Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, Santa Catarina
Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, Santa Catarina: Reserva Marinha, ou “Rebio marinha,” para os íntimos, é uma das 12 categorias de Unidades de Conservação do Brasil. De acordo com o ICMBio a “Rebio” faz parte do grupo das Unidades de Conservação de “proteção integral”, ou seja, o grupo mais restritivo. ” Nelas, como regra, só se admite o uso indireto dos recursos naturais. Isto é, aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição, com exceção dos casos previstos na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).”
OPINIÃO DESTE SITE
O cidadão comum não pode sequer visitar este tipo de Unidade de Conservação. Considero isso uma aberração. Na opinião deste site, se a área tem valor em termos de biodiversidade, a primeira coisa que deveria acontecer é sua abertura aos brasileiros para que conheçam, entendam, admirem e aprendam a defendê-la e preservá-la.
Características:
Nome: Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, Santa Catarina
Bioma : Marinho Costeiro.
Criação: 12 de março de 1990.
Localização: litoral de Florianópolis.
Área: 11,104,47 hectares.
Tipo: Proteção Integral.
Objetivo: “preservar a natureza, livrando-a, o quanto possível, da interferência humana”.
Plano de Manejo: a unidade tem Plano de Manejo
Ameaças : (opinião do site) continuar como área fechada, uma Rebio, impedindo que os donos dela a conheçam, e entendam sua importância. Defendemos que esta UC se torne Parque Nacional Marinho e, como tal, seja aberta ao público.
Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, Santa Catarina: Caderno de anotações
A Reserva Biológica Marinha do Arvoredo é uma das 59 Unidades de Conservação Federais da zona costeira, objetivo da série de documentários Mar Sem Fim – Revisitando a Costa Brasileira. O arquipélago é formado pelas ilhas do Arvoredo, das Galés, Deserta e pelo calhau de São Pedro. A seguir o mapa de localização:
De todo o arquipélago a única parte que não faz parte da reserva é o costão Nordeste da ilha do Arvoredo.
Organizando nossa viagem para a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo
Em março, consegui finalmente organizar nossa visita para as filmagens e entrevistas que pretendíamos fazer. Não é fácil juntar tempo bom, licenças obtidas junto ao ICMBio (em razão de sermos jornalistas é dada a autorização) e conciliar as agendas, minha, do cinegrafista, e do chefe da Rebio, Ricardo Castelli. Mas, conseguimos. Aproveitei para convidar dois amigos que participaram conosco: a fotógrafa de Santa Catarina, Valéria Lages, e o ambientalista José Truda Palazzo Jr. do Rio Grande do Sul.
Truda, como é mais conhecido, é um dos ambientalistas que mais respeito. Extremamente bem preparado, idealizador da APA da Baleia Franca, localizada ao Sul de Florianópolis, ele nunca foi funcionário público. Por sua reconhecida competência foi convidado pelo governo para representar o Brasil em fóruns internacionais que cuidam de políticas sobre as baleias.
Tempo bom
O tempo estava magnífico, o que é essencial para programas de TV onde a beleza das imagens é o atrativo principal que “segura a audiência”, permitindo que, de forma lúdica, eu possa chamar a atenção do público para a importância do espaço marinho. E dos serviços ambientais que o oceano presta à humanidade.
Oceanos e a vida no planeta Terra
Curioso, os oceanos são o mais importante ecossistema do planeta. Não fossem eles e não haveria vida. Nossos rios seriam secos. E a Terra, apenas mais um planeta a rodar estéril no espaço. Ainda assim, para cada dez matérias publicadas pela imprensa sobre o meio ambiente, sete ou oito são dedicadas ao meio ambiente terrestre. Uma vez ou outra, uma é dedicada aos mares.
O chefe da UC
Ricardo Castelli, o chefe da Rebio do Arvoredo, deixou uma ótima impressão. Bem preparado, dedicado, ele nos orientou durante todos os dias, mostrando cada detalhe das ilhas, e contando a história da criação desta Unidade de Conservação.
O destrambelhado governo Dilma
O Governo Dilma passou seu primeiro mandato apagando incêndios, respondendo a acusações de corrupção, correndo atrás do rabo ou protegendo patéticos ditadores como Chaves, e Maduro, da Venezuela. Não criou nenhuma nova área de proteção marinha .
Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, Santa Catarina – errada desde o princípio
Ricardo contou que a Unidade de Conservação já nasceu errada: “foi criada de cima pra baixo”, não houve consulta pública junto aos diversos públicos com interesse na área, entre eles pescadores artesanais, a indústria do turismo, as universidades, a sociedade enfim. Hoje os conflitos são inevitáveis.
Antes do decreto o arquipélago era constantemente visitado por turistas, especialmente para o mergulho, pescadores esportivos, barcos de pesca que se abrigavam quando o tempo virava (Arvoredo tem abrigo para todos os ventos) e pescadores profissionais. De uma hora para outra, sem informação, foram proibidos.
É por este motivo que hoje há uma campanha para recategorizar Arvoredo como parque nacional.
” O ICMBio é a mais perfeita máquina de moer gente boa”
A afirmação, com a qual concordo, foi dita pelo empresário Julio C. Silva, da operadora de mergulho Sea Divers. Em Florianópolis procurei pessoas interessadas em Arvoredo para que dessem seu depoimento.
Júlio foi um deles. Há anos promove o mergulho autônomo no arquipélago. Desde a transformação da área em Unidade de Conservação. luta para que se transforme em Parque Nacional.
Reserva Biológica ou Parque Nacional?
Os Parques são abertos ao público, o ICMBio ‘permite’ que todos possam conhecer qualquer Parque Nacional. No mundo civilizado é assim.
As áreas de grande beleza, ou biodiversidade especial, são patrimônios nacionais abertos ao público. Este pequeno detalhe faz a diferença. E que diferença! Para começar geram renda, milhares de pessoas pagam para desfrutá-los, o que ajuda em sua manutenção e contribui para a educação ambiental, transformando os cidadãos em fiscais, já que são os maiores interessados em sua manutenção.
Falta de investimento nas UCs federais
Falta investimento por parte do Governo Federal, falta pessoal qualificado e equipamentos para a manutenção, fiscalização e invasão por parte de predadores que, percebendo a fraqueza da unidade, entram na área para fazer o que não deveriam: a pesca profissional/industrial, para citar só um exemplo.
O chefe da UC concorda com a mudança
Ricardo concorda com a transformação em parque. Mas é apenas mais uma peça da “engrenagem que mói gente boa”.
Sozinho, ou com pouca gente em sua equipe, não pode fazer muita coisa. Mesmo assim tem planos ambiciosos e dinheiro em caixa para instalar filmadoras em pontos estratégicos de todas as ilhas, movidas a energia solar, que podem ajudar a fiscalização.
Reserva Biológica Marinha do Arvoredo: feudo da Universidade Federal de Santa Catarina
E por que não se muda a categorização da Unidade se a maioria dos ambientalistas, interessados, e até gente do próprio ICMbio concorda que seria melhor? “Aquilo é um feudo da academia”, foi a resposta unânime; neste caso leia-se a Universidade Federal de Santa Catarina, e Univale, Faculdades Integradas do Vale do Ivaí, que pressionam contra a mudança, mantendo o patrimônio, que é de todos, única e exclusivamente para suas pesquisas.
Motivos para a criação da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo
Maiores razões para Arvoredo ter se tornado Unidade de Conservação: a extrema beleza cênica, águas com pouca turbidez (apesar da proximidade da costa) próprias ao mergulho de observação, mata atlântica insular, alta diversidade de ecossistemas (emersos e imersos).
E ainda espécies vegetais e animais ameaçados de extinção; a ocorrência de prováveis espécies novas para a ciência; o único banco de algas calcárias do litoral sul brasileiro, de formação única e no limite sul de distribuição deste tipo de formação; pontos de nidificação, pouso e alimentação de aves marinhas e sítios arqueológicos, entre outros.
Plano de Manejo
A Reserva Biológica Marinha do Arvoredo tem uma vantagem sobre muitas outras UCs federais: ela já tem seu Plano de Manejo de onde foram tiradas as afirmações acima, instrumento raro e essencial (por determinar e normatizar seus múltiplos usos) entre as UCs marinhas do Brasil.
Apesar disto, segundo Ricardo Casteli, o “plano precisa de revisão”. Quando, e como vai acontecer não se sabe…
Provocação
Aproveitei a viagem e o programa para outra ‘provocação’ que pretendo fazer ao longo da série: visitar algumas áreas, ao menos uma por estado costeiro (são 17 ao todo), com os mesmos atributos, portanto, que também merecem ser protegidas pelos governos Federal, Estadual, ou Municipal.
Só não o são por omissão e descaso quanto ao maior patrimônio brasileiro: sua riquíssima biodiversidade.
Baía de Babitonga
De Florianópolis fui para a Baía da Babitonga, ao norte de Santa Catarina. A imensa baía tem atributos de sobra.
Para começar, um dos seis municípios que ficam em suas margens, São Francisco do Sul, é uma das cinco cidades mais antigas do país e guarda ainda um casario colonial de grande beleza e riqueza.
Biodiversidade na Babitonga
Do ponto de vista da biodiversidade a Babitonga abriga 70% do manguezal de Santa Catarina (o restante são pequenos ‘tufos’ bastante degradados na região metropolitana de Florianópolis), considerados um dos grandes berçários de vida marinha e da avifauna.
Suas águas são habitats de botos-cinza, e de Toninhas, um tipo de boto (ameaçado de extinção) que habita o litoral, raramente baías, desde o Espírito santo até a Argentina. Além dos mamíferos marinhos a Babitonga é local de criação do Mero, um tipo de peixe também na lista dos ameaçados de extinção.
Projeto Toninhas
Ali funciona o Projeto Toninhas, chefiado pela abnegada Marta Cremer (só mesmo apaixonados para se dedicarem ao meio ambiente tão relegado no país…) que chegou na Babitonga para estudar os botos-cinza com patrocínio da Fundação O Boticário, uma das poucas empresas que não fazem do meio ambiente apenas marketing, mas financia estudos científicos em várias partes de nosso litoral (e no continente também).
Ao começar sua pesquisa Marta descobriu esta particularidade única de uma baía brasileira: o fato dela abrigar um grupo de Toninhas que vive somente no local. Desde então se dedica ao tema com total empenho.
ONG exemplar
Por sorte a Babitonga conta também como uma ONG exemplar, diversas vezes citada como exemplo na primeira série que fiz para a Cultura- Mar Sem Fim, e no livro que publiquei ao término dela, O Brasil Visto do Mar Sem Fim.
Me refiro à AMECA, uma pequena ONG, pequena e exemplar, que tem em seu currículo a façanha de processar a Petrobrás (que jogava água de formação de petróleo em um dos rios da Ilha – e ganhou a causa!), a prefeitura local (por omissão quanto ao saneamento básico), e conseguiu até mesmo a demolição de casas construídas irregularmente nas praias da área.
Ameca e Projeto Toninhas
A Ameca e o Projeto Toninhas, mais que nossos governantes, sabem da importância da baía – leia “Porto Ameaça santuário de Golfinhos” , e a protegem com ‘unhas e dentes’. A grande ameaça para a Babitonga é a construção de portos. Ela, que já conta com dois deles, tem projetos para mais dois ou três não recomendados pelo IBAMA (antes de se chamar ICMBio). Mas, como o Brasil é o Brasil, se não houver protestos, pressão pública, é bem capaz de serem construídos
SERVIÇOS
A unidade não pode ser visitada, ainda assim é possível mergulhar na face Nordeste da Ilha dos Arvoredos, única parte do arquipélago que não faz parte da UC. Há hotéis e pousadas aos montes em Florianópolis. Quanto às operadoras de mergulho, recomendo a Sea Divers, apesar de existirem diversas outras. Basta uma rápida pesquisa no Google para descobri-las.
Mais informações:
COORDENAÇÃO REGIONAL / VINCULAÇÃO: CR9 – Florianópolis
ENDEREÇO / CIDADE / UF / CEP: Rod Maurício Sirotsky Sobrinho, KM 02, Jurerê Florianópolis/SC – CEP:88.053-700
TELEFONE: (48) 3282-2163/VOIP (61) 3103-9948 (61) 3103-9949
Assista ao documentário produzido durante nossa visita à Reserva Biológica Marinha do Arvoredo