Puerto Parque Nacional Torres del Paine
Na próxima etapa vamos levar uns dez dias para chegar em terra outra vez. Vamos navegar para Ushuaia. São 400 milhas de distância. Mas não temos pressa. Vai demorar para que eu volte para estas bandas, por isto, no caminho quero entrar em todos os ‘buracos’ que puder.
Isto quer dizer que durante este período só poderei mandar textos para o site. E não resisto em colocar agora as fotos do belíssimo Parque Nacional Torrres del Paine, que visitamos ontem.
O parque tem 240 mil hectares, fica na patagônia chilena, aos pés dos Andes. E tem algumas das paisagens mais fantásticas que já vi.
Desde 1978 foi declarado pela ONU como Reserva Mundial da Biosfera, exatamente por sua fisionomia incomum.
A área montanhosa é cercada por lagos, rios, geleiras, estepes, e até pequenos bosques com árvores de porte.
Por sua grande extensão, o parque foi dividido em seis regiões, todas com seu respectivo plano de manejo.
A cordilheira do Paine, apesar de ser parte dos Andes, é considerada pelos geólogos como um “cordão montanhoso independente, com características geomorfológicas próprias”. Sua origem remonta a 12 mil anos atrás. Com o tempo, a erosão eólica foi talhando as rochas de granito, formando estruturas verticais impressionantes, algumas com mais de três mil metros de altura.
A última glaciação também contribuiu para dar a estas pedras gigantescas um formato singular. A imensa cobertura de gelo, sempre em movimento, imprimiu cortes dramáticos em suas encostas e picos.
E os chilenos souberam aproveitar a situação: o parque, ao contrário de alguns do Brasil, tem ótima infraestrutura. Ele é cercado por estradas de terra, de onde se pode ver paisagens superlativas. Não tenho dúvidas que esta é a estrada mais espetacular que já utilizei. Com subidas e descidas vertiginosas, curvas fechadas, pequenas serras, lembra às vezes uma montanha russa. No entanto, ao contrário desta, o susto e a emoção não são produto da velocidade em trechos tortuosos. Mas das diferentes paisagens que surgem a cada novo ângulo. É arrebatador.
No perímetro do parque, onde há hotéis e pousadas, é possível praticar uma série de atividades, como caminhadas em trilhas, rafting, pesca esportiva, passeios de barco, etc.
Isto permitiu que ele se tornasse uma permanente atração, gerando recursos, via a compra do ingresso de entrada, ou a participacão em outras atividades, que acabam, no mínimo, contribuindo para o custo de manutenção. Em países com carência de recursos, como os do Cone Sul, isto é positivo.
A questão da necessidade, e do modelo a ser adotado em áreas protegidas, é sempre motivo de polêmica. Há defensores, e detratores, para todos os tipos.
Não quero entrar neste assunto agora. Terei tempo ao longo da viagem. Pretendo, especialmente, deixar meu testemunho a respeito das áreas marinhas protegidas, questão que tenho estudado nos últimos anos. Hoje o tema era o Paine.
Para encerrar, acrescento dados comparativos entre os países do Cone Sul e suas áreas (terrestres) protegidas. A fonte é a ONU (United Nations Statistics Division, Departament of Economic and Social Affairs, Millennium Development Goals Indicators- 2006), e mostra que o Chile tem 20,7% de seu território protegido por algum tipo de unidade de conservação. O Brasil, 18,6%. Depois vem a Argentina, com 6,21%. Na lanterninha, o Uruguai, com apenas 0,3%.
Como sempre, no caso das áreas marinhas a situação é bem pior. Artigo do jornalista Gustavo Faleiros, que cobriu o II Congresso Latino Americano de Parques Nacionais e Outras Áreas Protegidas, em 2007, em Bariloche, diz que “apenas 0,5% das áreas marinhas da América Latina estão protegidas, enquanto 12% das terrestres receberam este tratamento”. O problema não é a quantidade de áreas protegidas, marinhas ou terrestres, mas a infraestrutura de que dispõem.
Enquanto na Europa e Estados Unidos, há um funcionário para cada 6 mil hectares de áreas protegidas, diz o artigo, na América Latina há um funcionário para cada 107 mil hectares!
E finaliza: isto acontece num continente que ocupa menos de 15% do planeta, mas abriga 50% dos anfíbios, 41% das aves, 33% das plantas, mais de um quinto das reservas de água doce, etc.
Seja como for, a falta de recursos, fiscalização ou infraestrutura, não parece ser o caso do Torres del Paine.