2018 e julho de 2019. Foram 10,1 mil km2 de floresta ao chão, um aumento de 34,4% em relação ao período anterior, a maior área desmatada desde 2008.”

Em maio de 2020, o Inpe apontou 13 meses de aumento consecutivo em relação ao mesmo período de 2019 na Amazônia. Só em maio a devastação aumentou 12%, o maior valor já registrado na série histórica do Deter desde 2015. Isso demonstra que a tendencia para este ano é superior aos dados de 2019.

Em junho foi ainda pior com 18,5% mais focos de incêndio em relação ao mesmo período de 2019 segundo o Inpe. Este é o maior índice para o mês desde 2007. Esperar mais o quê?

Mudando a imagem lá fora e aqui dentro

É hora de aproveitar a boa maré e demitir Ricardo Salles. Pelo bem do País, do meio ambiente, e do agronegócio.

Imagem de abertura: Marcos Corrêa

Fontes: http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes; https://economia.estadao.com.br/noticias/agronegocios,nossa-imagem-esta-muito-ruim-la-fora-parte-de-nos-fala-muito-mal-do-pais-diz-guedes,70003349287?fbclid=IwAR1i0O_jZT6bydBAjtrtMZZ-cIgJfEt1kWWNV-Vsp0NlOPHtCml7ObznhLM.

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