Varíola dos macacos, em pouco tempo o segundo e sinistro alerta da natureza
Os sintomas da Covid-19 apareceram no início de dezembro de 2019. Em 30 daquele mês, o médico Li Wenliang alertou colegas, “estou em quarentena no departamento de emergência.” Logo depois, 20 de janeiro, a China declarou emergência. A história parece espionagem. A nossa, ao contrário, é sobre coronavírus, desmatamento, invasão de cidades em áreas naturais e, agora, a varíola do macaco, o segundo e sinistro alerta da natureza.
O alerta da ONU
“As doenças transmitidas de animais para humanos estão em ascensão, à medida que o mundo continua a ver uma destruição sem precedentes de habitats selvagens pela atividade humana.”
Ao mesmo tempo, os infectologistas cansaram-se de alertar que o coronavírus era apenas o primeiro de uma série. Antes de respirarmos aliviados pelo seu declínio, a varíola do macaco bateu na porta. É o ‘novo normal’ com que teremos que conviver.
Varíola dos macacos e a Organização Mundial da Saúde
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), como a varíola (comum), a nova faz parte do grupo Orthopoxvirus. Apesar do nome, os primatas não são reservatórios deste vírus. Embora desconhecido, os principais candidatos são pequenos roedores (por exemplo, esquilos) nas florestas tropicais da África, principalmente, África Ocidental e Central.
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A doença em humanos ocorre na África, esporadicamente, e em epidemias ocasionais. A maioria dos casos ocorreu na República Democrática do Congo. Desde 2016, há confirmação em Serra Leoa, Libéria, República Centro-Africana, República do Congo e Nigéria, campeã do surto recente.
Descontinuação da vacinação contra a varíola
E concluiu: Acredita-se em um aumento recente de 20 vezes na incidência, à primeira vista, pela descontinuação da vacinação contra a varíola em 1980. Porém, pessoas que receberam a vacina contra a varíola, mesmo há mais de 25 anos, têm risco menor de varíola do macaco.
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Contudo, não duvide da causa: ‘a destruição sem precedentes de habitats selvagens pela atividade humana’.
Nos EUA, diz OMS, em 2003, ocorreu uma epidemia de varíola do macaco quando roedores infectados, importados da África como animais de estimação, disseminaram o vírus para cães. Estes, então, infectaram pessoas no Meio Oeste. Essa epidemia teve 35 casos confirmados, 13 prováveis e 22 suspeitos em seis estados, mas não houve mortes.
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Desde o início das últimas epidemias, diz a Nature, pesquisadores sequenciaram genomas virais retirados de pessoas com varíola em países como Bélgica, França, Alemanha, Portugal e Estados Unidos. A percepção mais importante que obtiveram até agora é que cada uma das sequências se assemelha à de uma cepa de varíola dos macacos encontrada na África Ocidental.
A cepa é menos letal – tem uma taxa de mortalidade inferior a 1% em populações rurais pobres – do que outra que foi detectada na África Central e tem uma taxa de até 10%.
Os sintomas da nova zoonose
No início, a doença começa com febre, fadiga, dor de cabeça, dores musculares, ou seja, sintomas semelhantes a um resfriado ou gripe.
Clinicamente, diz a OMS, a varíola dos macacos é semelhante à varíola comum; entretanto, as lesões cutâneas ocorrem com mais frequência em surtos e a linfadenopatia ocorre neste tipo de varíola, mas não na varíola comum. Infecção bacteriana secundária da pele e dos pulmões pode ocorrer.
Diagnóstico
Ainda de acordo com a OMS: A diferenciação clínica entre varíola do macaco e varíola e varicela, ou catapora (um herpesvírus, não um vírus pox) pode ser difícil. O diagnóstico da varíola do macaco é por cultura, PCR (polymerase chainreaction), exame imuno-histoquímico ou microscopia eletrônica, dependendo de quais testes estão disponíveis.
Os casos no mundo
Desde 13 de maio de 2022, diz a OMS, casos de varíola dos macacos foram relatados em 12 Estados Membros que não são endêmicos para o vírus, e em três regiões da OMS.
As investigações epidemiológicas estão em andamento, no entanto, os casos até agora não têm ligações de viagem estabelecidas para áreas endêmicas.
Com base nas informações disponíveis, foram identificados principalmente, mas não exclusivamente, entre homens que fazem sexo com homens (HSH) e procuram atendimento na atenção primária e nas clínicas de saúde sexual.
Felizmente, a novíssima zoonose parece não ser mortal, tanto quanto a covid-19.
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Atualização em 30 de maio, 10hs30
Quando escrevemos o post não havia casos no Brasil, mas, segundo o Estadão, ‘O Ministério da Saúde afirmou nesta segunda-feira, 30, que as autoridades investigam dois casos suspeitos de varíola dos macacos no Brasil. Um em Santa Catarina o outro no Ceará. Até o momento, não há casos confirmados no País. “O Ministério da Saúde está em contato com Estados para apoiar no monitoramento e ações de vigilância em saúde”, disse em nota’.
O ‘movimento’ ambientalista
Enquanto os novos vírus nos atacam por nossa culpa, o ‘movimento ambientalista’ segue rachado. De um lado, alguns militam, disfarçadamente, no espectro ideológico da esquerda. Mais interessados em ideologia, do que meio ambiente, são parciais em sua visão; outros, só têm atenção à Mata Atlântica; outros ainda, só pensam e defendem seus salários e patrocínios; e, parte considerável, apenas se incomoda com a Amazônia.
Finalmente, outros ainda fizeram como diz a música, ‘entraram de gaiatos no navio’. Antes de encerrar, poucos deles dão qualquer atenção aos oceanos e zona costeira que consideram ‘menor’, ou ignoram os serviços ecossistêmicos que produzem. E, assim, seguimos divididos, logo, com força reduzida para passar um sinal claro à opinião pública, uma pena em tempos sombrios como o que vivemos.
Entretanto, sigo na luta para termos, quem sabe, um movimento ambientalista sem aspas.
E até a próxima pandemia.
Imagem de abertura: Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido/Biblioteca de Fotos Científicas.