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Bacalhau, o peixe que mudou o mundo

Bacalhau, o peixe que mudou o mundo (e acabou minguando…)

Bacalhau, o peixe está em perigo há pelo menos 650 anos. “A história da pesca do bacalhau pelos portugueses  é pela primeira vez referenciada em 1353, quando D. Pedro I e Edward II da Inglaterra estabelecem um acordo para pescadores de Lisboa e do Porto poderem pescar o bacalhau nas costas da Inglaterra por 50 anos”.

Mas, se seguirmos a história da pesca do bacalhau através dos séculos, aprenderemos muito sobre a história de vários povos navegadores. Não foram poucos os que se fizeram ao mar, desde a idade média, atrás de seus grandes cardumes. Neste trajeto foram escritas algumas das mais bonitas epopeias náuticas.

1353: portugueses  fazem acordo sobre pesca de bacalhau. Necessidade sugere sobrepesca desde sec. XIV

“A necessidade de estabelecer um acordo indica que esta atividade já se realizava em anos anteriores, e em tal quantidade, que justificava a necessidade de a enquadrar nas relações entre os dois reinos”.

Ilustração: wikipedia.pt

Se você achou 650 anos de pesca algo exagerado, espere até saber que…

Bacalhau: ‘o fim de uma farra de mil anos de pesca’

A frase ‘o fim de uma farra de mil anos de pesca’ está no delicioso livro ‘Bacalhau – A história do peixe que mudou o mundo”, de Mark Kurlansky, disponível no Brasil em edição da Nova Fronteira.

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Bascos, vikings e bacalhau do Atlântico: o Gadus morhua

Agora diga: o que têm a ver os bascos, os vikings, e o bacalhau; o famoso bacalhau do Atlântico, o Gadus morhua?

Mark Kurlansky e sua extraordinária pesquisa: “os bascos são enigmáticos…vivem no extremo noroeste da Espanha e um pedacinho do sudoeste da França há mais tempo que o mais antigo registro histórico…eles criam ovelhas, cantam suas próprias músicas e escrevem suas próprias obras literárias em seu próprio idioma…”

Os bascos não são apenas pastores, são também navegadores

E daí?

-Bom, o parágrafo é para situar onde, quem e como. Mas tem mais, segundo o autor, “…os bascos não são apenas pastores, são também navegadores famosos por seu sucesso no comércio”.

Bascos e a caça à baleia

“Durante a Idade Média, quando europeus consumiam grande quantidade de carne de baleia, os bascos viviam em águas distantes e desconhecidas para caçá-las”.

Grandes cardumes de bacalhau

-Na Idade Média, em águas distantes e desconhecidas, como assim?

“… eles podiam percorrer longas distâncias porque haviam encontrado grandes cardumes de bacalhau e salgado o produto da pesca, conseguindo um alimento que não estragava em longas viagens”.

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-E os vikings, o que têm com isso?

Vikings: navegavam para onde havia bacalhau…

“…os bascos não foram os primeiros a curar o bacalhau. Séculos antes, os vikings tinham viajado da Noruega  para a Islândia, para a Groenlândia e para o Canadá, e não era mera coincidência o fato dessa ser a área onde o bacalhau do Atlântico era encontrado”.

Ilustração: Aurélio Magalhães – WordPress.com

“Como os vikings sobreviveram em uma Groenlândia sem verde, e uma Terra de Pedra sem terra, pergunta o autor?”

Os grandes bancos de bacalhau. (Ilustração: wikipedia.pt)

“O que eles comeram nas cinco expedições para a América feitas entre 985 e 1011 que estão registradas nas sagas islandesas?”

Por que os bascos foram mais longe que os vikings? Bacalhau de novo…

“Porque eles já conheciam o sal; e como o peixe que era salgado antes de ser seco durava mais, puderam ir ainda mais longe”.

Distribuição do bacalhau no mundo. Tudo a ver com os bascos e a descoberta da América. (Ilustração: pt.wikipedia.org)

E agora, o que você me diz? Não é uma tese plausível? É mais que isso…

Mais um povo navegador nesta história: os britânicos

“Os britânicos, que pescavam bacalhau em alto-mar nestas águas desde o tempo dos romanos, nunca cruzaram com pescadores bascos, nem mesmo no século XIV…os bretões, que tentaram seguir os bascos, começaram a falar em uma terra do outro lado do mar.”

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Instituição envolvida com bacalhau: o catolicismo

Bascos, vikings, bretões. Agora a igreja católica?

“O catolicismo deu aos bascos sua grande oportunidade. A igreja medieval impunha dias de jejum nos quais era proibido manter relações sexuais e comer peixe, mas comidas ‘frias’ eram permitidas. Como o peixe vinha de água passou a ser considerado frio…No total a carne era proibida em quase metade dos dias do ano, e os dias de jejum acabavam por tornar-se dias de bacalhau salgado”.

O jejum na Idade Média. (Ilustração: Padre Paulo Ricardo)

E conclui: “os bascos ficavam mais ricos a cada sexta- feira”.

Mas de onde vinha todo esse bacalhau?

“Esse povo misterioso que nunca revelou sua própria origem, guardou também este segredo”.

Carta a Cristóvão Colombo

-Só faltava esta!

“Recentemente, para alegria da imprensa britânica, uma carta foi descoberta. Foi enviada a Cristóvão Colombo na época em que ele colhia os louros pela descoberta da América…”

“A carta, enviada por comerciantes de Bristol, alegava que ele  sabia muito bem que eles já haviam estado na América. Não se sabe se Colombo a respondeu”.

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Conclusão: os bascos, atrás de bacalhau, chegaram à América antes de Colombo

“Os pescadores guardavam seus segredos, enquanto os exploradores contavam suas descobertas”. “Colombo requisitou a posse do Novo Mundo para a Espanha”.

Mas há igualmente outra tese, que diz que foram os nautas lusitanos os descobridores do que hoje se conhece como Canadá. Segundo o site ncultura.pt, ‘Em quinhentos, é possível contactar com registos de frotas portuguesas que pescavam, precisamente, bacalhau nas costas da Terra Nova (onde agora fica o Canadá). Julga.se que esta Costa tenha sido mesmo encontrada por navegadores portugueses, na época dos Descobrimentos’.

Giovanni Caboto dá a mão que faltava…

“Em 1497, cinco anos depois de Colombo ter topado com o Caribe em sua procura de uma rota para as especiarias da Ásia, Giovanni Caboto partiu de Bristol; não em busca do segredo da cidade, mas na esperança de encontrar a rota que Colombo não achara”. “Depois de 35 dias no mar Caboto encontrou terra embora não fosse a Ásia”.

Caboto. (Ilustração: exploration-and-piracy.org)

‘Perto de um mar onde pululavam bacalhaus…’

“Era uma vasta costa rochosa, ideal para secar e salgar peixe, perto de um mar onde pululavam bacalhaus”. “Era a Terra Nova, cuja posse requisitou para a Inglaterra”.

Jacques Cartier, navegador francês

“Trinta e sete anos depois, Cartier chegou, requisitou o crédito pela ‘descoberta’ da foz do São Lourenço, fincou uma cruz na península Gaspé e requisitou a posse de todo o território para a França.”

Jacques Cartier. (Ilustração: Bio.com)

Cartier notou a presença de mil barcos pesqueiros bascos…

“Ele notou também a presença de mil barcos pesqueiros bascos”. “Mas os bascos, na intenção de preservar seu segredo, nunca haviam requisitado a posse da terra para ninguém…”

O declínio do bacalhau: ele pode estar extinto em 15 anos

2004: “um estudo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) da Noruega adverte que o peixe pode estar extinto já daqui a 15 anos”.

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Depois dos trawlers, com arrasto, acabou o bacalhau. (Ilustração: O Direito à Vida – blogger)

“A autora, Maren Esmark, disse que nos últimos 30 anos desapareceu 70% da população mundial deste peixe”. “Se continuar assim, em 15 anos não haverá mais bacalhau no mercado”.

Bacalhau, responsável pela descoberta da América?

Pudera…com a pesca contínua desde mil anos atrás, não era pra menos. Mas o peixe famoso deixará sua história mesmo que  extinto. Por causa dele, agora sabemos, a América pode ter sido uma descoberta dos bascos, um povo navegador.

Tradição náutica dos bascos: Juan Sebástian Elcano

-Mas, só isso é prova?

-Não, ainda há a tradição náutica basca, não sabia?

-Pois saiba que um dos maiores navegadores de todos os tempos, Sebastião Elcano, o homem que concluiu a primeira circum-navegação do mundo, era basco.

Ilustração: wikipedia

“Juan Sebastián Elcano (Getaria, Guipúscoa, 1476 — Oceano Pacífico 4 de agosto de 1526) foi um navegador e explorador basco”. “Completou a primeira circum-navegação do mundo organizada por Fernão de Magalhães”.

“Elcano assumiu o comando após a morte de Magalhães em 1521 nas Filipinas e comandou a nau Victoria, o único navio a retornar à Espanha após dar a volta ao mundo”.

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Quem não lembra desta icônica imagem?

Fontes e leitura sugerida:

‘Bacalhau- A história do peixe que mudou o mundo’ ,  Mark Kurlansky.  Ed.  Nova Fronteira.

‘Faina Maior – A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova’,  Francisco Marques  e  Ana Maria Lopes. Quetzal  Editores, Lisboa, 1996.

‘A Campanha do Argus’,  Alan Villiers.  Ed.  Cavalo de Ferro,  setembro de  2005.

Wikipedia e Deutsche Welle.

Foto de abertura:  https://ensina.rtp.pt/

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