Mexilhão-verde, mais uma espécie invasiva no litoral
‘Desde 1995, a disseminação do mexilhão verde Perna viridis ao longo da costa sul-americana levantou preocupações sobre seus potenciais impactos nas comunidades costeiras em áreas vulneráveis’, diz um estudo publicado na revista Marine Biology. ‘Sua presença em complexos de lagoas coloca desafios significativos para a conservação de espécies nativas e manutenção da biodiversidade regional. Ressaltamos a necessidade de avaliar o equilíbrio entre predadores, parasitas e outros componentes ecológicos em áreas invadidas para mitigar os impactos na ecologia regional…Nossos achados destacam a urgência de implementar estratégias de manejo eficazes e políticas de conservação adaptativa para abordar a invasão de P. viridis. Estas políticas devem centrar-se na prevenção da propagação da espécie e no apoio à sustentabilidade dos ecossistemas estudados e costeiros locais’.

Mais uma espécie invasiva detectada no litoral
O artigo, publicado em março de 2025, é de autoria de pesquisadores do Instituto de Pesca de São Paulo, da Universidade de São Paulo (USP) e colaboradores.
Identificaram o molusco, originário do Indo-Pacífico, em diversas praias paulistas, entre elas, a da Cocanha (Caraguatatuba), das Cigarras (São Sebastião), Ponta das Furnas (Ilhabela), Saco da Ribeira (Ubatuba), Enseada da Baleia (Parque estadual da Ilha do Cardoso, Cananéia), Iguape, Ilha Comprida, Peruíbe, São Vicente e Santos. Como tudo que é ruim pode piorar, dos 41 registros da espécie, 12 aconteceram dentro de áreas protegidas. Além disso, o molusco também foi encontrado na Baía de Guanabara e em Santa Catarina.
A necessidade de políticas de prevenção e controle
Apesar dos alertas dos pesquisadores sobre a necessidade de políticas de prevenção e controle continuam fazendo falta no País. Só recentemente houve uma boa melhora coma ação do BNDES.
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O orçamentos total do programa para as ilhas é de R$ 80 milhões, dos quais R$ 40 milhões são recursos do Fundo Socioambiental do BNDES. Segundo o site do banco, o foco da chamada é a restauração de habitats reprodutivos de aves marinhas ameaçadas ou migratórias. Quem sabe agora as fragatas-de-trindade, uma ave endêmica da ilha, tenha alguma chance de sobreviver.
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Corremos o risco de repetir o caso do mexilhão-dourado. Este molusco entrou na América do Sul pelo Rio Prata, infestou o Lago Guaíba e, sem barreiras, espalhou-se por rios do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
Em 2014, ele já havia alcançado rios de São Paulo e Minas Gerais. Hoje, sua presença incômoda se confirma até no Pantanal, uma das maiores reservas de biodiversidade do país. O maior receio dos cientistas agora é sua chegada à Amazônia. Além disso, o mexilhão-dourado também foi detectado no Rio Tocantins, e nos Estados do Pará, Maranhão e Tocantins.
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Bodes e cabras soltos em ilhas brasileiras
Por séculos, o problema passou despercebido. Os navegadores portugueses deixavam cabras e bodes soltos em ilhas para alimentar futuras expedições. O resultado veio depois: devastação quase total da vegetação.
Abrolhos e, principalmente, Trindade sofreram esse impacto. Os ruminantes se multiplicaram sem controle. O ICMBio demorou demais para agir. Só em 2025 decidiu erradicar os animais. Tarde demais. Hoje, as duas ilhas estão quase peladas. Pouca ou nenhuma vegetação nativa resistiu.
Mexilhão-verde na Baía de Guanabara
Outro estudo, da Universidade Federal Fluminense com supervisão do professor Abilio Soares Gomes, revela ‘novas evidências sobre o papel do plástico como vetor de espécies invasoras em ambientes marinhos, especialmente com o encontro de uma espécie inesperada: o Mexilhão-verde’.
‘Lixo flutuante é um importante vetor de transporte’
‘O lixo flutuante é um importante vetor de transporte para esses organismos, como é o caso do mexilhão-verde. O molusco já havia sido identificado em diversas áreas da Baía de Guanabara mas nunca antes associado ao lixo marinho’.
Conclusões parecidas dos dois estudos
Para os pesquisadores da USP, ‘o estabelecimento do mexilhão verde, P. viridis, no estuário de Cananéia-Iguape, região do Porto de Santos, Rio de Janeiro, e avistamentos no sul do Brasil, particularmente dentro de áreas protegidas, representa um desafio significativo para a gestão ambiental e as comunidades locais’.
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‘Os impactos ecológicos, econômicos e sociais desta espécie exótica destacam a necessidade de medidas eficazes de controle e mitigação. A implementação de programas de monitorização contínua, a nível local, nacional e regional. E, de maneira idêntica, sensibilizar o público através de campanhas direcionadas além de aplicar regulamentações mais rigorosas ao transporte marítimo e à aquicultura. Estas medidas são, portanto, fundamentais para evitar a propagação desta espécie exótica no Brasil e, potencialmente, em todo o Atlântico Sudoeste’.
A mesma conclusão surgiu no trabalho da UFF. Para o professor Abilio Soares Gomes, ‘sem um esforço coordenado, o problema tende a se agravar. Precisamos de políticas públicas eficazes para rastrear e reduzir o descarte de lixo no mar, além de campanhas de conscientização que envolvam diferentes setores da sociedade’.
Os mexilhões agora juntam-se ao peixe-leão, ao coral-sol, e até mesmo às tilápias, todas espécies invasivas que hoje infestam o mar brasileiro. Enquanto isso acontece, o Ministério de Meio Ambiente continua a dar pouca, ou nenhuma, atenção ao litoral e mar brasileiros.
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