Nossa chegada, dia 10/11, foi punk total. Quanto mais perto, maiores as ondas. Nas rajadas, o sudoeste chegava aos 40 nós. E ali onde estávamos, na Ponta Norte, havia uma forte corrente marítima, contrária à direção do vento. O resultado das duas forças, em rota de colizão, são ondas grandes. O Mar Sem Fim caturrava enquanto tentávamos atingir o golfo San Jose. As ondas batiam na proa com violência, numa explosão que lançava jatos dágua para todos os lados. Ainda teríamos algumas horas para chegar, e não tínhamos certeza se acharíamos um local abrigado para fundear. Diante do quadro, decidimos dar meia volta, e abrigar o barco atrás duma ponta de terra. Passamos a noite sem chacoalhar.
Na manhã do dia seguinte rumamos para o golfo Nuevo, para Puerto Pirámide, local onde há grande concentração de baleias francas austrais. De setembro até dezembro estes animais migram da Antártica para a Península Valdes, a procura de águas calmas onde possam procriar e amamentar seus filhotes.
Mas não conseguimos ficar muito tempo. Logo recebemos avisos, via rádio VHF, de que ali não poderíamos ficar. As seis empresas que disputam os turistas em passeios para a avistagem, não querem barcos estranhos na área. Pedrão, então, rumou para Puerto Madryn, maior cidade da região, porta de entrada da península, onde fundeamos ao lado do molhe.
A área da península Valdes é muito grande. E, em cada uma de suas extremidades, há uma colônia diferente de mamíferos marinhos. Na Ponta Norte se estabeleceram os lobos marinhos. Este lado é frequentado também pelas orcas, que desenvolveram um modo único de caçar os lobos, nadando rente a praia, quase que saindo dágua para abocanhá-los.
No outro extremo, a Ponta Delgada, é dominada por elefantes marinhos que ocupam praticamente toda a praia. No istmo Ameghino, estreita faixa de terra que liga a península ao continente, há mais uma reserva natural, criada em 1967, desta vez dedicada à proteção de pássaros, nativos e migratórios, que escolheram a ilha dos Pássaros, para nidificar. São dezenas de tipos, entre os quais os cormorões, gaivotas, skuas, a pomba antártica, etc.
Muito próximo da península, ao sul, ainda fica a Punta Tombo, outra reserva natural que abriga a maior colônia de pinguins de Magalhães que se tem notícia, com cerca de 500 mil aves.
Para podermos conhecer, e gravar imagens, resolvi alugar um carro, já que os movimentos do barco são muito prejudicados pelo fato das áreas serem reservas.
Com isto acabamos conhecendo um pouco do interiror, formado basicamente por estepes, que se estendem desde os Andes até a zona costeira.
As estepes da Patagônia são imensas áreas com vegetação de gramínias, e pequenos arbustos, típicas de cilmas temperados e secos. Normalmente são áreas de transição, e ficam próximas a desertos.
Aqui não é diferente. Andar de carro por estas estradas de terra é desagradável. A poeira, fina como pó-de-arroz, entra pelas menores frestas deixando tudo impregnado. Ainda assim é possível ver alguns animais que habitam esta faixa, como os guanacos, tatus, raposas, e lebres, muitas lebres. Elas foram introduzidas pelos colonizadores galeses, desde que chegaram, no século XIX. Como não tem predadores naturais, as lebres se multiplicaram de forma impressionante, e hoje são uma ameaça ao meio ambiente.
Mas os problemas não se restringem às lebres. Os colonizadores também passaram a criar ovelhas soltas nas estepes. A moda pegou, e até hoje esta é uma das atividades econômicas desenvolvidas na região. Só que existem milhões de ovelhas que não fazem outra coisa, senão comer, e pisotear, a rala vegetação.
A gota dágua, da questão ambiental, na região norte da patagônia, é a concentração humana nas grandes cidades, quase todas no litoral.
Já há sinais evidentes de desertificação, em razão do clima severo, e dos erros de ocupação. Andei entrevistando alguns ambientalistas que se preocupam com a situação. Mais adiante vamos comentar o que eles nos contaram a respeito das áreas de conservação na Argentina, e a solução do turismo de observação, que traz renda, gera empregos e, aparentemente, não degrada o meio ambiente.
Felizmente nos últimos dias uma onda de “calor” invadiu a península. A temperatuda anda bem mais amena. Estamos conseguindo sair do casulo sem, necessariamente, vestir três camadas de roupas.
Agora tenho que dar uma parada. Pego um avião para São Paulo, onde, dia 16 de novembro, estou lançando meu terceiro livro, fruto ainda da viagem pela costa brasilera: Embarcações Típicas da Costa Brasileira, publicado pela editora Terceiro Nome.
O lançamento será dia 16/11, no restaurante Porto Rubayat, das 19hs às 23hs.
Vocês são meus convidados.