Peixe-leão se alastra pelo litoral do País
O peixe-leão é uma enorme dor de cabeça para os países banhados pelo Atlântico. Segundo informações da NOAA, o peixe é natural do Indo-Pacífico. Contudo, nos anos 80 do século passado foi observada a sua presença em águas do Caribe. De lá para cá, os estragos foram incalculáveis. O peixe-leão se alastrou para o Golfo do México, desceu ainda mais e foi visto na costa Norte, Nordeste, e até mesmo no Sudeste do Brasil. Segundo o site do World Resources Institute ‘Os governos de toda a região estão desenvolvendo planos de manejo, na esperança de trazer as populações de volta a um nível em que não causem mais impacto em outras pescarias.’ Enquanto isso, o peixe-leão se alastra pelo litoral do Brasil.
Anos 80, o início da proliferação
O primeiro exemplar foi encontrado na Flórida, em 1985. Segundo a NOAA, nos Estados Unidos o peixe era popular entre os aquaristas, por isso é plausível que repetidas fugas para a natureza por meio de solturas sejam a causa de sua proliferação.’
Como o peixe-leão não é nativo das águas do Atlântico, eles têm poucos predadores. São carnívoros que se alimentam de pequenos crustáceos e peixes, incluindo filhotes de importantes espécies de peixes comerciais, como o pargo e a garoupa.
Prejuízos nos Estados Unidos
Segundo o www.lionfish.co, o peixe-leão pode comer presas com mais da metade do tamanho de seu próprio corpo, desde que caiba em suas bocas. Seu estômago pode expandir até 30 vezes o volume normal. Além dos peixes, comem também invertebrados e moluscos – camarões, caranguejos, juvenis de polvo, lulas, juvenis de lagosta, cavalos-marinhos, etc.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemAcidente com dois petroleiros russos ameaça o Mar NegroVila do Cabeço, SE, tragada pela Usina Xingó: vitória na JustiçaConheça o submarino do Juízo Final, o russo BelgorodEles foram vistos em águas com profundidades de apenas 0,3m a mais de 305m de profundidade. E se sentem igualmente em casa em estuários de rios de água salobra e manguezais, onde a maioria dos peixes juvenis cresce. Em outras palavras, a espécie é capaz de se adaptar em qualquer lugar.
Ameaça aos recifes de corais
Mas talvez o pior seja o que eles fazem aos já combalidos recifes de corais, o mais importante ecossistema marinho, ameaçados mundo afora pelo aquecimento global. Os peixes-leão comem os peixes herbívoros que têm importante função nos recifes de corais.
PUBLICIDADE
Eles comem as algas que crescem sobre o recife, são essencialmente os cortadores de grama que mantêm os níveis de algas baixos o suficiente para que os corais possam obter oxigênio para sobreviver e permitir que o coral desove. Portanto, eles são uma grande ameaça também à saúde dos corais.
Só o mergulho é uma economia de US$ 2,1 bilhões no Caribe, diz o www.lionfish.co. Empresas como hotéis, centros de mergulho, barcos de pesca, restaurantes e todos os seus funcionários em áreas como essas contam com um fluxo constante de turistas em busca das melhores experiências recreativas e esportivas disponíveis. Se o recife morrer e os peixes bonitos morrerem, os mergulhadores escolherão um destino diferente.
Leia também
Segredo da longevidade do tubarão da Groenlândia é descobertoRaro Projeto de Lei preserva tubarões e arraias no PaísExterminar eucaliptos e pínus do litoral é dever de todosAntes de encerrar, o site diz que a espécie está sendo avistada no Mar Mediterrâneo. O peixe-leão parece ter transitado pelo Canal de Suez vindos do Mar Vermelho, onde é considerado uma espécie nativa, ou os lançamentos de aquários privados estão contribuindo para o estabelecimento de um novo habitat não nativo.
Para o www.lionfish.co, a invasão do peixe-leão é provavelmente o pior desastre ecológico causado pelo homem já testemunhado e ainda não aconteceu completamente. Ou seja, há muito ainda por vir.
Se mesmo um País rico, como os Estados Unidos, enfrenta sérias dificuldades imagine num País em desenvolvimento como o nosso, e sem a tradição de investir em pesquisas.
Peixe-leão no Brasil
Curiosamente a primeira vez que ele foi visto por aqui aconteceu no Rio de Janeiro, e não na costa Norte como seria o mais provável. Ainda em 2015 publicamos o post Peixe-leão no litoral do Rio de Janeiro. No texto comentamos a estratégia então adotada no hemisfério Norte: comer o peixe.
Não demorou muito para o peixe-leão ser visto em Fernando de Noronha, enquanto ele se espalhava pelo Golfo do México, também se proliferava no Brasil. Em 2020 onze indivíduos foram vistos nas águas de Noronha. A esta altura o peixe já infestava os litorais da América Central, Costa Rica e Panamá, e América do Sul, na Venezuela.
Agora, a cada dia que passa mais se encontra o peixe-leão em águas brasileiras. A espécie já foi vista nos litorais do Amapá, Paraíba, Pernambuco, Ceará, Piauí, e agora, no Rio Grande do Norte. O peixe-leão começa a descer a costa nordestina em direção ao Sudeste e Sul. Se ele não foi contido nos Estados Unidos, tudo indica que o mesmo se dará por aqui.
Faltam investimentos
O pesquisador Marcelo Soares, do Labomar, Universidade Federal do Ceará, é coordenador de uma rede de pesquisadores que estuda o fenômeno. Ele falou ao site Uol: “Quando ele ‘dobrou a esquina’ no Rio Grande do Norte ganhou vantagem porque vai a favor da corrente para o sul —aqui na parte ao norte estava contra. Pela modelagem feita ele vai chegar até o Uruguai; ou seja, vai tomar toda a costa brasileira e causar graves impactos.”
PUBLICIDADE
Assim como nos Estados Unidos, o peixe tem sido encontrado nos estuários que, ao lado dos recifes de corais, são outro importante berçário de espécies nativas. Marcelo Soares reclama das condições: ‘Não temos como saber como isso afeta a cadeia pesqueira. Se perguntar a gente que espécie ele come aqui, não sabemos. Temos de estudar, mas para isso precisamos de recursos financeiros.’
O Uol também ouviu o pesquisador Cláudio Sampaio, da UFAL, Universidade Federal de Alagoas, que faz coro: ‘O que falta são recursos para desenvolver programas de educação, monitoramento e capacitação dos pescadores e mergulhadores, agentes de saúde, guias de turismo sobre os riscos do peixe leão em nossas águas.’
O g1 também repercutiu a proliferação da espécie no Brasil e o silêncio das autoridades. O g1 falou com Jean Vitule, pesquisador do LEC (Laboratório de Ecologia e Conservação do Departamento de Engenharia Ambiental) da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Para este pesquisador, é fundamental que as autoridades façam campanhas de conscientização, além de atuarem para controlar a invasão: “Não podemos esperar que essa invasão se torne ainda mais grave. Precisamos agir agora para evitar danos irreparáveis aos nossos ecossistemas e espécies nativas.”