A geopolítica dos oceanos, o sexto continente.*
O exame atento do mapa-mundi confirma a importância do espaço marítimo que corresponde a 71% da superfície do planeta. O Pacífico ocupa 50 % desta área, o Atlântico 23% , e o Índico 20% .
Dos cerca de 180 países que são membros da ONU pouco mais de trinta não têm saída para o mar, mas lutam por isto.
É o caso da Bolívia que, na guerra com o Chile, em 1883, perdeu seu porto de Antofagasta e até hoje o reivindica naquele fórum. Ou o Iraque, cujo objetivo estratégico nas guerras com o Irã e Koweit era o acesso ao Golfo Pérsico.
Ambos sabem que suas economias dependem fortemente dos oceanos, seja por que TRES QUARTOS DO COMÉRCIO MUNDIAL DEPENDEM DO TRANSPORTE MARÍTIMO, seja para garantir o acesso a seus recursos que não são poucos.
Trinta por cento de todo o petróleo consumido no mundo vem da exploração marítima, e vinte por cento do gás. Mas há mais. Além da pesca há reservas de ouro, diamante, níquel e cobalto, entre outros minerais.
Apesar de toda a riqueza oceânica é na costa que o problema é mais sensível. O local de encontro da terra com o mar é uma zona extremamente vulnerável, produtiva e em constante evolução. Ela é responsável por metade da produção biológica global e fornece 90% dos recursos marinhos exploráveis.
* (dados extraídos do livro Le Sixième Continent- Géopolitique des Océans, de Pierre Papon. Editions Odile Jacob)
Projeto MAR SEM FIM
Objetivo
Percorrer a costa brasileira a bordo de um veleiro, produzindo programas para TV (cerca de 90 episódios), boletins para o Rádio, e reportagens para o Site.
Período
Vinte e quatro meses. A série foi veiculada pela TV Cultura entre Abril de 2005, até Abril de 2007. Na TVE- RJ, começou em Maio de 2006, e terminou em Abril de 2008.
Justificativa
Pela primeira vez nosso litoral está sendo visto na perspectiva do mar para a terra e não o contrário.
Esta aproximação permite que o espectador tome contato com uma realidade nem sempre enfocada na TV já que nossas ilhas quase nunca são filmadas e, além disto, praias, enseadas e baías são normalmente vistas pela ótica de quem está no continente em tomadas onde esparsas áreas verdes convivem com prédios, avenidas e imensos complexos turísticos.
De barco é possível chegar aos pontos mais remotos do litoral, justamente aqueles cujo acesso por terra é inviável e que são os mais preservados em suas características originais de geografia, flora e fauna.
Como seria a orla brasileira no tempo das descobertas?
A série realça o aspecto histórico comparando, sempre que possível, o relato e a descrição dos primeiros navegadores e viajantes.
A carta de Pero Vaz de Caminha descrevendo o litoral sul da Bahia, o relato do francês Jean de Léry explorando a baía da Guanabara, o Litoral Norte paulista minuciosamente descrito por Hans Staden, ou trechos da correspondência de José de Anchieta são apenas uma parte pequena dos relatos do século XVI relembrados. Há diversos outros, além narrativas de viagens dos séculos XVII, XVIII e XIX que também foram usadas.
Em termos culturais o que restou de mais original no litoral?
O programa dedica um espaço considerável para o registro da diversidade cultural da orla.
No caso náutico esta tradição se manifesta na técnica da construção de embarcações ainda em atuação, como canoas, montarias, cúteres, saveiros, jangadas, verdadeiros ícones em risco de extinção.
Em terra destacamos eventos e festas folclóricas, como o Fandango, a Marujada ou o Carimbó que ainda acontecem nas regiões mais remotas.
Merece espaço a arquitetura das fortalezas construídas com a chegada dos portugueses, a dos engenhos de açúcar ou igrejas próximas ao mar, e a dos faróis, alguns datando do período do Segundo Império.
Acidentes Geográficos
As ilhas mais importantes foram visitadas : Abrolhos no Sul da Bahia, Fernando de Noronha na costa de Pernambuco, Marajó, na foz do Amazonas, Santa Catarina, Arvoredos e ilha dos Lobos, na região sul, além de todas do litoral paulista.
Mas não é só : estuários, falésias, dunas e baías também são explorados.
Ecossistemas
Manguezais, restingas, lagoas litorâneas, a floresta atlântica, a mata amazônica ou os atóis são alguns que visitamos.
O aspecto da tecnologia aplicada
Este é mais um tema abordado e pouco conhecido do grande público.
A pesca, para citar um exemplo comum, experimentou um formidável desenvolvimento a partir do século XX graças ao progresso técnico que permitiu a invenção dos sonares que descobrem cardumes no fundo do mar. Ou o domínio da técnica de construção de pesqueiros cada vez mais eficazes até chegar aos navios-fábrica de hoje.
Na questão da orientação passamos do sextante ao revolucionário sistema GPS.
Na exploração submarina temos hoje os robôs que descem a profundidades nunca antes atingidas.
O primeiro cabo de fibra ótica foi instalado no Atlântico em 1988. Até 1999, 265 mil km haviam sido instalados. São eles que permitem a transferência de informações de um site para outro, respondendo ao fenômeno de nosso tempo quando as tecnologias de informação conhecem um desenvolvimento sem precedentes.
Legislação internacional
A Convenção da ONU sobre os Direitos do Mar foi assinada em 1982, em Montego Bay, Jamaica, e entrou em vigor em 1994. Seus objetivos são ousados : estabelecer normas para as zonas oceânicas internacionais, limites territoriais marítimos, direitos de navegação, jurisdição econômica, direitos de exploração de recursos, gerenciamento e proteção do ambiente marinho.
Legislação nacional
“A zona costeira é patrimônio nacional. Sua utilização deve se dar de modo sustentável”. Parágrafo quarto, artigo 225, Constituição Federal do Brasil.
Concepção do programa de TV
Apresentação, direção geral e conteúdo: Joao Lara Mesquita.
Produção e entrevistas: Paulina Chamorro.
Edição e finalização: Rui Viotti Filho.
Imagens: Paulo Cezar Cardozo.
Auxiliares de produção: Regina Dalva Faria e Adriana Cerdeira.
Duração: 24 minutos.
Periodicidade: Episódios semanais.
Boletins para as Rádios Cultura AM e FM: Paulina Chamorro.