Pirataria moderna, conheça alguns fatos e estatísticas
Os piratas mais notórios que aterrorizavam os ‘sete mares’ acabaram se tornando lendas, ou protagonistas de filmes de Hollywood. Este é o caso do mais que famoso, Barba Negra. Ele atuava sobretudo no Mar do Caribe durante a ‘idade de ouro da pirataria’, que começa no século 16 e segue até o século 19. Piratas frequentaram o litoral do Brasil três anos após a descoberta. E, para além dos piratas, havia ainda os corsários que, de maneira idêntica, chegaram à nossa costa em 1503. Este foi o caso de Jean Ango que saqueou o litoral nordestino. Mas, e sobre a pirataria moderna, você sabe alguma coisa? Este é o objetivo deste post, aproximar uma lupa sobre fatos e estatísticas desta atividade que cresce sem parar prejudicando a economia mundial e gerando bilhões em prejuízos.
Um olhar sobre a pirataria dos novos tempos
Segundo o IMB Piracy Reporting Centre os incidentes globais envolvendo pirataria e assalto à mão armada aumentaram 4% em 2023 em comparação com 2022. Embora isso não pareça ser uma mudança geral substancial, um olhar mais atento sobre os números revela algumas tendências alarmantes.
Em primeiro lugar, diz a mesma fonte, o ressurgimento da atividade pirata somali levanta preocupação. O IMB Piracy Reporting Centre, em dezembro de 2023, relatou o primeiro sequestro bem-sucedido de um navio na costa da Somália desde 2017. Nos primeiros três meses de 2024, piratas realizaram cinco ataques no Oceano Índico Ocidental, incluindo dois sequestros, longe da costa da Somália.
Incidentes no Golfo da Guiné
Os últimos relatórios do IMB Piracy Reporting Centre revelam também que os incidentes nas águas do Golfo da Guiné aumentaram em 2023 e continuaram a aumentar no primeiro trimestre de 2024. Após um declínio de quatro vezes nos ataques registrados entre 2020 e 2022 na região, esta inversão de tendência serve como um lembrete prudente de que a pirataria e o assalto à mão armada continuam a ser uma ameaça séria nas águas do Golfo da Guiné.
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Outra tendência preocupante é o aumento do uso da violência contra a tripulação dos navios. O IMB PRC relata que o número total de tripulantes sequestrados dobraram de 2022 a 2023. Além disso, ao comparar o primeiro trimestre de 2024 com o de 2023, esse número aumentou em sete vezes.
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Estatísticas de 2010 até 2023
Apesar dos dados acima, a pirataria já foi maior no passado. Segundo dados do Statista.com, em 2010 aconteceram 445 ataques, versus 115 em 2022.
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Conheça o navio de guerra mais antigo do mundo ainda em serviçoMarinha do Brasil quer porta-aviões nuclear até 2040A saga do navio oceanográfico Prof. W. Besnard terá final felizFelizmente, a América do Sul está fora da rota da pirataria global, mas o International Chamber of Commerce, registrou 14 incidentes em navios ancorados em Callao, no Peru. Esses casos incluíram sete tripulantes mantidos reféns, um deles agredido e ameaçado, e armas ou facas usadas em nove incidentes. Outros portos afetados foram Macapá, no Brasil, além de Cartagena e Puerto Bolívar, na Colômbia.
Assaltos a barcos privados no Brasil
Em Macapá, a insegurança é tão alta que, durante uma viagem com o veleiro Mar Sem Fim, pedi apoio à Marinha do Brasil para atracar em seu porto particular. No Amapá, criminosos mataram Sir Peter Blake, um dos maiores velejadores da história, durante um roubo ao seu veleiro.
Embora os navios sejam pouco visados no Brasil, os assaltos a barcos particulares tornaram-se frequentes no litoral, muitas vezes acompanhados por torturas. Eu mesmo sofri três assaltos: em Bertioga (SP), em Salvador e no rio Oiapoque.
Perigo para a tripulação, e atrasos dos navios
O cepr.org, em uma análise recente, revelou que os ataques de piratas não se distribuem de forma homogênea pelos oceanos atingindo mais frequentemente as zonas costeiras dos países em desenvolvimento do que as dos países desenvolvidos.
A maioria dos ataques ocorreu na África Ocidental, totalizando 385, seguida do Mar da China Meridional, com 344, e do Estreito de Malaca, com 283 ataques. Na última década, o problema da pirataria agravou-se de forma particularmente rápida no Mar Vermelho e ao longo da costa da Índia.
Atualmente, os piratas estão tão ousados que usam até helicópteros para a abordagem. Eles parecem se sentir senhores da situação, e chegam ao ponto de filmar seus ataques que, em seguida, vão para as redes sociais. O navio Galaxy Leader, de propriedade britânica e operado pelo Japão, foi a primeira vítima deste novo ‘modelo’.
O custo econômico da pirataria: US$ 20 bilhões/ano
Um relatório publicado em 2024 pela Cesifo.org alerta que apesar do transporte marítimo ter sido historicamente suscetível à pirataria, as avaliações gerais carecem de quantificação e da magnitude dos custos e das respostas comportamentais subjacentes.
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E, prossegue, para além do folclore e das suas origens ocasionalmente romantizadas, os piratas continuam a ser um problema relevante atualmente. Os registros oficiais mundiais apontam para mais de 2.200 ataques de piratas entre 2013 e 2021, sendo que 232 aconteceram em 2021. Esforços anteriores para quantificar o custo deste problema sugerem perdas anuais superiores a 20 bilhões de dólares/ano.
Outro relatório de 2024, da Ship Universe, alerta que a pirataria não apenas ameaça os navios; mas ameaça cadeias de suprimentos inteiras e a economia global. Isso eleva os encargos financeiros diretos para o setor de transporte marítimo. Estes custos são principalmente em duas áreas: prêmios de seguro e medidas de segurança.
Em seguida, o relatório estima os valores para cada um dos locais mais visados. O Golfo de Aden viu perdas econômicas de cerca de US$ 7 bilhões por ano, levando em conta os prêmios de seguro, reencaminhamento, custos de segurança e atrasos.
No Estreito de Malaca, as perdas são estimadas em US$ 3 a US$ 4 bilhões por ano. No Golfo da Guiné, perdas anuais estimadas de US$ 2 a US$ 3 bilhões devido a pagamentos de resgate, custos de segurança e interrupção das exportações de petróleo e commodities. Finalmente, na Costa da Somália as perdas foram estimadas em US$ 7 a US$ 12 bilhões por ano.
Mundo estranho e perigoso este nosso, não?