Áreas de proteção integral nos Oceanos são as mais efetivas, diz o ICES Journal of Marine Science
O estudo publicado em Agosto de 2017 é o mais recente sobre o tema. O ICES-International Council for the Exploration of the Sea é uma publicação de Ciências Marinhas da Oxford University Press. Ele mostra a importância das Áreas de proteção integral nos Oceanos, ou seja, aquelas em que não se pode extrair nenhuma espécie de vida marinha.
Quanto, dos Oceanos, está protegido hoje?
Depois dos últimos esforços de vários governos mundo afora, são 3,5% por cento sendo que, apenas 1,6% são áreas de proteção integral ou, ‘no-take’ MPAs (Marine Protect Areas). “Ainda estamos aquém do objetivo das Nações Unidas de 10% do oceano protegido até 2020.”
Qual é a proteção aos mares e zona costeira no Brasil?
No Brasil apenas 1,5% dos mares estão ‘protegidos’ (entre aspas porque muitas são RESEX e APAs que não protegem coisa alguma), e apenas 0,05% de toda a zona exclusiva econômica brasileira, com aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros quadrados, ou 40% do tamanho do Brasil, está protegida de forma integral.
Quem está certo, o mundo, ou o Brasil? As aspas ainda se justificam porque em todas as UCs do bioma marinho não existe qualquer fiscalização. A grande maioria está praticamente no papel. Sem equipes ou equipamentos minimamente adequados.
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Uma meta-análise de estudos científicos mostra que a biomassa de todo o conjunto de peixes é, em média, 670% maior em reservas marinhas (proteção integral, as ‘no-take’) do que em áreas desprotegidas. E 343% maior do que em Áreas Marinhas parcialmente protegidas (Figura 1 ). A biomassa de peixes em Áreas Marinhas de uso sustentável, ou parcialmente protegidas, foi apenas 183% maior do que em áreas desprotegidas. E, muitas vezes, não era diferente de áreas desprotegidas (por exemplo, Aburto-Oropeza et al., 2011).
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MR = Áreas de Proteção integral (no-take). PP = Áreas parcialmente protegidas, ou de ‘uso sustentável’. OA = Áreas marinhas sem proteção.
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As reservas marinhas de proteção integral podem causar efeitos indiretos que restauram a estrutura e a complexidade do ecossistema como antes da sobreexploração – uma vez que a abundância de predadores se recupera o suficiente.
As Áreas Marinhas Protegidas podem amenizar os efeitos das mudanças climáticas?
As AMPs podem não fornecer resistência contra o aquecimento. Mas podem contribuir para a resiliência. Em 2016, um forte evento de El Niño causou o mais grave evento de descoloração de corais na história.
Ele matou 67% dos corais, na parte norte da Grande Barreira de Corais na Austrália, em apenas nove meses.
Áreas Marinhas Protegidas melhoram a pesca?
No final da década de 1990, alguns pescadores e cientistas da pesca, principalmente nos Estados Unidos, começaram a criticar as AMPs. Eles argumentavam que podem prejudicar a pesca tentando colocar o ônus da prova em conservacionistas (ou perservacionistas no Brasil). Seguiu-se uma série de estudos, enfocando se as AMPs produzem “vazamentos” de peixe que poderiam ajudar as pescarias adjacentes. Embora as AMPs não tenham sido inicialmente concebidas para ajudar a pegar mais peixes fora de seus limites, as reservas marinhas bem aplicadas podem aumentar as capturas de pesca adjacentes. E garantir a sustentabilidade, aumentando a rentabilidade a longo prazo das pescarias locais.
Reservas marinhas e o turismo
Sempre de acordo com o estudo do ICES, em muitos lugares as reservas marinhas também criam outras oportunidades de negócios. Principalmente através do ecoturismo já que a crescente população de mergulhadores quer viajar para onde verão uma vida marinha abundante. Em alguns casos, os pescadores podem compensar possíveis perdas e aumentar seus rendimentos quase que imediatamente.
Curioso, chegaram à mesma conclusão que este escriba, e um dos mais sérios e competentes ambientalistas brasileiros, José Truda Palazzo Jr., em recente artigo que escrevemos no Estadão endereçado ao Presidente do ICMBio e ao Ministro do MMA.