Ciganos do mar, os Moken estão ameaçados pelo turismo

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Ciganos do mar, os Moken estão ameaçados pelo turismo

O povo Moken, que vive entre Mianmar e a Tailândia por cerca de 4.000 anos, leva uma vida diferente de qualquer outra. Conhecidos como ciganos do mar, toda a sua existência gira em torno do oceano, um estilo de vida que agora enfrenta desafios significativos. Eles são algumas das últimas pessoas em todo o mundo que vivem dessa maneira, conhecidas por suas extraordinárias habilidades de mergulho livre e vivendo em barcos tradicionais conhecidos como ‘kabang’. Atualmente, a maioria dos Moken se estabeleceu no arquipélago de Mergui, na costa de Mianmar, com presença menor em uma ilha tailandesa. A equipe Edges of Earth, liderada pela aventureira Cruz de Andi, embarcou em uma missão para essas ilhas para entender a vida diária dos Moken e os problemas que eles encontram em um mundo em rápida modernização.

Barco tradicional dos moken
Barco tradicional dos ‘Ciganos do mar’. Imagem, www.survivalinternational.org.

Turismo é uma das ameaças

A globalização traz uma série de melhorias mas, ao mesmo tempo, é uma ameaça àqueles que vivem de forma diferente da massa de 8 bilhões de seres humanos que formam a superpopulação da Terra. O mundo tem pressa. Não gosta de perder tempo para entender quem age de forma diferente da grande manada.

Barcos tradicionais dos moken
Barcos tradicionais dos moken. Imagem, www.survivalinternational.org.

Quanto mais original o grupo, maior o risco que enfrenta. No Japão, por exemplo, sobrevive o último grupo de mergulhadoras de conchas. São as Amas, conhecidas como “sereias japonesas”. Estão registradas na história do país há 3 mil anos. Hoje lutam para manter vivas suas tradições.

Indivíduo Moken pescando
Indivíduo Moken pescando.

Outro povo com especial relação com o mar é o Bajau, formado por mergulhadores malaios, que passam quase toda a vida no mar, vivendo  em barcos ou em cabanas em palafitas sobre recifes rasos. Nem é preciso ir tão longe para encarar esta realidade. Aqui mesmo, em nosso litoral, os caiçaras passam pela mesma provação. Muitos já desistiram e se integraram nas escalas mais baixas da hierarquia social, outros poucos ainda resistem.

Mas hoje nosso foco são os Moken, descendentes de grupos de caçadores-coletores da Ásia que se estabeleceram no mar sobre barcos e palafitas, e tão íntimos com os oceanos que conseguem enxergar debaixo d’água sem usar aparelhos especiais.

Mar de Andaman

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Segundo matéria da Forbes, os desafios ambientais só aumentam. O estilo de vida dos Moken depende do mar. Mas hoje sofre com a poluição, a sobrepesca e os impactos crescentes das mudanças climáticas.

Um grupo étnico austronésio com cerca de 3.000 membros

Os Moken (também grafados Mawken ou Morgan) são um grupo étnico austronésio com entre 2.000 a 3.000 membros (em declínio) que mantêm uma cultura nômade baseada no mar.

criança moken
Uma criança moken. Imagem, www.aquatic.human.ancestor.org.

O nome abrange todas as tribos de língua austronésia que vivem no litoral e nas ilhas do Mar de Andaman. Elas se espalham da costa oeste da Tailândia até o arquipélago Mergui, em Mianmar (antiga Birmânia). O grupo inclui os Moken propriamente ditos, os Moklem, os Orang Sireh e os Orang Lanta. Os últimos, são um grupo híbrido formado quando o povo malaio se estabeleceu nas ilhas Lanta, onde viviam os proto-malaios Orang Sireh.

Segundo o Aquatic Human Ancestor os Moken também são chamados de ciganos do mar, um termo genérico que se aplica a vários povos do sudeste asiático. Seu epíteto é “Os Moken nascem, vivem e morrem em seus barcos, e os cordões umbilicais de seus filhos mergulham no mar”. Os Moken só vivem em terra durante a monção, por cerca de três meses por ano. Por esse motivo, seus bebês aprendem a nadar antes de andar e aprendem a mergulhar ainda muito pequenos.

Casas moken
O tipo de casas que constroem não difere muito de algumas do Nordeste do Brasil. Imagem, www.survivalinternational.org.

Como são  mergulhadores e navegadores habilidosos, o povo Moken coleta principalmente moluscos e pesca peixes, trocando-os por seu alimento básico barato: o arroz. Eles têm a extraordinária capacidade de prender a respiração e enxergar debaixo d’água por um tempo que excede em muito a capacidade de um ser humano comum e saudável. Como resultado, muitos pescadores em Mianmar utilizam os serviços do povo Moken para ajudá-los a pescar, montar redes e coletar moluscos.

Enxergar debaixo d’água?

Os Moken têm uma visão subaquática excepcionalmente boa porque seus olhos se adaptaram ao ambiente líquido. Sua visão sob a água é tão afiada que os pesquisadores a estudaram. Heidi Schultz escreveu na National Geographic on-line: “Um estudo de 2003 realizado por cientistas suecos mostra que as crianças Moken veem duas vezes melhor debaixo d’água que crianças europeias”. Eles são capazes de se concentrar e escolher pequenos mariscos e outras formas de vida marinha do fundo rochoso do oceano que para a maioria das pessoas são apenas borrões.

Os pesquisadores descobriram que as crianças Moken são capazes de contrair seus olhos mais do que as crianças europeias, produzindo imagens mais nítidas. Os Moken também foram capazes de efetuar uma mudança maior na forma da lente do olho para aumentar o foco visual (um processo conhecido como acomodação).

Nômades marinhos indígenas e apátridas

Os Moken vivem como nômades marinhos indígenas e apátridas nas águas ao largo de Mianmar (Birmânia) e Tailândia há quase 4.000 anos. Eles são o último povo que ainda vê o oceano como um lugar para viver toda a sua vida.

Os Moken são conhecidos por suas incríveis habilidades de mergulho livre e, historicamente, viviam em tempo integral em seus barcos tradicionais chamados kabang. Eles são os últimos nômades marinhos da Terra com uma cultura que se concentra na interação sustentável com todos os ambientes marinhos e sobrevivem dessa forma desde a Idade da Pedra.

Para saber mais assista ao vídeo

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