Faltam políticas públicas para o aquecimento no Brasil
Faltam muitas coisas no Brasil atual. E não por falta de avisos. O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) cansou de alertar que secas, tempestades e eventos extremos, que já provocam mortes e imensos prejuízos aos combalidos cofres públicos, se tornarão cada vez mais frequentes e intensos nos próximos anos. Alguns Estados como o Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco, ou o Espírito Santo, estão desmoronando. Nem assim há políticas públicas no Brasil para reordenar o crescimento das ocupações irregulares, e mitigar a situação acirrada pelo aquecimento (Post de opinião).
Perdas ainda maiores em futuro próximo
Enquanto sobra negacionismo em Brasília, faltam políticas públicas para várias e importantes áreas. Não apenas a Educação, ou a Cultura, foram destruídos neste governo. O que restava dos órgãos ambientais federais foi completamente sucateado em ‘pretenso’ apoio ao carro-chefe da economia nacional: o agronegócio.
Mas o setor, que atualmente domina a economia e não nos deixa naufragar de vez pela inconsequência e inépcia do governo, é o que mais sofrerá as consequências. Matéria da Folha de S. Paulo, de abril de 2022, Crise do clima vai afetar cadeias de exportação do Brasil diz relatório, de autoria deThiago Bethônico, acerta na mosca:
O agronegócio
FSP: ‘Dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) mostram que as temperaturas no Brasil já estão mais altas, enquanto as chuvas, mais intensas. O agronegócio, por exemplo, que representa cerca de 27% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, é um dos grandes prejudicados, sofrendo com perdas de safras e morte de animais’.
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‘Aumentando seu preço’ significa mais inflação, numa economia já aos pedaços; e ‘prejudicando os mercados para exportações brasileiras’, sinaliza que a contribuição do agronegócio hoje tende a entrar em colapso amanhã.
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Como o governo espera resolver mais esta crise? Não se sabe. O que se sabe é que o próximo presidente, seja lá quem for, estará em apuros antes mesmo de começar a governar.
De acordo com editorial ‘A verdadeira herança maldita’, no Estado de S. Paulo de 3 de maio de 2022, ‘uma conta de pelo menos R$ 82,3 bilhões será passada a quem assumir a Presidência da República em 1.º de janeiro. Esse é o custo, por enquanto, das bondades eleitorais do presidente Jair Bolsonaro’.
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Nada mau para um novo governo começar ‘devendo’ R$ 82,3 bilhões de reais. E, mais adiante diz o editorial, ‘nunca houve, nesse período, um plano de governo, com metas, programas e projetos articulados’.
Este é o ponto: a falta de políticas públicas.
Biocombustíveis poderiam ser uma das soluções no País
Ninguém duvida que os preços dos combustíveis são o grande vilão da inflação. E o Brasil tem todas as condições para não depender apenas deles. Mas, mais uma vez, faltam políticas públicas.
O Estado de S. Paulo, coluna do jornalista Celso Ming em abril de 2022. Título, Falta de firmeza nos biocombustíveis. Corpo do texto: ‘Especialistas apontam que a falta de transparência nos preços e a insegurança jurídica no setor afasta investidores e limita o desenvolvimento da indústria nacional de biocombustíveis’.
OESP: ‘A disparada dos preços dos combustíveis poderia ter criado condições objetivas para o aumento do consumo interno de biocombustíveis. Mas nenhuma proposta chegou a avançar em direção às políticas que se destinassem a garantir uma opção segura à gasolina e ao diesel’.
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‘O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de biocombustíveis do mundo, já dispõe de indústria relativamente consolidada e domina a tecnologia para produção, especialmente de etanol e biodiesel, hoje utilizados na mistura combustível, na proporção de 27% à gasolina comum e de 10% ao óleo diesel’.
30 bilhões de litros de etanol, e 6,8 bilhões de litros de biodiesel em 2021
Esta evidência foi apontada no artigo de Ming. ‘As estatísticas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) dão conta de que, em 2021, foram produzidos no País cerca de 30 bilhões de litros de etanol (anidro e hidratado) e 6,8 bilhões de litros de biodiesel. São números suficientemente altos que apontam para rota a ser seguida no propósito de atender às futuras demandas ambientais e econômicas do planeta’.
E conclui Celso Ming: ‘Mas a produção desses biocombustíveis ainda esbarra em instabilidade nas regras do jogo e distorções no mercado interno, que impedem a redução dos custos, dificultam a expansão do mercado e empurram para cima o preço nas bombas’.
Instabilidade que poderia ser evitada se tivéssemos políticas públicas. Mas o Brasil atual é um deserto do Saara delas, enquanto as improvisações, um oceano Pacífico.
Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo foi ouvido pelo jornalista (..e lamentou…):
“Os biocombustíveis são estratégicos para o Brasil porque ajudariam não só a mitigar a crise causada pela escalada do petróleo no preço dos combustíveis, mas a reduzir as emissões de gases do efeito estufa do setor de transporte e a diversificar a matriz energética.”
Mesmo assim, Brasília esquivou-se de agir. E quando a ciência alerta o poder público é demonizada pelo Palácio do Planalto, e execrada em praça pública pelos truculentos fanáticos do ‘mito’, como aconteceu ao cientista Ricardo Galvão ainda no início do governo.
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A indústria está aos pedaços
Se o agronegócio ainda salva a nossa economia, a indústria está aos pedaços. Mais uma vez, em razão da inépcia de um ex-deputado que nunca deveria ter saído do limbo em que chafurdou durante os quase 30 anos na Câmara dos Deputados.
E jamais, em seu governo, apresentou quaisquer políticas públicas.
Dependência hidrelétrica
Em razão desta falta de visão a médio e longo prazos, a indústria corre ainda o risco de ter menos energia, fundamental para qualquer setor da economia. Não nos esqueçamos que nossa matriz energética depende fundamentalmente das hidrelétricas, ainda que outras fontes tenham ganhado terreno nos últimos anos.
E, pelas mudanças climáticas que o governo se recusa a enxergar, ainda em 2021 quase fomos obrigados a racionar energia. Não seria difícil que a mudança dos ciclos das chuvas bata às nossas portas em breve, obrigando, neste caso, a indústria a andar em marcha-ré.
Ao mesmo tempo, nossa democracia periga pelas inúmeras ameaças que vêm do Legislativo, Executivo, e Judiciário, por motivos diversos e fúteis.
E mesmo assim, temos certeza, choverão pedras contra este post, enquanto haverá ‘estiagem’ argumentativa como sempre acontece. E como se também não fosse obrigação de um jornalista ambiental criticar o governo por sua ação ou omissão no setor.
Criticamos todos os governos anteriores quando nos pareceu que mereciam: o PT, de Lula e Dilma; o PSDB, de FHC e Dória; e o MDB, de Temer. E nunca houve pedras em razão de termos cumprido nossa obrigação.
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Mas, para os brucutus que seguem o ‘mito’, que planta a discórdia e a cizânia entre o povo que deveria governar, para colher distopia em grau alarmante, qualquer sinal da menor crítica que surja é motivo para linchamento público.
Metas no lixo
No mesmo dia do editorial do Estado que comentamos, a Folha de S. Paulo em seu editorial ‘Meta no lixo’, mostra outro fracasso do governo.
‘Em pleno ano de 2022, cerca de metade das cidades brasileiras ainda faz o descarte do lixo em locais inapropriados, o que dá a medida do fracasso do país nessa área’.
‘Segundo dados da Abrelpe, associação que reúne empresas do setor de coleta, nada menos que 2.868 municípios depositam seus resíduos de forma inadequada, seja nos famigerados lixões, seja em aterros sem nenhum preparo para impermeabilização do solo’.
‘Embora a extinção desses espaços insalubres conste da reduzida lista de promessas do governo Jair Bolsonaro (PL) na área ambiental, o ritmo em que isso vem ocorrendo torna pouco factível a meta de eliminá-los até 2024’.
Mais adiante, diz o editorial da Folha: ‘Tudo somado, constata-se que têm sido pífios os resultados do programa Lixão Zero, lançado em 2019 pelo então ministro Ricardo Salles —que, ao priorizar a agenda ambiental voltada às cidades, deixava em segundo plano o descalabro que se abatia sobre a Amazônia (link para Post do MSF)’.
Apesar de que no Brasil a sociedade civil tem se mostrado comprometida com a questão ambiental, o governo a ignora. Enquanto os seguidores do ‘mito’ sofrem do mesmo problema do chefe: ‘prisão de mente’, não de ventre. Quando, argumentos, são raros; mas agressões, fartas.
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A realidade exposta nas redes sociais
A realidade diária exposta nas redes sociais bota abaixo outro equívoco de nossa autoimagem. O de que seríamos um povo cordial, simpático, feliz e bem humorado.
Onde já se viu parcela tão significativa da população se agredir violenta e mutuamente, em razão de dois escroques que deveriam ser varridos para a lata de lixo da história: Bolsonaro e Lula. Pandilhas, um bate a carteira do outro.
E como manter-se em pé, este sim, verdadeiro mito da autoimagem (mito agora sem aspas)?
Torpes e tratantes. É por estes tipos que o País se divide?
Tristes Trópicos.
E que venham as pedras!
Imagem de abertura: agroemdia.com.br.
Fontes: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,falta-de-firmeza-nos-biocombustiveis,70004052711; https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/04/crise-do-clima-vai-afetar-cadeias-de-exportacao-do-brasil-diz-relatorio.shtml; https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/05/meta-no-lixo.shtml; https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,a-verdadeira-heranca-maldita,70004055268.