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Óleo no Nordeste ainda preocupa dois anos depois

Óleo no Nordeste ainda preocupa dois anos depois

Dois anos depois do maior acidente ecológico no litoral do Brasil o óleo que poluiu nove Estados do Nordeste, e dois do Sudeste segue sendo um mistério. Passados dois anos as novidades são poucas e desalentadoras. Em 7 de maio a Marinha do Brasil informou que não é apenas o navio Bouboulina suspeito de ter provocado o acidente, mas outros dois também entraram na lista, o Nichioh (que em maio de 2020 alterou o nome para City of Tokyo), e o Amore Mio (que também teve o nome alterado em março de 2020, quando foi rebatizado como  Godam). Óleo no Nordeste ainda preocupa dois anos depois.

Imagem de manchas de óleo no Nordeste
O pior acidente ecológico no Brasil fica sem respostas dois anos depois. Imagem, Joyca Farias/Greenpeace.

Óleo no Nordeste ainda preocupa dois anos depois

Em agosto de 2020 a Marinha do Brasil entregou o relatório final da investigação à Polícia Federal e ao Ministério Público federal. Segundo o jornal O Globo, ‘o documento perdeu o sigilo dia 7 de maio, mas não houve divulgação do inteiro teor’.

Em novembro de 2019 uma operação da Polícia Federal citou o navio grego Bouboulina, da empresa Delta Tankers. Dois anos depois tudo o que conseguiram foi incluir dois outros ‘suspeitos’, o Nichioh, da empresa liberiana Major Shipping SA, mais uma empresa registrada na Libéria, atrás do que se convencionou chamar de ‘bandeiras de conveniência’.

São empresas de outras partes do mundo que registram seus navios em países com regras trabalhistas, e de inspeção, frouxas ou até mesmo inexistentes, de modo que latas velhas que em outros países seriam proibidas de navegar possam continuar atuando.

‘Paraísos da desregulamentação’

Alguns destes ‘paraísos’ da desregulamentação  são a Libéria, o Panamá, e as Ilhas Marshall. Segundo O Globo, para registrar um navio na Libéria ‘os requisitos são um endereço e um e-mail’.

O terceiro navio que entra na lista de ‘suspeitos’ é o Amore Mio, da Heesen Yachs, empresa holandesa. Cá entre nós, para um acidente em que foram afetadas 906 localidades em 127 municípios de 11 estados, num total de 3,6 mil quilômetros de costa, é muito pouco.

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As investigações conduzidas pela Marinha trabalharam com as hipóteses de derramamento acidental, intencional, operação ship to ship (transferência de combustível no mar) ou o naufrágio de um navio petroleiro.

Mas não chegou a nenhuma conclusão além de três navios suspeitos. Segundo Alexander Turra, professor titular do Departamento de Oceanografia Biológica da Universidade de São Paulo, a USP, o acidente ‘foi inusitado’ com um tipo de óleo mais denso que navegava por baixo d’água, a cerca de um metro e meio, e que não era capturado pelos equipamento que temos.

Turra foi entrevistado pelo Mar Sem Fim e disse que existem ‘vários tipos de ferramentas, não tão complicadas, que permitem esta execução’.  Para Turra casos como o deste vazamento de óleo denso só poderiam ser evitados com imagens de satélites. Mas a tecnologia existe, basta trazê-la para o Brasil.

Litoral do Brasil está ao deus-dará

Desde que fizemos a primeira viagem pela costa brasileira temos repetido o bordão: o litoral está ao deus-dará. As leis de ocupação do solo, e de proteção ambiental são muito pouco respeitadas. Quem dá as cartas e manda no litoral é a especulação imobiliária.

Mesmo antes da atual administração era assim. Praias são ‘privatizadas’ pelos proprietários que agridem a legislação impunemente. Praias são áreas públicas, pertencem à União, ninguém tem o direito de se dizer ‘dono de uma praia’ e fechá-la ao público.

Dunas, falésias, e mangues são ocupados

Dunas, falésias, e mangues são ocupados a despeito de serem áreas de preservação permanente. Não por outro motivo a erosão toma conta do litoral. E apesar de muitas vezes desfigurar um município inteiro, como Atafona, no litoral norte do Rio de Janeiro, nada, ou quase nada, acontece.

A pesca sempre foi uma esculhambação. Sequer temos estatísticas de pesca. Somos um dos três únicos países com saída para o mar que não informam quanto se pesca, de quais espécies, etc. E ninguém dá a menor pelota para o fato. O Mar Sem Fim denuncia praticamente sozinho.

As poucas unidades de conservação federais do bioma marinho, com três ou quatro exceções, existem apenas no papel. Não têm equipes, ou fiscalização, a grande maioria não tem nem mesmo uma voadeira com motor de popa. Como cuidar de uma UC do bioma marinho sem barcos?

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Seria surpreendente se nossas autoridades soubessem informar os motivos do maior desastre ecológico do litoral brasileiro. Temos que aceitar resignados ‘três suspeitos’ dois anos depois do acidente.

Marinha defende investimentos

Segundo o jornal Correio do Povo, a Marinha do Brasil pede apoio e investimento para a fiscalização:

“Esse evento, inédito e sem precedentes na nossa história, traz ensinamentos, como a necessidade de se investir no aprimoramento do monitoramento dos navios que transitam nas águas jurisdicionais brasileiras e nas suas proximidades, destacando o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)”.

O custo do descaso com o litoral

Segundo o jornal O Globo ‘a União gastou R$ 187,6 milhões para conter o megavazamento, numa força-tarefa que reuniu 16.848 servidores públicos, sobretudo da Marinha, do Exército e da Defesa Civil’.

Ainda de acordo com O Globo, ‘as equipes coletaram 5.000 toneladas de resíduos, com óleo, materiais e detritos contaminados’.

Pequenas manchas de óleo continuam a chegar às praias do Nordeste até hoje

Mas apesar do aniversário de dois anos do acidente, e da falta de respostas à opinião pública até hoje, saiba, caro leitor, que as manchas continuam a chegar em determinados pontos do litoral do Nordeste.

A Agência Universitária de Notícias, da USP, em matéria de fevereiro de 2021 traz a triste notícia. Segundo Rafael Lourenço, professor e pesquisador de oceanografia da USP, ‘pequenas manchas de óleo continuam a chegar às praia do Nordeste até hoje.

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Rafael Lourenço declarou: “Os impactos ambientais envolvem todos os recursos relacionados ao mar: prejuízo na qualidade das praias e da água, seja para lazer, seja para toda a biota marinha ou que dependa do mar para abrigo ou forrageio. Com isso, houve também comprometimento dos recursos pesqueiros.”

‘Lourenço relata ainda que parte do óleo lançado ao mar pode estar preso ao sedimento ou às estruturas rígidas, como corais e recifes’.

‘Como não se sabe a quantidade de material derramado, é difícil precisar o quanto está depositado em tais áreas. Com a agitação do mar, esse óleo é liberado para a coluna de água e volta a ser transportado pelas correntes marinhas.’

Pior, não se sabe a quantidade de óleo preso em locais altamente sensíveis como corais ou manguezais, ambos os principais berçários de vida marinha.

O descaso com o litoral, e os investimentos necessários para pesquisas e medidas de mitigação foram comentados pelo professor Rafael Lourenço: “Talvez a consequência mais grave de não obter respostas que levem à compreensão de como ocorreu esse derrame, é que sem essa compreensão não há medidas a serem tomadas para evitar um derrame igual ou pior no futuro.”

Imagem de abertura: Leo Malafaia / AFP

Fontes: http://www.usp.br/aun/index.php/2021/02/12/impactos-do-derramamento-de-oleo-no-nordeste-afetam-praias-e-pesca/; https://oglobo.globo.com/sociedade/meio-ambiente/oleo-no-nordeste-marinha-aponta-mais-dois-navios-alem-do-bouboulina-como-suspeitos-por-derramamento-25008986; https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/geral/tr%C3%AAs-navios-s%C3%A3o-suspeitos-por-manchas-de-%C3%B3leo-no-nordeste-em-2019-afirma-marinha-1.616266.

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