Robô subaquático autônomo parte na primeira circum-navegação da Terra
Pouco mais de 500 anos depois da primeira circum-navegação do globo, feita pelo nauta lusitano Fernão de Magalhães, um robô subaquático autônomo iniciou a primeira volta ao mundo — mais uma prova de quanto a tecnologia evoluiu nesses cinco séculos.

Segundo o site IFLScience, na manhã de 10 de outubro, a equipe da Woods Hole Oceanographic Institution, em Massachusetts, lançou o submarino autônomo batizado de Redwing.
Planando entre as correntes marinhas para estudar os oceanos
O Redwing coletará dados contínuos sobre salinidade, profundidade e temperatura, construindo o que os cientistas descrevem como uma “visão tridimensional do oceano”. Essas informações podem aprimorar as previsões de formação de furacões, revelar como as mudanças climáticas estão remodelando os sistemas oceânicos e oferecer pistas sobre a saúde dos ecossistemas marinhos.
A novidade é que ao contrário dos submarinos tradicionais, o Redwing não depende totalmente de hélices ou motores. Em vez disso, ele desliza pela água usando a gravidade e a flutuabilidade, “surfando” nas correntes oceânicas em vez de resistir a elas. Ao ajustar sutilmente sua flutuabilidade, o planador avança em mergulhos e subidas lentas e graciosas.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaMas, se for preciso, ele poderá usar um sistema de propulsão dupla, incluindo uma hélice, para ajudá-lo a atravessar correntes fortes quando necessário. A energia vem de baterias de lítio que alimentam todos os sistemas do planador submarino.
Missão Sentinela: uma expedição de cinco anos do robô subaquático autônomo
A Oceanographic Magazine saudou a novidade como ‘um salto histórico para a tecnologia marinha e o monitoramento global dos oceanos’. E arrematou: ‘a viagem de 73.000 quilômetros promete transformar nossa compreensão dos oceanos’.
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A mesma fonte explicou o motivo do nome ‘Redwing‘. Redwing – abreviação de Research & Education Doug Webb Inter-National Glider – presta homenagem ao célebre engenheiro Doug Webb, cujo trabalho pioneiro em veículos oceânicos autônomos lançou as bases para esta missão. Webb, que faleceu em 2024 aos 94 anos, imaginou pela primeira vez o potencial para planadores oceânicos de longo alcance décadas atrás.
O robô subaquático autônomo irá à superfície a cada oito a 12 horas para transmitir dados via satélite, retransmitindo um fluxo constante de informações sobre a temperatura, salinidade, densidade, fluxo de corrente e atividade biológica do oceano para a rede de monitoramento global da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA).
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O roteiro da viagem
A jornada da Redwing começa na poderosa Corrente do Golfo, com sua primeira grande parada em Gran Canaria, na costa do noroeste da África. De lá, o planador navegará para a Cidade do Cabo, atravessará o Oceano Índico até Perth, depois continuará para Wellington, Nova Zelândia.
A perna mais longa e desafiadora verá o robô subaquático autônomo atravessar a turbulenta corrente circumpolar da Antártida a caminho das Ilhas Malvinas. Paradas opcionais no Brasil e no Caribe estão planejadas antes de seu retorno ao Cabo Cod.
Shea Quinn, líder do projeto para a Missão Sentinel e o Gerente de Linha de Produto do Slocum Glider na Teledyne, declarou: ‘À medida que nos movemos através de diferentes camadas oceânicas – cada uma fluindo em direções distintas – estaremos medindo gradientes de temperatura, salinidade e até sinais acústicos de animais marinhos marcados’.
Segundo a OM, a Missão Sentinel é um empreendimento internacional, com parceiros e apoio de instituições na Espanha, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Brasil, Reino Unido e EUA. Uma equipe de mais de 50 estudantes da Universidade Rutgers, trabalhando através do Centro de Liderança de Observação Oceânica (COOL), desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do software de navegação do planador. A equipe continuará a monitorar seu progresso em tempo real a partir de um centro de controle de missão compartilhada.
Para a Oceanographic Magazine, a Missão Sentinela é mais do que apenas um marco técnico. À medida que a mudança climática acelera, o monitoramento sustentado dos oceanos não é mais opcional. Missões como essa desempenharão um papel essencial na compreensão dos ambientes mais dinâmicos e menos explorados da Terra.
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