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Afinal, o que aconteceu ao submersível Titan?

Afinal, o que aconteceu ao submersível Titan?

O mundo parou em junho para acompanhar o destino de cinco tripulantes do submersível Titan que explorava turisticamente o naufrágio do Titanic. O oceanógrafo Robert Ballard foi responsável pela expedição que encontrou destroços em 1985, a 3.800 metros abaixo da superfície. Ballard é ex-oficial da Marinha dos Estados Unidos, e professor de oceanografia  na Universidade de Rhode Island, notabilizado por seu trabalho em arqueologia marinha. Mais que depressa, a indústria do turismo aproveitou a oportunidade. Assim, quando a OceanGate Expeditions iniciou suas operações em 2018, ela se gabava de ter os únicos veículos privados do mundo capazes de chegar ao Titanic. Contudo, em 18 de junho houve a ‘implosão catastrófica’ e a morte trágica de seus tripulantes. Passado pouco mais de um mês, o que se descobriu afinal?

Submersível Titan.
Imagem, YouTube.

Especulações em torno da explosão do Titan

O que se sabe até agora? Segundo os especialistas, sabe-se que o submersível Titan sofreu uma implosão catastrófica que provavelmente matou o piloto e quatro passageiros instantaneamente, em meio à intensa pressão da água no profundo Atlântico Norte.

Aquela foi a terceira e última vez que o submersível navegou. As investigações, a cargo do Almirante John Mauger, do Primeiro Distrito da Guarda Costeira dos EUA, estão em andamento desde então. Porém, até o momento, não há uma versão oficial. Fizemos uma curadoria na rede para saber as descobertas até o momento.

Um dos maiores especialistas no tema é o diretor de cinema James Cameron. Segundo o jornal Guardian, ‘Cameron – que fez 33 mergulhos nos destroços do Titanic e afirma ter passado “mais tempo no navio do que o capitão naquela época” – disse que sabia que o submersível estava perdido desde o início da busca de quatro dias. Ele também disse que suas fontes relataram informações semelhantes sobre o destino do Titan.’

Atualmente Cameron também é coproprietário da Triton Submarines, sediada na Flórida, que fabrica submersíveis para pesquisa e turismo. De acordo com o Guardian, o cineasta explorador não acreditava no sucesso do material escolhido para a fabricação.

O casco foi feito com fibra de carbono e titânio. Para Cameron, “Foi uma ideia horrível. Eu gostaria de ter falado, mas presumi que alguém era mais inteligente do que eu, sabe, porque nunca experimentei essa tecnologia, mas parecia ruim de cara”.

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Casco de fibra de carbono e titânio

Apesar da causa ainda ser indeterminada, Cameron disse presumir que os críticos estavam corretos ao alertar que um casco de fibra de carbono e titânio permitiria delaminação e entrada microscópica de água, levando a uma falha progressiva ao longo do tempo.

Ao mesmo tempo, desde o início das buscas especialistas do setor criticaram a OceanGate por optar por não buscar a certificação e operar como uma embarcação experimental. A primeira vez que escrevemos sobre o Titan foi em 2021. Na época, reproduzimos uma declaração de Stockton Rush, fundador da OceanGate Expeditions, e criador do submarino. 

Ele falava do material escolhido: “Essencialmente, a diferença é a fibra de carbono e a  pressão que o material suporta. A fibra de carbono é usada com sucesso em iates e na aviação, mas não foi usada em submersíveis tripulados.”

Contudo, agora Stockton Rush está morto, junto com os quatro tripulantes. Ele estava convencido da segurança de sua nave, mesmo com todos os alertas que recebeu. Por exemplo, em junho o New York Times publicou uma carta escrita em 2018 por líderes da indústria, alertando Rush sobre possíveis problemas “catastróficos” com o desenvolvimento do Titan.’

Paralelos tristes: avisos ignorados

O Guardian diz que depois do acidente ‘Cameron traçou paralelos entre a perda do Titanic e do Titan, alegando que ambas as tragédias aconteceram por avisos ignorados. No caso do Titanic, o capitão atravessou o Atlântico em uma noite sem lua, apesar de ter sido informado sobre os icebergs.

“Aqui estamos nós de novo”, disse Cameron. “E no mesmo lugar. Agora há um naufrágio ao lado do outro pelo mesmo maldito motivo”.

Para alguns especialistas houve outro sério problema com o Titan…

O desenho do casco pode ser um dos motivos da implosão

De acordo com matéria do New York Times, 14 de julho, 2023, ‘Ao contrário da maioria dos outros submersíveis, o casco do Titan tinha o formato de uma pílula, que acomodava mais passageiros. Uma esfera é o padrão da indústria por sua melhor adequação para pressões do fundo do mar.’

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Além do formato, os materiais diferentes implicam em juntas, outro ponto crítico do projeto segundo o New York Times.

O jornal lembrou ainda que ‘Até o desastre do Titan, em 18 de junho, ninguém havia morrido enquanto pilotava ou navegava em um submersível na escuridão sem fim das profundezas. Este notável recorde de segurança durou quase um século, apesar dos exploradores terem feito muitos milhares de mergulhos.’

O jornal informa que a investigação oficial pode demorar 18 meses, entretanto, ‘engenheiros entrevistados pelo New York Times apontam possíveis pontos fracos no design do submarino.’

Um seria a forma, o outro, o material do cilindro: ‘o cilindro central do casco usava fibra de carbono, não o titânio mais caro usado em outros submersíveis que traziam os passageiros do abismo com segurança.’

Além disso, ‘o cilindro de fibra de carbono do Titan foi preso a hemisférios de titânio. Isso obrigou ao uso de várias juntas de materiais diferentes que são difíceis de unir adequadamente.’

O jornal destaca ainda que, tanto os materiais, como o formato do casco, visavam economia. ‘A embarcação leve era relativamente fácil de transportar. Não exigia uma nave-mãe dedicada, mas, em vez disso, podia ser rebocada em um dispositivo de flutuação atrás de um navio alugado.’

A pressão no fundo do mar e o formato do Titan

‘Os submersíveis devem resistir às pressões esmagadoras do oceano profundo, que se espremem com igual força de todos os lados. Na profundidade do Titanic  cada centímetro quadrado de um submersível experimenta três toneladas de força.’

‘Um casco esférico distribui o estresse uniformemente, tornando-o a melhor forma para resistir às forças compressivas do abismo. Qualquer outra forma, dizem os especialistas, tenderá a se deformar de forma desigual.’

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New York Times ouviu o metalúrgico forense Tim Foecke. “A mudança na geometria do casco, de uma esfera apertada para um tubo longo, pode ter contribuído para a falha catastrófica. Um casco maior precisa ser mais forte e mais grosso para suportar a mesma pressão de um menor. Em dois cascos da mesma espessura, disse ele, o maior colapsaria ou se curvaria primeiro.’

Contudo, o especialista também condena o uso do material: “Fiquei muito surpreso” com a construção de fibra do Titan, disse Foecke, ‘porque a compressão foi a principal força que o submersível encontrou durante sua longa descida.’

A vedação das partes diferentes do casco

Este é outro dos problemas mencionados pelos peritos que o New York Times ouviu: ‘Os engenheiros entrevistados também expressaram preocupações de design sobre áreas do Titan onde materiais diferentes foram unidos. Como diferentes materiais mudam de forma em taxas diferentes quando estão sob pressão, pode ser um desafio conseguir e manter uma vedação nessas áreas.’

A pressão e as juntas do submersível Titan, outro ponto crítico segundo o NYT.

Sob pressões do fundo do mar, diz o jornal, a fibra de carbono comprimiria em diâmetro mais rapidamente do que o titânio, colocando tensão na junta de cola. (A animação é uma ilustração de como a deformação pode funcionar.)

A umidade ou o sal marinho podem ter degradado a fibra de carbono do casco e a cola que o une ao titânio, criando outro potencial ponto fraco, disse Kedar Kirane, engenheiro mecânico especializado em danos, fraturas e fadiga em compósitos reforçados com fibras. O Sr. Foecke também disse que o acrílico da vigia pode ter falhado onde encontrou o titânio ou que o aperto desigual dos parafusos da escotilha pode ter causado tensões desiguais ao longo da vigia, causando uma fratura. Por último, a fadiga de vários materiais também teria que ser considerada e continuamente monitorada.

A matéria do New York Times é a mais completa que encontramos. Ela abordou todos os detalhes que justificam a explosão catastrófica. Agora, resta aguardar a versão oficial.

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