Espécies introduzidas custam mais de US$ 400 bi em prejuízos
As espécies introduzidas, também chamadas espécies invasivas, foram um fator importante em 60% das extinções registradas de plantas e animais. Esta é uma das conclusões do relatório produzido pela Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos das Nações Unidas. Este trabalho é uma expansão de um relatório de 2019 do mesmo painel, que concluiu que cerca de um milhão de espécies de plantas e animais estão em risco de extinção. O New York Times repercutiu a informação: ‘Milhares de espécies invasoras introduzidas em novos ecossistemas em todo o mundo causam mais de 423 bilhões de dólares em perdas estimadas à economia global todos os anos, prejudicando a natureza, danificando os sistemas alimentares e ameaçando a saúde humana, concluiu um amplo relatório científico.’
Espécies introduzidas ou invasivas, você sabe o que são?
São organismos não nativos a uma área específica. Espécies invasivas podem causar grandes prejuízos econômicos e ambientais. Contudo, nem todas as espécies não nativas são invasoras.
Por exemplo, a maioria das culturas alimentares desenvolvidas nos Estados Unidos, ou no Brasil, incluindo variedades populares de trigo, tomate e arroz, não são nativas das regiões. Neste caso, são conhecidas como espécies exóticas.
Entretanto, qualquer tipo de organismo vivo pode se tornar uma espécie invasora – um anfíbio, plantas, insetos, peixes, fungos, bactérias ou até mesmo as sementes ou ovos de um organismo que não são nativos de um ecossistema e causam danos.
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Casos emblemáticos no Brasil
No Brasil dois casos são emblemáticos. Um é o peixe-leão, oriundo do Indo-pacífico. O peixe-leão é uma enorme dor de cabeça para os países banhados pelo Atlântico. Nos anos 80 do século passado foi observada a sua presença em águas do Caribe. De lá para cá, os estragos foram incalculáveis. O peixe-leão se alastrou para o Golfo do México, desceu ainda mais para a costa Norte, Nordeste, e até mesmo na costa Sudeste do Brasil.
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Outro, é o mexilhão-dourado. Alguns estudos mostram que o molusco chegou ao Brasil em 1998 (Mansur et all 1999), no Lago Guaíba, através da água de lastro de navios mercantes. Já comentamos o problema dos navios e a bioinvasão. Outros dizem que ele entrou na América do Sul via o rio da Prata, Argentina, pelo mesmo motivo.
O fato concreto é que o mexilhão-dourado veio da Ásia, entrou pelo Prata, infestou o Guaíba, depois subiu até o São Francisco. Pesquisadores temem que ele chegue na Amazônia.
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Invasão da tilápia no mar brasileiro prova omissãoPeixe-leão se alastra pelo litoral do PaísA água de lastro de navios e a bioinvasãoSeja como for, para os especialistas, a introdução de espécies invasivas é a segunda maior causa de perda de biodiversidade no Planeta (IUCN). A primeira, o desaparecimento de habitats.
Custos pelo menos quadruplicaram a cada década desde 1970
Segundo o New York Times, os custos pelo menos quadruplicaram a cada década desde 1970, segundo o relatório, que se baseou em dados de 2019. Os investigadores alertaram que os números seriam estimativas conservadoras devido aos desafios na contabilização de todos os efeitos.
Para Helen Roy, ecologista e uma das líderes do novo estudo, “Estamos assistindo aumentos sem precedentes no número de espécies exóticas em todo o mundo. São cerca de 200 novas espécies todos os anos. E, sim, com esses números, também veremos os impactos aumentarem.”
O relatório é a análise mais exaustiva até agora sobre a forma como as espécies invasoras não nativas estão provocando a perda de biodiversidade. Antes de mais nada, foi compilado por 86 especialistas de 49 países que se basearam em milhares de estudos científicos e contribuições de povos indígenas e comunidades locais.
Como chegam estas espécies?
De muitas formas. O comércio ilegal de vida selvagem e o transporte marítimo internacional são duas delas. Entretanto, sabe-se que outras plantas e animais pegam carona com viajantes comuns que se deslocam de carro, avião ou trem.
Por exemplo, já foram encontrados carrapatos em pinguins na Antártica! Quem levou os carrapatos senão o homem ainda que de forma não intencional? Outra fonte é o aquarismo, provável causa da infestação do peixe-leão no Caribe e, daí, para o Atlântico Sul.
Os prejuízos à fauna e a flora mundiais
Segundo o New York Times, Os ecossistemas perturbados podem não ser capazes de fornecer alguns dos serviços dos quais os seres humanos dependem, como a manutenção da pesca, a regulação dos padrões de chuva e a purificação da água potável.
De maneira idêntica, as espécies invasoras também tornam os ecossistemas mais vulneráveis, reduzindo a biodiversidade que os tornam resilientes a doenças e outras ameaças.
Ilhas sofrem ainda mais
Já comentamos sobre A importância das ilhas para a biodiversidade mundial. Segundo o site Island Conservation, existem 465.000 ilhas no mundo. Juntas, elas cobrem 5,3% da área do planeta. Contudo, as ilhas representam a maior concentração de biodiversidade e, ao mesmo tempo, extinções de espécies.
Espécies insulares costumam ser evolutivamente distintas e altamente vulneráveis a novos distúrbios, particularmente espécies invasoras. O New York Times confirma: ‘As ilhas são particularmente vulneráveis. O número de espécies invasoras não nativas excede o número de espécies nativas em mais de um quarto das ilhas do mundo.’
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‘Isso ficou claro no mês passado, quando incêndios florestais no Havaí, alimentados por gramíneas invasoras não nativas e temperaturas mais elevadas, mataram pelo menos 115 pessoas. Nos últimos anos, gramíneas invasoras alimentaram outros incêndios mortais no Chile e na Austrália.’
‘Tempestade perfeita’
A autora da matéria do Times, Manuela Andreone, ouviu Dawn Bazely, professora de biologia da Universidade York, em Toronto. Para ela, “É uma tempestade perfeita. Corresponde à intersecção do aquecimento global com espécies invasoras que está a criar estes feedbacks terríveis, terríveis.”
Andreone conclui: Os investigadores afirmaram que a forma mais importante de combater a crise crescente de espécies invasoras não nativas é impedir a sua chegada a novas regiões. As opções incluem avaliar os riscos antes de movimentar espécies ou adotar medidas de biossegurança que muitas vezes são bastante simples.
E finaliza, O custo da inação é alto. Uma vez estabelecida uma espécie, especialmente em ambientes marinhos, livrar-se dela é normalmente muito caro ou mesmo impossível.