A última frota à vela em operação no mundo
Desde o início, barcos à vela dominaram os mares, até a Revolução Industrial aposentá-los. Sabe-se quando foram ultrapassados pela tecnologia, contudo o início é incerto. Se o último modelo é conhecido, qual a última frota à vela?
Os clippers, último modelo de navio à vela
Os derradeiros, foram os clippers. Os primeiros apareceram logo depois da Guerra de Independência dos Estados Unidos (1775–1783). Clippers de Baltimore, ou escunas da Baía de Chesapeake. Seu auge foi em 1843, resultado da demanda por entrega mais rápida de chá da China. Eram os mais rápidos de seu tempo. E foram igualmente usados na descoberta de ouro na Califórnia e Austrália em 1848 e 1851.
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A última frota à vela, bacalhoeiros (lugres) portugueses
No início do século XIX portugueses usavam o modelo para pescar bacalhau nos mares boreais. A frota contava mais de 300 lugres. Nos anos 50, porém, restavam 32. Apesar disso, alguns como o Argus fizeram campanhas anuais até 1970.
Portugueses e a história da pesca de bacalhau
Acima de tudo, a história da pesca do bacalhau pelos portugueses é pela referenciada já em 1353. À época, D. Pedro I e Edward II, da Inglaterra, estabelecem acordo para pescarem no litoral da Inglaterra por 50 anos.
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Estado Novo
Segundo o ncultura.pt, ‘o Estado Novo também foi período áureo no que respeita ao consumo. Uma vez que a carne era cara e o peixe fresco chegava com dificuldade ao interior, bacalhau torna-se o “fiel amigo” sobretudo dos mais desfavorecidos’.
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‘Contudo, o Regime do Estado Novo não queria depender de importações. Por isso, lançou a Campanha do Bacalhau para estimular a capacidade de produção, tornando desnecessária a importação’.
‘Num contexto ditatorial, o Regime controlava o processo. Fixava preços, assegurava mão de obra barata e disciplinada. Geralmente, conseguida com recrutamentos coercivos nas Casas de Pescadores. Mas investia parcamente em navios e armadores. E limitava importações’.
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Conheça os Lugres
Em geral comprimento de 60 metros, largura em torno dos 9 m, e quatro mastros. Além disso, capacidade de carregar entre 900 e 950 toneladas de bacalhau salgado. A maioria com cascos de aço, poucos de madeira. A frota dos anos 50 incluía barcos híbridos. Tinham motor auxiliar além de velas. Cada um podia levar cerca de 60 pescadores.
Temporadas de pesca do bacalhau
Por último, temporadas duravam seis meses. Os barcos saíam em comboio de Portugal e ilhas adjacentes, como Açores, em abril; navegavam mais de 1.500 milhas até São João da Terra Nova, capital do Labrador. E começavam a pescar.
Dependendo, ficavam bom tempo Ou então, subiam ainda mais no estreito de Davis, Groenlândia. “Com sorte voltariam em Agosto.” A saga, imortalizada pelo escritor Alan Villiers que, nos anos 50, se engaja no Argus e registra a difícil e perigosa pescaria.
A perigosa pesca do bacalhau
Atividade extremamente dura, em mares tempestuosos onde neblina era uma constante. Lugres não contavam com radares. Além de bússola, apenas rádio de comunicação. Comandantes procuravam bancos de bacalhau e fundeavam. No meio do nada.
Em seguida, os barcos de madeira com fundo chato, e largos para guardar pescado, eram lançados ao mar. Um pescador por barco. Movidos a remo, tinham igualmente pequena vela auxiliar. Afastavam-se do navio até perderem-no de vista. Então soltavam linhas, às vezes com 600 anzóis.
Pescavam por 12 horas ininterruptas. Não levavam colete salva-vidas, nem mesmo comida. “Apenas, os mais ricos tinham garrafa térmica com café.”
Trabalho duro, 15 horas por dia. Os dóris lançados n’água cedo, 4 horas da manhã. Pescavam até encher os barcos que mal flutuavam. Na volta processavam, salgavam e guardavam o pescado nos porões. Isso quando não eram pegos por tempestades como acontece frequentemente em altas latitudes.
Com tempestades voltavam apressados. Primeiro, desembarcavam o peixe. Depois, os barquinhos içados para o convés com guincho à força de músculos. Villiers, “o lugre oscilava tanto, os mastros abanando como pêndulos contra o céu, que temi serem esmagados pelo casco do navio”.
Muitos se perdiam, outros achados sem pescador. Villiers “em campanhas anteriores chegaram a encontrar dóris com ocupantes mortos”.
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A pesca de bacalhau com arrastões
Alain Villiers situa em 1920 a chegada aos bancos de arrastões franceses. Na década de 50 “havia mais de cem em atividade, 44 franceses, 40 espanhóis e 26 portugueses”.
Lusos inconsoláveis. “Com a quantidade de arrastões passando pente fino, em breve deixaria de haver bacalhau. Porque o fundo do mar era depauperado. Em consequência, os hábitos do peixe destruídos.” Este, o destino da última frota à vela.
Neste vídeo você poderá ver como era a pesca do bacalhau:
A campanha do Argus – uma viagem na pesca de bacalhau, Alan Villiers, ed.Cavalo de Ferro. Faina Maior – A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova, Francisco Marques e Ana Maria Lopes, Quetzal Ediores, Lisboa.
Imagem de abertura: https://ncultura.pt/.