❯❯ Acessar versão original

Navios de passageiros agora recusados em Veneza

Navios de passageiros agora são recusados em Veneza

Veneza  finalmente tomou uma decisão há muito esperada. A partir de agosto de 2021 os navios de cruzeiro não terão  permissão para entrar nas águas da cidade. A frágil lagoa que  cerca Veneza foi declarada monumento nacional em um esforço para proteger contra novos danos. Depois do tremendo baque pela parada em razão da pandemia, agora navios de passageiros são recusados em um dos destinos em que mais apareciam.

Imagem de navio de passageiros nos canais de Veneza
Turismo de massa não é bem-vindo em Veneza. Imagem, Anna Zemella.

Navios de passageiros: recusados em Veneza

Os últimos dois anos foram mais que difíceis para a indústria do turismo naval. A pandemia obrigou o setor a desligar as máquinas. Antes disso, milhares de turistas ficaram presos a bordo de navios de passageiros à espera de um porto que aceitasse recebê-los.

O resultado foi a aposentadoria forçada. Cruzeiros italianos, ingleses e norte-americanos fizeram fila para serem desmantelados no estaleiro de Aliaga, na costa da Turquia. E os prejuízos  foram bilionários.

Imagem, https://www.responsibletravel.com/.

Ainda assim o setor esperava com ansiedade o fim da reclusão. Por isso a decisão foi outro duro golpe.

Segundo o TreeHugger, ‘Os residentes estão felizes porque suas ruas estreitas não ficarão mais entupidas pelos milhares de turistas despejados por apenas algumas horas de cada vez’.

‘Ao contrário da opinião popular, esses visitantes contribuem relativamente pouco para a economia do turismo local’.

PUBLICIDADE

Já o New York Times informou que ‘turistas de navios de cruzeiro somam 73% dos visitantes. Porém contribuem com apenas 18% dos dólares do turismo. A proporção é invertida para pessoas que passam pelo menos uma noite em um hotel; elas representam 14% dos visitantes, mas 48% do negócio’.

Reclamações dos residentes

O New York Times ouviu residentes: “As pessoas são descarregadas como um saco de batatas. Em seguida ficam por aí só algumas horas, compram uma fatia de pizza em seguida vão embora”, disse Silvia Jop que trabalha em eventos culturais. “Se você adicionar isso aos danos ambientais, é um ato de violência contra a cidade.”

Imagem, Dan Davison.

Esta mesma realidade pode ser vista no Brasil nas cidades que recebem navios de cruzeiro durante a temporada. Assim é no mundo.

Os problemas dos navios de cruzeiro em Veneza

São vários problemas que, além disso, não se restringem a multidões invadindo os locais de parada ou gastando pouco. Há problemas estruturais em Veneza, uma cidade erguida sobre palafitas de madeira ainda no século cinco.

O TreeHugger confirma: ‘Os ativistas ambientais estão aliviados pelo fato de os navios não continuarem a agitar os cursos d’água e erodir as fundações de edifícios já delicados’.

‘Um estudo de 2019 publicado na Nature, relata o Times, descobriu que as ondas criadas por grandes embarcações poderiam “redistribuir os poluentes industriais já presentes na lagoa”.  Outros disseram que essas mesmas ondas abrem enormes buracos no fundo subaquático dos edifícios, desestabilizando-os’.

Inundações em Veneza anabolizadas por dragagens

De acordo com a matéria, ‘quando os canais são dragados para aprofundá-los a fim de permitir barcos maiores, isso destrói os habitats costeiros e piora as inundações’.

‘Essa é parte da razão pela qual, nos últimos anos, Veneza passou por terríveis inundações que submergiram  a Praça de São Marcos e outros marcos históricos’.

PUBLICIDADE

“No Grandi Navi”, gritam os venezianos

Os protestos aumentaram nas últimas semanas. Especialmente desde que o MSC Orchestra, o primeiro grande navio com 2.500 passageiros desde a pandemia, passou por Veneza em junho.

O protesto está registrado na página Comitato Nograndinavi, do Face Book.

Dois mil manifestantes aglomeraram-se no entorno do navio. Desse modo, em seus próprios barcos, gritavam agitando placas que diziam “No Grandi Navi” (Nenhum Navio Grande).

O protesto está registrado na página Comitato Nograndinavi, do Face Book.

Navios de passageiros: nem só Veneza sofre com  eles

O Mar Sem Fim já fez inúmeras matérias mostrando problemas destes ‘monstros de ferro’. Pelo tipo de combustível que  usam, um óleo pesado, espécie de borra final do processo de refino, a poluição  é imensa.

Capitais como Londres também não são amigas dos navios de passageiros. Mais uma vez, pela  poluição que provocam quando estão nos portos e que invade a cidade.

Em 2016, por exemplo, o maior navio à época, o Harmony of the Seas, com capacidade para 6.780 passageiros e 2.100 tripulantes, esteve no porto de Londres na viagem inaugural.

Foi o que bastou para The Guardian publicar matéria. O jornal saudava a saída do enorme navio das docas de Southampton…

podemos cheirar, ver, e até sentir o gosto da fumaça expelida

PUBLICIDADE

The Guardian reclamava que

às vezes até cinco destes navios atracam naquelas docas. O vento leva a fumaça para o coração da cidade e ninguém monitora a poluição por eles causada

Navios queimam tanto combustível como cidades

Os grandes navios queimam tanto combustível quanto cidades inteiras. Os três motores de 16 cilindros – com a altura de quatro andares do Harmony of the Seas, por exemplo, consomem 5.212.5 litros de combustível por hora, ou seja 363.399,5 litros por dia, de um combustível altamente poluente.

Muitos navios jogam lixo no mar

Outro dos problemas é o fato de que muitos não fazem cerimônia e jogam lixo no mar. Grandes companhias como a Carnival Corp. já foram multadas em mais de US$ 20 milhões de dólares por continuar poluindo mesmo sendo reincidentes.
Por sua vez, a MSC que frequentemente manda seus navios ao litoral do Brasil já foi flagrada jogando lixo até mesmo em unidades de conservação marinhas como o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.
Para não falar  que, de 1998 a 2012, foram contabilizadas 1.429 pessoas vítimas de violência sexual dentro desses transatlânticos.
As três maiores empresas de cruzeiros do mundo, Carnival Corporation, Royal Caribbean International e Norwegian Cruise Line,  representando 82% do mercado mundial, já foram multadas por jogarem lixo no mar.
Por aí se vê que não são fatos isolados. É quase a regra.

‘Turismo de estilo industrial’

A conclusão do TreeHugger não é das melhores e reflete o que acontece em Veneza quando estes imensos navios aportam, e até mesmo no mar quando navegam. A indústria naval mundial optou pela poluição marinha e consequente acidificação de suas águas.

A zona costeira é frágil por natureza, e o turismo de massa contribui para gerar ainda mais problemas em vez de resolver os  existentes.

‘Felizmente, mais viajantes também estão percebendo que o turismo de estilo industrial é uma maneira terrível de viajar por vários motivos’.

‘Não é diferente da agricultura industrial e da moda rápida. Seu objetivo duvidoso é amontoar o máximo de pontos turísticos e países em um cronograma o mais apertado possível, com o mínimo de dinheiro possível’.

‘Sua fixação na conveniência corrói a própria espontaneidade, as conexões humanas e a preservação de pontos significativos que tornam a viagem tão valiosa em primeiro lugar’.

PUBLICIDADE

Por último, a International Council on Clean Transportation informa que ‘os navios oceânicos podem contribuir com 17% das emissões de carbono causadas pelo homem até 2050’.

Imagem de abertura: https://www.responsibletravel.com/

Fontes: https://www.treehugger.com/venice-says-no-cruise-ships-5193315; https://www.nytimes.com/2021/07/08/travel/venice-cruise-ships-environment.html.

Mortes de baleias em Santa Catarina somam 26

Sair da versão mobile