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Eleições nos Estados Unidos e o meio ambiente no Brasil

Eleições nos Estados Unidos e o meio ambiente no Brasil

Desde que Donald Trump foi eleito o meio ambiente perdeu prioridade mundo afora. Populista, e notório negacionista da ciência, o magnata  e apresentador da TV retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. Foi um sinal claríssimo de que ele está pouco se lixando para o resto do mundo. Seu gesto repercutiu, inclusive e especialmente, no Brasil. Perdeu a pluralidade, ganhou a mediocridade. O resultado é conhecido por aqui: aumento generalizado de desmatamento, e desmonte da legislação ambiental a duras penas alcançada. Post de opinião, Eleições nos Estados Unidos e o meio ambiente.

Eleições nos Estados Unidos e o meio ambiente

Neste 3 de novembro acontece a eleição mais esperada dos últimos anos. Dependendo dos resultados a questão ambiental pode voltar à tona com força maior.

Imagem,https://www.datadriveninvestor.com/.

O que aconteceu no entreato da primeira eleição de Trump e a que termina hoje foi fundamental para esta possível guinada: o surgimento da pandemia mais mortal do século, fruto também de maus tratos ambientais.

Uma pandemia ajuda a mudar a palavra ‘sustentabilidade’ de conceito abstrato, para a prática

Se existe de fato ‘um novo normal’ como muito se ouve, este novo normal é a mudança pela qual um conceito abstrato se tornou algo concreto.

Sustentabilidade, conceito que ganhou forma em Pindorama na Rio-92, é a bola da vez.

Como assinalou Jorge Caldeira, em seu livro Brasil, Paraíso Restaurável, “desde a peste negra, no século 14, nenhum evento ambiental tivera o condão de derrubar a economia do mundo. A gripe espanhola de 1918 não teve este impacto; nem mesmo as primeiras zoonoses contemporâneas da nova economia (HIV/aids, Ebola, Sars, etc) chegaram a tanto.”

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“O novo coronavírus levou menos de dois meses para passar de um obscuro ponto de origem ambiental para a humanidade e o globo terrestre, provocando uma recessão mundial no caminho de sua devastação.”

E prossegue: “O impacto econômico dessa primeira onda foi muito mais pesado na economia tradicional que nos setores que se organizaram a partir de novos conceitos. E isso coloca a pergunta: haverá força de recuperação para as novas formas mais antigas ou uma mudança ainda mais irreversível começa a se esboçar?”

O ‘novo normal’, a mudança irreversível que começa a se esboçar

O Mar Sem Fim tem repetido mais ou menos a mesma coisa. Se houve algo de bom nesta pandemia foi evidenciar que o mundo está híper interligado. O que acontece no interior da China repercute no interior do Brasil, e vice-versa.

Além desta, outra evidência ficou clara: as questões que afligem os países do globo, independente da origem, passarão a ocupar espaço maior nas agendas políticas. E isso é bom para um Brasil desgovernado.

Chegamos onde queremos: a importância de um meio ambiente equilibrado para o bem estar mundial. Em outras palavras, o aquecimento global e suas terríveis consequências passou a preocupar muito mais que antes da Covid-19.

Brasil preparado

Antes, vamos ao conceito, explicado a seguir pela Empresa de Pesquisa Energética – epe.

Matriz energética e matriz elétrica

“Muitas pessoas confundem a matriz energética com a matriz elétrica, mas elas são diferentes. Enquanto a matriz energética representa o conjunto de fontes de energia disponíveis para movimentar os carros, preparar a comida no fogão e gerar eletricidade, a matriz elétrica é formada pelo conjunto de fontes disponíveis apenas para a geração de energia elétrica. Dessa forma, podemos concluir que a matriz elétrica é parte da matriz energética.”

O novo normal

E o país melhor preparado para enfrentar o ‘novo normal’ é o Brasil. Para começar, nossa matriz energética, fonte indispensável que alimenta as economias mundiais, é a mais limpa que existe na Terra com cerca de  46,2% produzida por  hidrelétricas, biomassa e outras, enquanto no mundo a porcentagem de energia limpa mal chega aos 20%.

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Primeiro vamos ver a matriz energética mundial…com a definição da epe: “Fontes renováveiscomo solar, eólica e geotérmica, por exemplo, juntas correspondem a apenas 2% da matriz energética mundial, assinaladas como “Outros” no gráfico. Somando à participação da energia hidráulica e da biomassa, as renováveis totalizam aproximadamente 14%.”

Agora a brasileira…”A matriz energética do Brasil é muito diferente da mundial. Por aqui, apesar do consumo de energia de fontes não renováveis ser maior do que o de renováveis, usamos mais fontes renováveis que no resto do mundo. Somando lenha e carvão vegetal, hidráulica, derivados de cana e outras renováveis, nossas renováveis totalizam 46,2%, quase metade da nossa matriz energética.”

Para além disso, somos o País com a maior quantidade de biomas terrestres ainda preservados, uns mais, outros menos; mas, no todo, não há competidor para a biodiversidade brasileira.

No momento em que esta catarse mundial atinge o planeta, o Brasil tem talvez o mais primário presidente de todos os tempos. Jair Bolsonaro, o decano do ócio no Congresso, foi eleito em razão dos escândalos do PT.

Não fosse a roubalheira liderada por Lula e seus comparsas, Bolsonaro continuaria sua insignificante carreira no Congresso.

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O meio ambiente na era Bolsonaro

Não é preciso enumerar o quão nefasto foram estes menos de dois anos de gestão. De protagonista da causa ambiental, passamos a  vilões. A Educação e a Saúde são maltratadas, e a economia avança a passos de cágado. Crises políticas, porém, não faltam. Semana sim, outra também, explode uma.

E nossa legislação ambiental que começou a ser montada na ditadura, até há pouco considerada um exemplo no mundo embora  com muitos problemas, entre eles a burocracia que permeia nossa vida, foi severamente atingida.

Enquanto isso, quando o assunto não é pandemia na imprensa é o ‘novo’ conceito econômico dela derivada que ganha as manchetes, conhecido pela sigla ESG ou Environmental, Social and Governance  (Boa Governança Ambiental Social). É o lado bom da pandemia se mostrando.

Este conceito já é realidade no mercado financeiro envolvendo bancos centrais, fundos de pensão, seguradoras, e investidores mundo afora. Não por outro motivo, o Brasil assiste inerte a uma grande fuga de capitais. Como financiar nosso futuro sem ele?

O mundo percebeu a enrascada dos maus tratos ambientais

A Alemanha, maior economia da União Europeia é um dos exemplos. Caldeira lembra em seu livro que em 2005 Angela Merkel foi indicada para tentar um governo de coalização. ‘Ela foi atrás do Partido Verde… ao fim e ao cabo a primeira-ministra tinha se comprometido a transformar o programa dos verdes em guia para a direção na nação’.

Nasceu a fórmula  ’20-20-20 (20% de aumento na eficiência do uso da energia; 20% na redução de gases de efeito estufa; 20% de aumento na produção de energia renovável) até 2020 tornou-se o norte do planejamento estratégico de todos’.

A fórmula rendeu os dividendo esperados, sem causar desemprego, ou problemas para a economia, e ainda mostrou-se um bom exemplo para a União Europeia.

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Tanto é assim que, ‘em dezembro de 2019 a presidente da Comissão Europeia, a alemã Úrsula von der Leyen, anunciou em discurso a meta para a Europa se tornar o primeiro continente neutro em termos de carbono até 2050, lançando o chamado Green New Deal, ou Pacto Verde’.

Pouco depois, o Japão anunciou seu plano para ser neutro em carbono até 2050. O primeiro-ministro Yoshihide Suga fez a promessa em seu primeiro discurso ao Parlamento logo depois da posse.

Revolução verde na China

Até a China, maior emissor de gases de efeito estufa, trabalha para mudar esta relação. Depois da destruição ambiental provocada pelo ‘Grande Salto para Adiante’, a política de Mao Tsé Tung a partir de 1949, a China entendeu que o caminho era perigoso.

A destruição ambiental provocou a Grande Fome, no fim dos anos 50, começo dos 60, que resultou na morte de algo entre 20 e 40 milhões de pessoas, até que nos anos 70 com a aproximação aos Estados Unidos depois da viagem de Nixon, o país optou por um novo caminho, ‘uma combinação entre iniciativa privada e estatismo’.

‘Deng Xiaoping, sucessor de Mao entre 1978 e 1992, lançou o programa Quatro Modernizações que trouxe avanços’. Segundo Jorge Caldeira, ‘em 1976 o PIB do país era estimado em 154 bilhões de dólares e a economia chinesa disputava o décimo lugar do ranking mundial com o Brasil’.

Plano Quinquenal para 2006-2010

Caldeira demonstra que no Plano Quinquenal para 2006-2010 ‘pela primeira vez temas como reflorestamento, redução das diversas modalidades de poluição e limpeza de rios viraram objetivos governamentais’.

De lá para cá, o gigante asiático deu outro salto.

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‘Entre 2013 e 2015, o nível de poluição atmosférica nas 74 maiores cidades caiu em 26%’. E mais: ‘O plano quinquenal de 2016-2020 era totalmente voltado para a questão ambiental. A China tinha agora a ambição de não apenas chegar a um economia de carbono neutro, como a de se tornar o principal fornecedor mundial de equipamentos industriais para a produção de energia limpa’.

Dito e feito. ‘Em 2015 a China foi responsável por nada menos que 37% dos investimentos mundiais em energia renovável, tornando-se a maior produtora mundial de energia renovável, especialmente solar’.

A cidade de Dezhou, já comentada neste site, é a grande vitrine chinesa. Enquanto estas evoluções aconteciam e a China ganhava mercados e divisas, o Brasil elege Jair Bolsonaro iniciando a nossa decadência ambiental.

Eleições nos Estados Unidos: torcendo para Joe Biden

É o que nos resta fazer. Torcer para a vitória de Joe Biden. Esta será a única forma de frear o descalabro ambiental em que a mediocridade atual nos meteu.

Biden já declarou que, eleito, os Estados Unidos voltarão ao Acordo de Paris e, durante o debate, prometeu contribuir para o fim do desmatamento promovido por Bolsonaro e seu ‘ministro’ do Meio Ambiente, mas também adiantou que as consequências serão terríveis se o Brasil não se emendar.

É triste constatar que Bolsonaro é simplório demais para perceber a enorme chance que temos de deslanchar  como a grande potência verde do planeta.

Foi com a floresta e a legislação ambiental em pé que o agronegócio, que ele procura ‘proteger’, cresceu até alcançar a posição dominante de hoje. Antes se preocupasse mais com a péssima infraestrutra para ecoar as safras, o grande problema do agronegócio, famoso ‘custo Brasil’ que ele prometeu combater.

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Este governo aguentaria o isolamento mundial?

Acreditamos que não.

Eleições nos Estados Unidos

Se Biden vencer teremos mais pressão internacional contra os desatinos ambientais. E o ‘ministro’ do Meio Ambiente, enfraquecido por semear a discórdia no seio do governo e na sociedade, sairá mais chamuscado.

Medidas como invalidar a proteção de mangues e restingas, promover a pesca em unidades de conservação de proteção integral, ou fazer vista grossa aos incêndios e desmatamento provocarão reação ainda maior, portanto, tenderiam a diminuir de intensidade.

O Brasil não pode ser uma ilha, caso Biden vença, haverá mudanças na política ambiental, querendo Bolsonaro ou não. E será um alívio ver o grotesco símbolo máximo da extrema direita mundial voltar pra casa mais cedo. Seria um consolo para os que torcem para que o mundo volte a ser minimamente civilizado.

Desenvolvimento sustentável é o caminho

Encerramos emprestando as considerações de Celso Lafer, ex-ministro das relações Exteriores, em artigo para O Estado de S. Paulo em 18 de outubro de 2020.

“Foi o conhecimento (ou seja, a ciência) que identificou os riscos que põem em questão a integridade dos ecossistemas, que, no seu conjunto, sustentam a vida na Terra. Foi o aprofundamento do conhecimento que ampliou o escopo operativo da gestão de riscos nessa matéria.”

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“O paradigma do desenvolvimento sustentável consagrado na Rio-92 assinala a presença internacional ativa do Brasil nesse campo e é um exemplo da ciência na diplomacia. O desenvolvimento sustentável é o caminho para lidar, com o apoio do conhecimento, com a interligação economia e meio ambiente.”

“O desabrido negacionismo do governo Bolsonaro, por atos e palavras, em relação ao tema do meio ambiente é uma denegação do prévio acervo de realizações das políticas públicas brasileiras e de suas instituições de conhecimento. Corrói a credibilidade internacional do Brasil. Põe em questão a nossa capacidade, como país, de lidar criativa e construtivamente, pelo conhecimento, com a riqueza da nossa natureza e com o nosso potencial de crescimento econômico.”

Eleições nos Estados Unidos: torcer por Joe Biden é o que nos resta.

Imagem de abertura: https://www.datadriveninvestor.com/

Fontes: Brasil: Paraíso Restaurável, Ed. Estação Brasil, e https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,diplomacia-e-conhecimento,70003478204.

Conservação marinha no Brasil e a Agenda 2030

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