Pinguins-rei, quase 900 mil desapareceram sem deixar rastro
Em 2018, o Mar Sem Fim já alertava que a vida de 1,1 milhão de casais de pinguins-rei estava em risco. Na época os cientistas afirmavam que a espécie, típica das regiões próximas à Antártica, era obrigada a se deslocar milhares de quilômetros a mais para conseguir alimento. Distanciando-se, assim, das áreas de reprodução, e colocando em risco a vida nas longas e cada vez mais exaustivas jornadas em busca de alimentos. Além da vida dos filhotes mais expostos a predadores. O alerta dos cientistas, em 2018, foi: ou eles se realocam em outras regiões ou cerca de 70% dos pinguins-rei vão desaparecer. Dois anos depois, a trágica constatação: quase 900 mil pinguins-rei desapareceram sem deixar rastros.
A falta de alimentos em áreas mais próximas aos habitats da ave é atribuída pelos cientistas ao aquecimento global. Fenômeno que vem elevando as temperaturas dos oceanos paulatinamente há muitos anos. O que faz com que muitas espécies migrem para águas mais geladas. A finalidade é fugir dos efeitos das mudanças climáticas, como também já mostramos.
Expedição constata: pinguins-rei desapareceram
O estudo que constatou que os pinguins-rei desapareceram foi realizado pela maior instituição pública de pesquisa da França, o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Os cientistas fizeram uma expedição no final do ano para o arquipélago subantártico de Crozet. Ele fica entre Madagáscar e a Antártica. Faz parte das áreas austrais e antárticas administradas pela França.
A expedição começou a ser organizada ainda em 2017, quando os pesquisadores observaram em imagens de satélite que só havia praticamente rochas na vulcânica Île aux Cochons. “Tivemos que ver por nós mesmos”, disse o ecologista Charles Bost, do CNRS, à revista Science. A ilha faz parte do arquipélago e era lotada por casais de pinguins-rei e seus filhotes.
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Maior colônia de pinguins-rei encolhe 90%
Segundo estimativas, Île aux Cochons era o lar de ao menos 500 mil casais de pinguins-rei. Os pesquisadores afirmam que era a maior colônia da espécie no mundo. E a segunda maior de “qualquer uma das 18 espécies de pinguins” existentes. Mas, na ilha, encontraram vastas áreas vazias, onde antes viviam as milhares de aves. A colônia encolheu aproximadamente 90%. “Foi realmente incrível, completamente inesperado”, disse Henri Weimerskirch, cientista da agência francesa de pesquisa.
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Cientistas descartam ataques de predadores
Mas os pesquisadores descartaram a hipótese de ataques de predadores ao examinar filhotes adultos vivos. Bem como ossos e penas desenterrados. Verificaram que não havia marcas de mordidas, entre outras evidências de ataques.
Montaram armadilhas também e câmeras para gravações noturnas, que não constataram ataques desses animais. Até coelhos, antes comuns na ilha, desapareceram. Os predadores, eles acreditam, não tiveram um papel importante nesse desaparecimento em massa.
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Geleiras do Alasca perdem 50 mil galões de água por segundoSexo entre pinguins continua a escandalizar até hojeMudanças climáticas: Ameaças de tsunami podem mudar as tendências de navegação no AlascaTambém não encontraram evidências de erupções vulcânicas. Além disso, uma colônia com estimados 17.000 pinguins ainda permanece no lugar.
“O que matou os pinguins-rei?”, questiona cientista
Outra explicação seria a mudança dos quase 900 mil pinguins-rei para outra região. Os pesquisadores, contudo, não acreditam muito nessa alternativa. A espécie costuma ser fiel aos locais de nascimento e reprodução. Bost disse que “que não há indicação óbvia de que a colônia se mudou para outra ilha”. “Se os pinguins não estão aqui, então eles morreram. Mas, o que os matou?”
A equipe de cientistas não acredita que seja doença, embora ainda não tenham os resultados das análises de sangue de pinguins-rei que vivem na ilha.
“Nós pensamos em ver carniça, indivíduos em más condições. Mas os pássaros pareciam saudáveis”, disse o biólogo Adrien Chaigne.
Mudanças no oceano podem ser a resposta
Os cientistas “suspeitam que as mudanças no oceano circundante forçam os pinguins a nadar mais longe para encontrar comida”
“Estudos de outras colônias de pinguins-rei sugerem que as aves de Île aux Cochons normalmente nadam em direção a uma característica oceânica centenas de quilômetros ao sul, conhecida como frente polar ou convergência antártica”. É uma região de águas mais frias da Antártica e os pinguins são atraídos pelas muitas criaturas marinhas que ali vivem e servem como alimento.
Durante alguns anos, “anomalias climáticas, como El Niño fazem com que as águas oceânicas da região aqueçam, e a frente polar muda para o sul, mais perto do polo e mais longe de Île aux Cochons”.
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Oceano pode esquentar ainda mais
Durante as viagens mais longas, a fome pode ter forçado os pais que ficaram na colônia a deixar o ninho para se alimentar – “deixando os filhotes vulneráveis a predadores ou à fome”. Os casais de pinguins-rei costumam dividir as tarefas. Enquanto um viaja em busca de alimentos, o parceiro fica para chocar os ovos e cuidar dos filhotes. As viagens mais longas também podem tornar os pinguins mais vulneráveis ao estresse e à predação.
“Outra possibilidade é que a colônia apenas cresceu extraordinariamente durante algumas décadas abundantes e depois caiu quando as condições se tornaram mais atípicas.”
Para acompanhar o que está acontecendo com os pinguins-rei restantes na ilha, os cientistas colocaram dispositivos de rastreamento em dez aves. “Cinco ainda estão transmitindo e podem continuar a fornecer dados até o início de 2021, mas já oferecem algumas surpresas: mostram que alguns dos pinguins foram para o norte – e não para o sul – da ilha” em busca de alimento.
Pinguins-rei: ainda não há risco de extinção
“Isso pode significar que os pássaros estão caçando em uma borda térmica diferente, conhecida como frente subantártica. ‘É claro que é um pequeno tamanho de amostra’, diz Weimerskirch, ‘mas é muito interessante’.
Segundo os pesquisadores, com 3,2 milhões de aves na região antártica, a população de pinguins-rei não corre perigo imediato de extinção. “Os números se recuperaram, depois de séculos de caça humana. Por outro lado, metade das espécies de pinguins do mundo está ameaçada.” Fato que o Mar Sem Fim também vem mostrando, como a queda de 60% em algumas colônias de pinguins de barbicha na Antártica.
Imagem de abertura: Junko Kimura