Corais, óleo, e outros ecossistemas, equação dramática
O Brasil tem uma faixa de corais que é a segunda maior do mundo em extensão, com cerca de 3 mil km. Não se sabe ainda qual a porcentagem atingida destes corais. Não precisamos lembrar que o acidente ainda sequer foi esclarecido, quanto mais avaliado. Mesmo assim, a tragédia já é considerada o maior acidente ecológico do País. A análise “apontou que a substância é petróleo cru, ou seja, não se origina de nenhum derivado de óleo”. Não poderia ser pior. É puro piche. E como este material afeta os criadouros? Enquanto se discute se o óleo vazou de um navio, e qual seria ele, fizemos uma curadoria na rede para saber o volume da contaminação nos ecossistemas marinhos. Até agora o que se sabe é que corais, óleo, e outros ecossistemas, são uma equação dramática.
Corais, óleo, e outros ecossistemas: problemas devem durar décadas
Começando com os corais, por serem o mais importante ecossistema marinho. Ronaldo-Francini Filho, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), falou ao site da SOS Mata Atlântica. Para ele, é difícil afirmar a magnitude do que aconteceu sem um trabalho científico e embasado. Isso deve acontecer em um ou dois anos. Mas, normalmente, danos de vazamento de óleo quando atingem a costa, são praticamente irreparáveis. ”
“Deve durar décadas”
“Deve durar décadas”. Precisamos pensar agora em restaurar essas áreas. Mas ainda estamos na fase de evitar chegada de mais óleo”. Para Gustavo Duarte, pesquisador do AquaRio e do Laboratório de Ecologia Microbiana e Molecular (LEMM) da UFRJ, ouvido pelo site http://circuitomt.com.br, “nunca houve um ano tão terrível para os corais do Brasil. Tivemos um branqueamento (em razão do aquecimento global) recorde de corais em maio e junho. Houve mortalidade de até 90%, no caso de uma espécie importante. Agora, o óleo atinge os corais nordestinos num momento em que eles começavam a se recuperar.”
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Raquel Peixoto, que coordena as pesquisas no LEMM e no AquaRio, concorda com Duarte. Ela explica que o óleo afeta o metabolismo e a reprodução dos corais e das algas que vivem em simbiose com eles e lhes dão cor e alimento. É a morte das algas que causa o branqueamento. E, em consequência, a destruição.
Um coral de 50 cm pode levar 20 anos até se recuperar
Segundo o circuitomt.com.br, “Um estudo inédito do LEMM revelou que mais de 90% dos corais da espécie Millepora alcicornis (coral fogo), uma das mais importantes construtoras de recifes no Brasil, morreram neste ano pelo branqueamento.
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Um coral de 50 cm pode levar 20 anos até se recuperar. Outras espécies também foram afetadas pelo branqueamento. Entre elas o coral-cérebro, que só existe no Brasil.
“O especialista Cláudio Sampaio, responsável pelo Laboratório de Ictiologia e Conservação do Campus Arapiraca, coordenador do Projeto Meros do Brasil em Alagoas e professor de Engenharia de Pesca e de Licenciatura em Ciências Biológicas da Unidade de Penedo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) falou ao site https://odiamais.com.br: “Os corais são animais fixos. Durante a baixa maré são facilmente contaminados e sufocados pelo óleo, matando não apenas os corais, mas muitos animais que dependem dos recifes para alimentação, proteção e local de reprodução”(Saiba mais sobre os corais).
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Clemente Coelho Junior, professor e pesquisador da Universidade Rural de Pernambuco e fundador do Instituto Bioma Brasil foi categórico: “É praticamente impossível, por exemplo, tirar o óleo que já chegou nos corais. Vão se criar várias zonas mortas (Saiba o que são e como e formam).
Corais são facilmente contaminados
“Os corais são animais fixos. Durante a baixa maré são facilmente contaminados e sufocados pelo óleo, matando não apenas os corais, mas muitos animais que dependem dos recifes para alimentação, proteção e local de reprodução. Quando chega nos manguezais o estrago é maior. Não existe protocolo de limpeza dos manguezais. Por isso alerto que é a maior tragédia ambiental do litoral brasileiro. Quase metade do litoral do país e todo o litoral nordestino foi atingido.”
Trocas gasosas e alteração do pH
Pesquisadores do Rio Grande do Norte, e nos outros Estados do Nordeste, encontraram óleo não só nos corais, mas em sedimentos do fundo do mar. O que quer dizer isso? Quem responde é Patrícia Eichler, professora de geologia na UFRN e da pós-graduação em ciências ambientais da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina). Ela falou ao site Uol: “Segundo as amostras, havia a presença do óleo nas camadas superficial e interna do fundo dos corais. O material pode impedir trocas gasosas. Ou seja, óleo pode dificultar as trocas gasosas realizadas entre os corais e a água marinha, impedindo a alimentação desses seres vivos. E ainda pode provocar alterações no pH essencial para a vida no local.”
Acúmulo de sedimentos
Sobre o acúmulo nos sedimentos, o resultado é o mesmo: “Houve uma penetração nas camadas mais internas do solo marinho. O que isso acarreta é que não mata apenas a epifauna que vive sob o fundo do mar. Mas também a infauna, que vive dentro do sedimento marinho a até a 10 cm de profundidade. É um impacto ambiental violento”.
Mudança de pH da água
Os oceanos já vêm enfrentando este problema de maior acidez em razão do aquecimento global. A água do mar está ficando mais ácida, o que mata a vida marinha (Saiba mais sobre a acidificação dos oceanos). Agora, no litoral do Nordeste o mesmo fenômeno é acirrado pelo derramamento de óleo. “Eichler conta que, ao entrar em contato com a água, o óleo libera ácido sulfídrico, aumentando a acidez do fundo marinho. E prejudicando toda a cadeia ambiental.” Em outras palavras: “Os consumidores primários são feitos com carbonato de cálcio. Em contato com o óleo, isso acidifica e é dissolvido. Ou seja, você tem uma dissolução dos consumidores primários e secundários da cadeia alimentar. Vai faltar alimento para camarão, caranguejo, peixe.”
Consequências do óleo na vida marinha
Populações microscópicas de seres-vivos
A maior preocupação dos pesquisadores agora é de que essas micropartículas possam dizimar populações microscópicas de seres-vivos. Principalmente os plânctons, responsáveis pela produção de matéria orgânica e oxigênio nos oceanos (Saiba mais sobre o plâncton). Além disso, com a contaminação desses importantes seres-vivos, outros animais que se alimentam dessa fonte já podem estar ingerindo resíduos do óleo. O pesquisador Mauro de Melo Junior, falou ao site https://hardcore.com.br. Ele comparou o fator de fragmentação do óleo com o dos plásticos: “Da mesma forma que os micro e nanoplásticos estão entrando na teia alimentar marinha, acredito que isso esteja ocorrendo com o óleo que chegou à costa. O princípio de separação de partículas de ambas substâncias é o mesmo”. E concluiu: “Os organismos planctônicos servem de alimento para diversos animais, como peixes, esponjas, corais, moluscos e crustáceos.”
Peixes
Os peixes têm mais capacidade de receber uma certa carga de poluição e se livrarem se as doses de óleo forem pequenas. Já, em maior quantidade, os peixes, quando em contato com o petróleo morrem por asfixia. O óleo se impregna nas suas brânquias, impedindo a respiração.
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Aves Marinhas
Além de se intoxicarem, as aves marinhas ficam com as penas cobertas de petróleo, não conseguindo voar e nem regular a temperatura corporal. Isso causa sua morte.
Mamíferos marinhos
Os mamíferos marinhos, também por não conseguirem realizar a regulação da temperatura corporal, não conseguem se proteger do frio. Acabam morrendo. Se algum animal ingerir esse óleo, isso pode provocar envenenamento em toda a cadeia alimentar.
Tartarugas
A rede de conservação de tartarugas marinhas (Retamane), da qual a Ufal e o Instituto Biota fazem parte, representando Alagoas, também está monitorando e contribuindo com o resgate de animais oleados. “As tartarugas podem ser oleadas na superfície do mar, quando sobem para respirar, quando comem alimento contaminado, ou quando chegam à praia para depositar seus ovos. Os filhotes, ao buscar o mar depois do nascimento, também podem entrar em contato com o óleo nas praias”, alerta Cláudio Sampaio.
Assista ao vídeo que mostra o óleo nos corais.
Fontes: http://circuitomt.com.br/editorias/brasil/146407-leo-causa-pior-desastre-ja-visto-em-recifes-de-corais-brasileiros.html; https://odiamais.com.br/pesquisador-da-ufal-alerta-para-o-impacto-das-manchas-de-petroleo-no-litoral/; https://www.sosma.org.br/109013/especialistas-apontam-para-impactos-da-mancha-de-oleo-nordeste/; https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2019/10/22/pesquisadores-encontram-oleo-em-corais-e-sedimentos-no-fundo-do-mar-no-rn.htm; https://hardcore.com.br/oleo-no-ne-comeca-a-se-fragmentar-como-plastico-e-contamina-vida-marinha/.