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Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato

RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato

RPPN significa Reserva Particular do Patrimônio Natural. O SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, criado por força de lei em 2000, estabelece 12 tipos de Unidades de Conservação no âmbito Federal, Estadual ou Municipal. Onze delas são geridas pelo poder público. Uma pela iniciativa privada, as RPPNs. Hoje comentamos nossa visita à RPPN Salto Morato.

Imagem de cachoeira na RPPN Salto Morato
RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato

As RPPNs foram criadas em 1990

As RPPNs foram criadas em 1990 “por meio de áreas protegidas através da iniciativa dos proprietários particulares.” Hoje são consideradas uma Unidade de Conservação de uso sustentável.

Por lei devem ser manejadas como se fossem unidades de conservação de proteção integral, com o objetivo principal de conservação da biodiversidade.

De acordo com o site do ICMBio, as RPPNs já ultrapassam mil reservas distribuídas Brasil afora: “sendo criadas não só pelo Governo Federal, mas também por estados e municípios que possuem legislação específica sobre RPPN.”

Qualquer um, pessoa física ou jurídica, pode criar uma RPPN. Em geral são amostras de áreas com bom grau de preservação. É permitida a atividade econômica relacionada ao turismo, desde que previsto na legislação e no seu plano de manejo.

RPPNs somam quase 480 mil hectares

O site do ICMBio informa que “juntas as RPPNs somam quase 480 mil hectares”, número considerado ainda tímido, mas com potencial de subir, já que a meta do governo é ampliar estas reservas.

RPPN Salto Morato

Localizada em Guaraqueçaba, Norte do Paraná, a área foi adquirida pela Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza, com apoio financeiro da The Nature Conservancy, e logo reconhecida com RPPN federal.

Aberta ao público em 1996, três anos depois foi reconhecida pela Unesco comoPatrimônio Natural da Humanidade. A área total é de 2.253 hectares de Mata Atlântica e sua biodiversidade tem como uma de suas características a grande concentração de aves.

Até hoje foram reconhecidas 325 espécies de aves, 36 de répteis, 60 espécies de anfíbios, 57 espécies de peixes e 646 espécies vegetais vasculares.

“A Reserva Natural Salto Morato dá apoio a pesquisas científicas, disponibilizando estruturas físicas e de pessoal, até o custeio de despesas com transporte, alimentação ou equipamentos de campo, dependendo do objetivo proposto por cada projeto.”

A Reserva de Salto Morato conta com Plano de Manejo (faça download)

Assista ao vídeo demonstrativo da RPPN Salto Morato.

Caderno de Anotações

RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato: Copa gigante da figueira da trilha de mesmo nome.

Por que visitar uma UC mantida pela iniciativa privada?

Há muito eu queria conhecer uma RPPN, já que até hoje só visitei UCs geridas pelo poder público. A RPPN Salto Morato foi escolhida por vários motivos.

Entre eles, ser uma referência neste tipo de UC. E também porque está englobada dentro da área (Mosaico) da APA de Guaraqueçaba, visitada recentemente para a gravação de programas da série da Cultura.

Um programa sobre as RPPNs

Era preciso fazer ao menos um programa sobre as RPPNs para que pudéssemos mostrá-las ao público, na esperança de que estimule e gere cópias, e compará-las com as áreas públicas protegidas.

Não vou me estender descrevendo a região onde a RPPN está inserida, entre Guaraqueçaba e Antonina, porque esgotei este assunto no texto sobre a APA e ESEC de Guaraqueçaba.

RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato: riacho da trilha da figueira.

Nossa hospedagem na RPPN Salto Morato 

Fiquei hospedado um par de dias na reserva, tempo suficiente para conhecê-la bem. Fomos recebidos pela equipe que nos mostrou cada detalhe da espetacular região.

Poucas vezes vi uma porção de Mata Atlântica tão bonita e bem cuidada. Salto Morato conta com uma equipe dedicada, formada por dois técnicos, cinco colaboradores de campo, duas zeladoras, estagiários e voluntários.

A copa de uma samambaia-açu

Não há conflitos

Pela primeira vez nesta série não percebi conflitos como os que existem nas outras UCs. Pudera. A área é particular, não houve o tradicional “cano”, ou não pagamento de indenizações.

Ao decretar uma Unidade de Conservação em determinada área, o governo federal, ao mesmo tempo, desapropria a área mas, na maioria das vezes, deixa de pagar as indenizações aos antigos proprietários. Este é um dos principais problemas, mas não o único,  do belíssimo Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, que visitei ao iniciar as gravações lá se vão quase dois anos.

Pois é, esta nova série estava prevista para entrar no ar mais de um ano atrás mas, como trabalho para uma estatal, a TV Cultura, os atrasos, a burocracia e a lentidão são sempre as mesmas: é exasperante.

RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato: a água é sempre abundante e de ótima qualidade na Mata Atântica.

 Na RPPN Salto Morato há cinco profissionais de campo

Em Salto Morato não existe este problema, muito menos a invasão tão comum em outras UCs, caso da ESEC do TAIM, e Rebio do Arvoredo respectivamente, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em razão da eterna falta de pessoal das equipes.

Na RPPN Salto Morato há cinco profissionais de campo que vistoriam constantemente as trilhas e divisas da reserva, assegurando sua integridade. Escrevi no artigo anterior que tratou da APA e ESEC de Guaraqueçaba, cujas áreas somadas chegam quase a 300 mil hectares que, juntando suas duas equipes, eles têm apenas seis pessoas para cuidarem de área tão grande.

Isto equivale à metade dos doze funcionários encarregados de zelar pelos  2.253 mil hectares da RPPN Salto Morato. Dá pra sentir o drama da falta de investimentos do poder público?

Nem sempre o verde prevalece

Mais conflitos nas UCs geridas pelo poder público

Outros conflitos acontecem em razão das limitações  impostas pela criação de Unidades de Conservacão que, sem aviso prévio, caso da Rebio do Arvoredo, proíbem os antigos frequentadores (neste caso moradores de Florianópolis) de manter seus usos e costumes.

Os moradores de Floripa foram proibidos de frequentar, mergulhar, ou pescar em Arvoredos, uma UC que, como o próprio chefe nos contou, “foi criada de cima para baixo, sem consulta às populações do entorno”.

No meio do verde desponta a cor da flor da bromélia.

Para complicar, em razão do baixo investimento, as UCs não foram capazes de gerar renda, ou empregos que substituam as roças, plantações, agropecuária, ou a freqüência pública, antes comuns.

O resultado não poderia ser outro: reclamações e eternos conflitos.

A beleza das formas e cores da bromélia

A RPPN Salto Morato, por ser privada, não tem estes problemas. Ao contrário, ela tem acomodações acolhedoras para todos:  sejam pesquisadores, estagiários,  voluntários, e até para os visitantes.

RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato: nosso alojamento em Salto Morato
Todas as trilhas têm placas como esta ao longo do caminho.

RPPN Salto Morato: aberta ao público de terça a domingo

Aberta ao público de terça a domingo, ela tem um grande centro de recepção aos turistas, que recebem instruções detalhadas de seu funcionamento antes de começarem os passeios por trilhas demarcadas, limpas, com banheiros e muita informação ao longo do caminho.

Há flores de todas as cores e formas.

Eu e o cinegrafista de minha equipe ficamos num desses alojamentos que conta com diversos beliches, banheiros e cozinha.

Eles podem ser pequenos no tamanho (note o pequeno inseto azul antes da borboleta), mas jogam um grande papel na perpetuação das flores da Mata Atlântica

As trilhas da RPPN Salto Morato 

A cada manhã saíamos para uma das trilhas demarcadas. Elas não exigem grande preparo físico por parte dos visitantes. Uma trilha leve dá acesso ao famoso Salto Morato, com cerca de cem metros de altura, passando por um aquário natural onde é possível se refrescar em banhos numa água cristalina cercada de belíssima mata.

RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato: já pensou, no meio da mata encontrar uma piscina destas?

A outra trilha leva a mais um ponto notável da reserva: uma enorme figueira cujas raízes formaram um arco embaixo do qual corre um pequeno rio, cuja água escorre saltitando entre pedras, cenário típico dos rios de Mata Atlântica.

Enorme figueira cujo tronco se dividiu dando passagem ao riacho.

Transformando uma fazenda de búfalos em uma RPPN 

Quando foi comprado, o espaço onde hoje existe  a RPPN era formado por três fazendas dedicadas à criação de búfalos. Por isto mesmo havia trechos completamente desmatados que deram lugar a pastos.

Ao proteger a área, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza permitiu a regeneração natural da floresta de modo rápido devido ao banco de sementes próximo, e à presença de dispersores como aves, morcegos, insetos, etc.

Formas, cores e textura da mata de Salto Morato.

Floresta apresenta árvores mais altas e de troncos mais grossos

Em Salto Morato, quando nos aproximamos das encostas da Serra do Mar, a floresta apresenta árvores mais altas e de troncos mais grossos.

Durante todo o tempo ouve-se o canto de inúmeras aves e não raro, ao nos aproximarmos, “levantamos” algumas que se escondem no chão em meio a vários tipos de arbustos.

Enquanto andávamos era frequente ouvirmos, de repente, o barulhão típico de uma ave do tamanho de uma galinha alçando voo, assustada, e nos deixando de cabelo em pé.

Conforme avançamos floresta adentro os troncos ficam mais grossos e as árvores mais altas.

Redes para  morcegos

De tempos em tempos notávamos um tipo de cabo preso num galho alto que chega até ao chão, próximo da trilha. Ozeas Gonçalves, da RPPN, explicou que são partes de presilhas de redes para morcegos que, no momento, são estudados na reserva.

De noite o pesquisador estende a rede que fecha a trilha prendendo morcegos em suas malhas. Eles são estudados, em seguida, soltos.

Depois de fazermos as trilhas reservadas aos turistas pedi à equipe para sair um dia com os profissionais de campo, de modo que pudesse conversar e observar o trabalho que fazem.

Jamais suei tanto na vida

Pobres de nós. Eu e o cinegrafista sofremos um bocado para acompanhar  Lino e Valdir por um percurso em mata fechada. Jamais suei tanto na vida.

O cinegrafista João Nunes, fora de forma, acima do peso, e ainda carregando seu equipamento, mal podia nos acompanhar. Acabou com o famoso “um palmo de língua para fora” e pingando mais que se tivesse tomado um banho de chuveiro.

Mas o passeio valeu a pena. No caminho notamos várias caixas de metal, lacradas, com vidro na frente. Para que servem?, perguntei. “Para registrar os animais que andam de noite por estes mesmos locais”, explicou Valdir.

RPPN Salto Morato, Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato. Puma: foto Fundação Grupo Boticário
Onça pintada fotografada de noite: foto Fundação Grupo Boticário
Cateto: foto Fundação Grupo Boticário

Era um rastro, ainda fresco segundo nosso guia, de um puma

Por falar nisto, menos de cem metros depois do início Valdir parou, agachou-se e examinou uma pegada que só ele percebeu à distância. Aproximei-me para ver. Era um rastro , ainda fresco segundo nosso guia, de um puma! Continuamos.

Um morro, como um enorme obstáculo se interpunha em nosso caminho. Uma hora para atingir o cume. Em seguida um barranco a perder de vista, a descida abrupta mostrou-se obstáculo ainda pior.

Nossas pernas doíam pelo esforço. Mas, ao chegar na parte baixa, surpresa: novo rio, com uma linda cachoeira e uma piscina natural nos esperavam. Que lugar mágico!

Valdir tem fôlego de leão, sobe e desce os morros como se estivesse na São Silvestre, e sem transpirar uma gota sequer!

Comunidade de Morato

Durante os dias em que fiquei hospedado na reserva aproveitei o tempo livre para passear entre as casas da comunidade de Morato onde vivem cerca de 40 famílias.

Entrevistei vários moradores para saber sua opinião antes, e depois, da chegada da reserva. Em geral o que se ouve é satisfação.

A Reserva gera empregos entre o pessoal e não incomoda ou proíbe, já que é uma reserva particular aberta ao público. Os usos e costumes dos moradores do entorno não foram afetados. Ao contrário.

Muitos reclamaram que, antes da reserva, no tempo das fazendas de búfalos, tinham constantes atritos, já que os animais não respeitam cercas. Muitas vezes invadiam as roças, acabando com qualquer plantação em razão do pisoteio.

Bom lugar para terminar uma difícil trilha.

Feliz com a visita

Fiquei extremamente feliz com a visita. Combinei conhecer também a Reserva Natural Serra do Tombador que a Fundação mantém no bioma cerrado.

E descobri uma fórmula mais simples de substituir, ou contribuir com governo, na preservação ambiental. Mesmo que não houvesse desperdício dos dinheiros públicos, ou corrupção na mastodôntica proporção que hoje horroriza o Brasil, ainda assim faltariam recursos para o Estado aplicar na preservação ambiental.

Nossas carências históricas como educação, saúde, saneamento básico, ou infraestrutura para escoar as diversas safras, deixariam uma pequena parte do tesouro nacional para preservação. Só em indenização aos antigos proprietários de áreas transformadas em reservas públicas a estimativa atinge outro superlativo. Escolhi o  adjetivo “estratosférico” para destacar os  21 BILHÕES de reais necessários.

Lino também foi nosso guia na trilha do Bracinho.

Ganha um doce quem disser quando, e como, o governo disponibilizará verba deste tamanho para um assunto que não tem o ‘clamor das ruas’ como este.

Vontade de nadar?

O Grupo Boticário é diferente

A conclusão que eu tiro da visita é a seguinte: hoje grande parte das empresas anunciantes, cientes das preocupações dos formadores de opinião, querem nos passar a imagem de estar ao lado da preservação, da “sustentabilidade”.

Dos hotéis que nos induzem a não usar toalhas novas para economizar água, passando por hotéis eco-isto, eco-aquilo, e até grandes empresas e bancos. Algumas falam mas não fazem. Outras falam muito e fazem pouco.

O Grupo Boticário, não. É diferente: fala pouco e faz muito, principalmente por meio da manutenção, há 23 anos, de sua Fundação de Proteção à Natureza.

Ainda estou na região sul desta nova expedição. Faltam as regiões sudeste, nordeste e norte. Entretanto já colhi diversos depoimentos de pesquisadores que só começaram seus trabalhos graças ao apoio financeiro da Fundação.

Sim, além de manter duas RPPNs, a Fundação Grupo Boticário tem um programa de financiamento de pesquisas ambientais. É um exemplo que deve ser seguido.

Se todas as empresas deste porte fizerem o mesmo é bem possível que muito mais que apenas 1,5% de nossa zona costeira, e águas territoriais, estivessem protegidas.

Oxalá a série da TV, e este site, contribuam para que a moda pegue.

SERVIÇOS

A RPPN Salto Morato está aberta à visitação pública de terça a domingo, das 8h30 até 17h30. Ingressos: sete reais.

CAMPING: diárias a 10,00 reais por pessoa. É necessário reservar com antecedência por telefone ou e mail.

CONTATO : morato@fundacaogrupoboticario.org.br

Telefone: (41) 3375 9671 ou 9727 0712

Assista ao programa da RPPN Salto Morato

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