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Espécies exóticas custam USD 2 a 3 bilhões à economia do país

Espécies exóticas custam USD 2 a 3 bilhões à economia do país

Há muito o Brasil merecia um relatório completo sobre as espécies exóticas. A biodiversidade é nosso maior ativo, e somos campeões em biodiversidade. É nossa obrigação cuidar desta riqueza que um dia poderá fazer o País entrar no clube dos países ricos. O momento é agora, durante o período chamado de ‘descarbonização’. E os instrumentos para que isto se torne realidade, como o mercado de créditos de carbono, estão em pleno andamento. Só em 2022 ele movimentou cerca de US$ 900 bilhões de dólares no mundo. O Brasil está um tanto atrasado, o projeto ainda será discutido no Senado em 2024. Entretanto, para termos a real dimensão de nossa biodiversidade, é fundamental saber quais são as ameaças a ela. É neste sentido que é muito bem-vindo o relatório das espécies exóticas feito pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

Espécies exóticas no Brasil
Duas espécies exóticas no Brasil. Imagem, Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

Relatório sobre Espécies Exóticas no mundo

Só para você ter uma ideia dos perigos e do custo das espécies invasivas, consultamos o site do Programa de Meio Ambiente da ONU. Eles elencam cinco fatores, mas a matéria abre com as espécies invasivas, ou exóticas.

“Os humanos introduziram mais de 37.000 espécies invasoras, muitas delas prejudiciais, em biomas em todo o mundo, ameaçando uma série de plantas e animais, conclui um novo estudo da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).”

“O Relatório sobre Espécies Exóticas Invasoras, produzido por especialistas de 49 países, afirma que estes intrusos têm sido um fator importante em 60 por cento de todas as extinções e que custam à economia global mais de 423 bilhões de dólares anualmente. O relatório classificou as espécies exóticas invasoras como uma ameaça ao desenvolvimento sustentável e ao bem-estar humano.”

A globalização piorou o cenário. O aumento do transporte de mercadorias e viagens facilitou a introdução de espécies exóticas em longas distâncias e além das fronteiras naturais. Segundo o site da ONU, a  introdução de espécies exóticas contribuiu para quase 40% de todas as extinções de animais desde o século XVII, onde a causa é conhecida!

Alguns casos notórios no Brasil

Já comentamos alguns deles. Um aconteceu no Rio Grande do Sul, o mexilhão dourado que veio no casco de um navio e tomou conta do Lago Guaíba, da bacia do Prata, e de vários rios da Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Em 2014 foi noticiada a sua chegada a rios de São Paulo e Minas Gerais onde, mais uma vez, gerou prejuízos à Usina do Rio Grande.

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Outro que também entrou pelo sul, desta vez a partir de uma plataforma de petróleo, foi o coral sol, e finalmente o peixe-leão que, depois de infestar o Caribe, desceu a costa e hoje está em quase todas as regiões do País. Ao mesmo tempo, peixes oriundos da bacia Amazônica, como o pirarucu, por exemplo,  foram encontrados no Rio Grande, próximo a Cardoso, divisa de São Paulo e Minas.

Para encerrar, o caso mais conhecido é o da tilápia, um peixe oriundo da África que se reproduz bem em cativeiro. A tilápia se adaptou tão bem em nossas águas que, atualmente, representa, ao lado da carpa, outra espécie exótica, mais de 60% do cultivo de pescados em viveiro em todo o país. Além disso, a tilápia invadiu vários rios da Amazônia, e chegou até mesmo ao mar!

476 espécies exóticas no Brasil

O estudo mostra que o Brasil tem 476 espécies exóticas invasoras. Dessas, 268 são animais e 208 são plantas e algas. A maioria vem da África, Europa e sudeste asiático. O comércio de animais de estimação e plantas ornamentais é a principal forma de entrada. Essas espécies se espalham por todos os ecossistemas. Elas se concentram mais em locais degradados ou com muitas pessoas.

A proliferação também afeta as cidades, não apenas o mar ou o campo. As áreas urbanas ficam expostas devido ao movimento intenso de pessoas e produtos. Portos e aeroportos facilitam a entrada dessas espécies. O relatório, com contribuições de 73 autores principais, 12 colaboradores e 15 revisores, vem de instituições de pesquisa e órgãos públicos.

Imagem, Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

O relatório quantifica e qualifica as 476 espécies desta forma: Enquanto para animais, plantas e algas há um bom nível de conhecimento sobre quais são as espécies exóticas invasoras (pelo menos 208 espécies de plantas e algas e pelo menos 268 espécies animais), pouco se sabe sobre fungos e microrganismos exóticos invasores. Entre as plantas, as árvores e graminoides apresentam o maior número de espécies exóticas invasoras. Entre os animais, os peixes apresentam o maior número de espécies exóticas invasoras.

Unidades de Conservação não estão imunes

Nem mesmo as unidades de conservação estão livres. ‘Invasões biológicas em áreas protegidas são fenômenos comuns e existem registros de espécies exóticas invasoras em ao menos 30% das unidades de conservação do Brasil. As unidades de conservação com mais espécies exóticas invasoras estão localizadas na região do bioma Mata Atlântica’.

Imagem, acervo MSF.

Os relatórios apontam os custos através de perdas de produção, horas de trabalho, internações hospitalares e impactos na indústria de turismo. Se o cenário socioeconômico não mudar, as invasões biológicas podem aumentar de 20 a 30% até o final deste século. Esse aumento pode acontecer por causa da expansão do comércio, do transporte de mercadorias e do movimento de pessoas.

Restauração de áreas degradadas no Brasil usa espécies invasoras

A despeito de todas as informações sobre os prejuízos provocados pela introdução de espécies invasoras, recentemente publicamos o post Restauração de áreas degradadas no Brasil usa espécies invasoras.

Para nossa absoluta incredulidade, ficamos sabendo que um grupo de renomados cientistas publicou um alerta na revista Science, sobre o modelo de restauração do Brasil que usa espécies invasoras e, além disso segundo os cientistas, ‘os projetos em andamento adotam um padrão único para todos os tipos de ecossistemas, negligenciando a diversidade local de espécies e tornando áreas outrora biodiversas agora “homogêneas” após a restauração’. 

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Estes são erros indescupáveis para um ministério de Meio Ambiente comandado por  um ‘ícone’ do ambientalismo, e servindo um governo que pretende retornar o protagonismo histórico em questões ambientais.

Medidas práticas a serem tomadas para mitigar o problema

O relatório também traz  sugestões que  incluem decisões rápidas sobre manejo para aumentar a chance de prevenir e reduzir impactos negativos. A prevenção oferece a melhor relação custo-benefício.

Também recomenda que o governo invista mais na capacitação e atuação de profissionais para gerir invasões biológicas. Andrea Junqueira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que existem instrumentos jurídicos no âmbito federal, estadual e municipal que definem critérios para a gestão destas espécies em processos de licenciamento ambiental em sistemas de produção. “A questão é colocá-los em prática”. Os autores alertam que as medidas muitas vezes acontecem de forma desconexa e espalhada. Eles propõem no relatório a criação de uma política nacional unificada. Essa política abordaria prevenção, controle e redução dos impactos negativos nos setores ambiental, agropecuário, sanitário e sociocultural.

A ver o que fará Marina Silva, e como ela explicará que o Brasil usa espécies invasoras para restaurar áreas degradadas.

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