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Mangues no Brasil são negligenciados, dizem especialistas

Mangues no Brasil são negligenciados, dizem especialistas

Há tempos denunciamos a negligência do governo federal com os mangues no Brasil. Os manguezais se estendem por quase toda a costa, do Amapá até Florianópolis, formando o segundo maior manguezal do mundo, atrás apenas da Indonésia. Recentemente, destacamos programas globais que financiam o replantio de manguezais na Ásia, África, Oceania e Américas do Norte e Latina. Porém, o Brasil não tem programas de replantio para oferecer ao mundo desenvolvido. Paralelamente, o MapBiomas revelou que de 2001 a 2016, os manguezais perderam 20% de sua área, em parte devido à expansão urbana. Hoje, focamos no estudo “Manguezais brasileiros: Hotspots de Carbono Azul de relevância nacional e global para soluções climáticas naturais“, publicado na Frontiers in Forests and Global Change em 2022.

Mangues no Brasil, Canavieiras
Canavieiras, Bahia. Acervo MSF.

O estudo de pesquisadores brasileiros

O estudo é de autoria de André Rovai, do Departamento de Oceanografia e Ciências Costeiras, Faculdade da Costa e Meio Ambiente, Louisiana State University, Baton Rouge; e de Pablo Riul, do Departamento de Sistemática e Ecologia, Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Universidade Federal da Paraíba.

‘Os manguezais são conhecidos por grandes estoques de carbono e altas taxas de sequestro de CO2 em biomassa e solos. Isso torna essas zonas úmidas intertidais uma estratégia econômica para algumas nações compensarem uma parte de suas emissões de dióxido de carbono (CO2). No entanto, poucos países têm os inventários de nível nacional necessários para apoiar a inclusão de manguezais nos mercados nacionais de crédito de carbono. É o caso do Brasil, lar da segunda maior área de mangue do mundo. Contudo, falta um inventário integrado de carbono de mangue que capta a diversidade de tipos de litoral e zonas climáticas em que os manguezais estão presentes’.

‘Manguezais brasileiros detêm 8,5% dos estoques globais de carbono de mangue’

Ainda na apresentação, os autores ressaltam as qualidades do manguezal em época de aquecimento global desenfreado. ‘Descobrimos que os manguezais brasileiros detêm 8,5% dos estoques globais de carbono de mangue (biomassa e solos combinados). Quando comparados a outros biomas vegetados brasileiros, os manguezais armazenam até 4,3 vezes mais carbono no metro superior do solo e são os segundos em estoques de carbono de biomassa perdendo apenas para a floresta amazônica’.

‘Além disso, as taxas de sequestro de carbono orgânico em solos de manguezais brasileiros são 15-30% maiores do que as estimativas globais recentes. Assim, integradas na área do país elas representam 13,5% do carbono enterrado nos manguezais do mundo anualmente’.

“A comunidade científica não tem dúvidas sobre a quantidade de carbono armazenada em manguezais e seu papel na remoção desse gás da atmosfera”, disse Andre Rovai, ao site Mongabay. “O que falta no Brasil é a vontade política de alocar fundos adequados para o desenvolvimento da ciência, especialmente no campo da biodiversidade’.

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“Além de trazer novas estimativas, nosso estudo destaca lacunas a serem preenchidas e aponta áreas com pouca ou nenhuma informação disponível, que devem ser priorizadas em futuras pesquisas”.

“A quantidade de carbono removida da atmosfera anualmente e adicionada aos solos e árvores dos manguezais [no Brasil] também é importante. Juntos, equivalem a 13,5% de todo o carbono sequestrado por manguezais em todo o mundo”, disse Rovai.

Imagine quanto vale este benefício nos mercados de créditos de carbono. Ocorre que, além de não termos projetos de replantio para oferecer, o País também não tem planos nacionais ou diretrizes regionais para a inclusão de manguezais nos esquemas de comércio de carbono!

Onde anda o ministério de Meio Ambiente e Mudança de Clima?

É de se perguntar onde se perdeu o alto escalão do ministério de Meio Ambiente e Mudança de Clima. Para Pablo Riul, em depoimento ao Mongabay, “um hectare de mangue tem muito mais carbono do que a mesma área na floresta amazônica. Mas é negligenciado. E sempre foi. As pessoas veem isso como um lugar sujo, com muito lixo e esgoto, porque historicamente serviu como um local de descarte de esgoto para muitas cidades costeiras.”

Segundo o Mongabay, os autores do estudo também observam que, de acordo com a legislação brasileira, a zona de transição entre as florestas de manguezais e a terra seca, comumente conhecida como apicum, não está protegida.

André Rovai diz que “a lei diferencia essas áreas e estabelece que o apicum não é manguezal porque se baseia apenas na presença da vegetação hoje, o que é um erro, já que a dinâmica sucessional da vegetação nesses ambientes ocorre em escala de décadas e centenas de anos.

”Para garantir a conservação dos manguezais, afirma o Mongabay, esses ecossistemas de transição entre ambientes terrestres e marinhos—que servem como viveiro crucial para várias espécies e como fonte de renda para as comunidades locais—precisam de monitoramento e estudos mais aprofundados, segundo os autores.

Esperamos que Marina Silva se manifeste, entretanto, passado um ano de governo Marina ainda não se pronunciou sobre políticas públicas para combater a erosão que já toma 60% de nossa costa, ou a supressão de mangues pela indústria da construção civil, em outras palavras, a especulação imobiliária; e até mesmo a prefeituras municipais que derrubam parcelas de mangue para o crescimento urbano. Definitivamente, a apatia não combina com um País que pretende liderar a questão ambiental no concerto das nações.

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